01 Dezembro 2015
Antes que Francisco entrasse para as ovações dos 20 mil cristãos que lotam o estádio, levantou-se um aplauso também para a entrada do imã Tidiani Moussa Naib, que, nesse domingo, estava presente na igreja na abertura da Porta Santa e, algumas horas antes, acolheu o papa na mesquita do "Km 5", o bairro em que a "linha vermelha" traça a fronteira invisível além da qual corre-se o risco de ser morto.
A reportagem é de Gian Guido Vecchi, publicada no jornal Corriere della Sera, 30-11-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O último dia de Francisco na África Central é uma imagem suspensa entre os carros blindados da ONU, os capacetes azuis por toda a parte, os franco-atiradores em cima dos telhados dos edifícios em ruínas ao redor e as palavras de Francisco perante "os responsáveis e crentes muçulmanos" na mesquita Kaudoukou: "Entre cristãos e muçulmanos, somos irmãos. Portanto, devemos nos considerar como tais, comportamo-nos como tais. Sabemos muito bem que os últimos acontecimentos e as violências que abalaram o país de vocês não estavam fundados em motivos propriamente religiosos. Quem diz acreditar em Deus também deve ser um homem ou uma mulher de paz. Cristãos, muçulmanos e membros das religiões tradicionais viveram pacificamente juntos por muitos anos. Portanto, devemos permanecer unidos para que cesse toda ação que, de um lado e de outro, desfigura o Rosto de Deus e, no fundo, tem o objetivo de defender com todos os meios interesses particular, em detrimento do bem comum. Juntos, digamos não ao ódio, não à vingança, não à violência, particularmente àquela que é perpetrada em nome de uma religião ou de Deus. Deus é a paz, Deus salam".
Com cinco imãs
Bergoglio foi acompanhado por cinco imãs ao pódio às margens da área reservada para a oração. Nestes "tempos dramáticos", disse, "os responsáveis religiosos cristãos e muçulmanos quiserem levantar-se à altura dos desafios do momento", porque "desempenharam um papel importante para restabelecer a harmonia e a fraternidade entre todos: eu gostaria de lhes assegurar a minha gratidão e a minha estima".
O papa recordou também "os tantos gestos de solidariedade que cristãos e muçulmanos tiveram em relação aos seus compatriotas de outra confissão religiosa, acolhendo-os e defendendo-os durante esta última crise no país de vocês, mas também em outras partes do mundo".
Não há apenas ódio. O país se encaminha para as eleições, e "só podemos desejar que as próximas consultas nacionais deem responsáveis que saibam unir os centro-africanos e, assim, tornem-se símbolos da unidade da nação, em vez de representantes de uma facção", considerou o pontífice.
"Eu encorajo fortemente a que vocês façam do seu país uma casa acolhedora para todos os seus filhos, sem distinção de etnia, de pertencimento político ou de confissão religiosa."
Assim, este país "no coração da África", há quase três anos em guerra civil, "poderá dar um impulso a todo o continente, graças à colaboração de todos os seus filhos". E "ajudar a apagar os focos de tensão que estão presentes e que impedem os africanos de se beneficiarem daquele desenvolvimento que merecem e ao qual têm direito", concluiu Francisco na mesquita.
"Convido vocês a rezarem e a trabalharem pela reconciliação, pela fraternidade e pela solidariedade entre todos, sem esquecer as pessoas que mais sofreram com esses acontecimentos."
No fim, o papa e o imã se detiveram em silêncio diante do Mihrab que, nas mesquitas, indica a direção de Meca, cada um em oração.
"Passar para a outra margem", diz o lema evangélico da viagem à África Central. Na homilia da missa, Francisco explicou: "Todo batizado deve continuamente romper com aquilo que ainda há nele do homem velho, do homem pecador, sempre pronto para despertar ao chamado do demônio – e daquilo que atua no nosso mundo e nestes tempos de conflito, de ódio e de guerra – para conduzi-lo ao egoísmo, a se encurvar sobre si mesmo e à desconfiança, à violência e ao instinto de destruição, à vingança, ao abandono e à exploração dos mais fracos".
Cantos e danças acompanharam a celebração, mas as palavras do papa – traduzidas por um intérprete – foram seguidas por um silêncio perfeito: "Que o Ano Jubilar da Misericórdia, recém-iniciado no país de vocês, seja a ocasião para isso. E vocês, queridos centro-africanos, devem principalmente olhar para o futuro e, fortalecidos pelo caminho já percorrido, decidir resolutamente dar uma nova etapa na história cristã do seu país, de lançá-lo a novos horizontes, de ir mais ao largo, a águas mais profundas. Devemos estar cheios de esperança e de entusiasmo pelo futuro. A outra margem está ao alcance da mão, e Jesus atravessa o rio conosco".
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Papa na mesquita de Bangui: "Unidos contra a violência em nome de Deus" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU