Padres sinodais pedem renovação da linguagem da Igreja

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13 Outubro 2015

Há posições diferentes entre os 270 Padres sinodais de todos os continentes presentes no Sínodo sobre a família – isso não é novo –, mas também há consenso sobretudo em um ponto: que a Igreja deve renovar a sua linguagem.

A reportagem é de Elisabetta Piqué, publicada no jornal La Nación, 10-10-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Isso, ao menos, é o que se deduz a partir da leitura dos relatórios que foram apresentados nessa sexta-feira pelos círculos menores, os 13 grupos linguísticos de bispos, que, nos últimos dias, puseram sob a lupa a introdução e a primeira parte do Instrumentum laboris, o documento de trabalho do Sínodo. O Vaticano divulgou os textos dos 13 relatórios: três elaborados por bispos francófonos, quatro por anglófonos, três por italianos, dois por hispânicos e outro por um grupo alemão.

A maioria dos relatórios chamou a atenção pelas suas críticas ao Instrumentum laboris, um texto tachado por alguns de "confuso" e até de "caótico", que, na sua primeira parte, apresenta a família de forma bastante negativa, atacada por problemas, sem ressaltar a sua beleza e sem enviar uma mensagem mais positiva e inspiradora. Embora todos os grupos tenham apresentado dezenas de novos "modos", alguns até pediram para reescrever diretamente uma nova introdução no documento final, que deverá ser votado no fim das três semanas de debate e apresentado ao papa.

"É necessário que o nosso texto adote um tom aberto que favoreça o diálogo com os nossos contemporâneos", escreveu um grupo francês. "A linguagem do documento final deveria ser uma linguagem mais simples, acessível às famílias, que mostre que os Padres sinodais escutaram as suas contribuições e comentários durante o processo sinodal", observou um grupo anglófono.

"Como no Concílio Vaticano II, este Sínodo precisa ser um evento de linguagem, que seja mais do que cosmético. Precisamos falar do matrimônio e da família em novas formas", indicou outro grupo. Um dos dois grupos hispânicos destacou a necessidade de que haja "uma linguagem de esperança, a Igreja do sim".

"É preciso uma linguagem mais simples, que inspire, alinhada com a utilizada pelo papa", disse o arcebispo Joseph Kurtz, presidente da Conferência Episcopal dos Estados Unidos e relator de um dos grupos anglófonos. Em uma coletiva de imprensa, exaltou-se a "grande liberdade" que houve nas discussões em grupo, marcadas também pela diversidade dos seus membros, provenientes dos cinco continentes.

"Há uma linguagem da Igreja que muitas vezes não se conecta com os jovens", reconheceu o cardeal filipino Luis Antonio Tagle, também presente na coletiva de imprensa. O arcebispo de Manila e presidente da Cáritas Internacional, destacou que não devem surpreender as críticas ao Instrumentum laboris, porque ele é apenas um documento de trabalho. "Pela sua própria natureza, o Instrumentum laboris é um documento 'mártir', que pode ser modificado."

Nos relatórios, muitos também concordaram que o texto tinha uma perspectiva muito ocidental e europeia, razão pela qual pediram mudanças nesse sentido. Foi interessante notar que, nas "articuladas discussões" internas, um grupo de língua inglesa confessou ter se complicado nada menos do que no significado da palavra "família".

Embora um grupo italiano tenha escrito que "se sente a necessidade de reiterar que a Igreja tem uma visão positiva sobre a sexualidade", nenhum dos 13 relatórios mencionou a homossexualidade. Trata-se de uma questão polêmica que, de todos os modos, será debatido na última semana.

Por fim, surpreendeu a dura autocrítica feita por um grupo hispânico, cujo moderador é o cardeal hondurenho Óscar Rodríguez Maradiaga e que está composto por dois argentinos: o arcebispo Víctor Manuel Fernández, reitor da Universidade Católica Argentina, e o cardeal Mario Poli, arcebispo de Buenos Aires. Ao assinalar "o desafio da renovação da própria Igreja", o grupo admitiu: "Fracassamos na formação cristã e na educação da fé, e se chega ao casamento com muitas lacunas".

E foi mais longe: "Deveríamos nos perguntar: o que deixamos de fazer?". Depois, reconheceu: "Também somos culpados pela situação da família, já que, em muitas ocasiões, vivemos 'de renda'".