30 Novembro 2015
"Santidade, use o jipe blindado..." Em vão nos últimos dias, antes da viagem à África, os homens da Gendarmeria Vaticana tentaram convencer Francisco a suavizar a sua conhecida resistência a medidas de segurança mais rígidas. Não sabemos a resposta precisa do pontífice ("Nem penso nisso" é a mais provável). Mas a réplica eloquente fornecida aos gendarmes, os "anjos da guarda" do papa, como são chamados, veio na noite de quarta-feira, quando, tendo desembarcado em uma Nairóbi tomada por uma chuva incessante, Jorge Bergoglio subiu com passo seguro no habitual "papamóvel": aberto dos lados e protegido por um teto simples que – pelo menos – lhe impediu de molhar a cabeça. Tudo isso enquanto o seu porta-voz, padre Lombardi, abria os braços e admitia: "Eu o vi subir no papamóvel debaixo de um dilúvio... e depois não o vi mais".
A reportagem é de Marco Ansaldo, publicada no jornal La Repubblica, 27-11-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O Papa Francisco e a sua idiossincrasia pelas medidas de segurança. A questão está se colocando com mais urgência depois dos atentados do dia 13 de novembro em Paris, à espera da última perigosa etapa desta viagem, na República Centro-Africana devastada pela guerra civil.
Mas, ao se ver o pontífice argentino nas suas viagens ao exterior, nas visitas à Itália, sem falar simplesmente das audiências das quartas-feiras ou nas voltas de "papamóvel" na Praça de São Pedro ou na Via della Conciliazione, a preocupação é forte para aqueles que o protegem.
Porque Francisco é um papa recalcitrante a qualquer nova restrição da ação, especialmente quando ele quer se aproximar dos fiéis. Imagine vestir um colete à prova de balas.
"Se tiver que acontecer – disse, uma vez, fatalista – peço ao Senhor que não me faça sofrer. Não sou corajoso diante da dor."
Na árdua, complexa, fatigante tarefa de defender a figura tem representa desde sempre um dos maiores objetivos do terrorismo internacional (basta lembrar a determinação dos Lobos Cinzentos de Mehmet Ali Agca com João Paulo II), também são 10 nestas etapas entre Quênia, Uganda e África Central os gendarmes que se unem a dois guardas suíços. Os homens, liderados pelo general Domenico Giani, o acompanham por todos os lugares. Em trajes civis, com o fone de ouvido atrás da orelha, as jaquetas forradas com armas não visíveis, eles podem contar com a sua preparação extrema, com o treinamento que faz deles 007 não só fisicamente, mas também na cabeça, e nas conexões que, em cada viagem, estabelecem com a polícia e a segurança local.
Em cada evento do papa, como na África destes dias, ou nos EUA e em Cuba em setembro passado, ou na Coreia e nas Filipinas no ano passado, Giani parte primeiro para o reconhecimento, contata os colegas locais, se informa sobre os movimentos das organizações que podem fornecer ameaças, vasculha fisicamente cada esquina das ruas seguindo o caminho que o papa vai fazer e, depois, volta para Roma para discutir com os seus colaboradores.
Os "anjos" do papa se confiam muito a São Miguel Arcanjo, seu protetor (para eles também há alguém lá em cima), que festejam a cada ano com uma bela cerimônia nos jardins vaticanos. E juram a mesma fórmula (usque ad sanguinis effusionem, ou seja, proteger o Santo Padre até o derramamento do sangue), usada pelos purpurados.
São eles os "alvos móveis", ou seja, as figuras que correm mais riscos. Por um salário que um gendarme de primeira categoria calcula em torno de 2.500 euros. Eles têm ritmos da vida pontuados pelos horários do papa: nestes dias africanos, por exemplo, são os primeiros a acordar e os últimos a ir dormir. Se Francisco costuma se acordar às 4h45, os seus anjos da guarda estão de pé às 4h. E se o pontífice vai para a cama às 21h, eles não vão para debaixo das cobertas antes das 22h. Quase todos provêm dos Carabinieri e da Guarda de Finanças italiana.
Giani, que é o homem constantemente ao lado do pontífice, é uma pessoa com uma centena de olhos. Foi ele quem, na noite de Natal de 2009, saltou sobre a suíça louca que derrubou o Papa Bento XVI na Basílica de São Pedro. No trabalho, ele tem modos necessariamente incisivos com os fiéis que se entretêm durante mais de um selfie com o papa (mas também é incansável em lhe estender, como aconteceu nessa quinta-feira em Nairóbi, as crianças para serem acariciadas).
De perto, ele é uma pessoa de modos requintados e de fortes convicções espirituais. Todos devem sacrificar a família para a enorme tarefa: a proteção do papa, quer seja agora na África, ou em fevereiro no México. "Eu disse para a minha esposa – afirma um deles – que eu também carrego a minha cruz. E que, mais cedo ou mais tarde, eu espero ir para o exterior com ela: mas de férias."
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Assim se protege um papa que rejeita a vida blindada - Instituto Humanitas Unisinos - IHU