Por: André | 28 Setembro 2015
“Como podemos encontrar Deus que vive conosco no meio da poluição das nossas cidades? Como podemos encontrar-nos com Jesus vivo e operante no hoje das nossas cidades multiculturais?” No coração de Nova York, no Madison Square Garden, o Papa Francisco pela primeira vez parte do profeta Isaías nos Estados Unidos (“O povo que caminhava nas trevas viu uma grande luz”), parte da sua experiência como pastor de Buenos Aires para interrogar os fiéis estadunidenses, destacando, em espanhol, que as metrópoles recordam “a riqueza escondida no nosso mundo: a variedade de culturas, tradições e histórias. A variedade de línguas, roupas, comida”.
A reportagem é de Iacopo Scaramuzzi e publicada por Vatican Insider, 26-09-2015. A tradução é de André Langer.
E prosseguiu: “As grandes cidades tornam-se pólos que parecem apresentar a pluralidade das formas que nós, seres humanos, encontramos para responder ao sentido da vida nas circunstâncias em que nos encontramos. Por sua vez, as grandes cidades escondem o rosto de muitos que parecem não ter cidadania ou ser cidadãos de segunda categoria. Nas grandes cidades, sob o barulho do tráfego, sob o ‘ritmo das mudanças’, permanecem silenciadas as vozes de tantos rostos que não têm ‘direito’ à cidadania, não têm direito a fazer parte da cidade – os estrangeiros, seus filhos (e não só) que não conseguem a escolaridade, as pessoas privadas de assistência médica, os sem-teto, os idosos sozinhos –, postos à margem das nossas ruas, nos nossos passeios, num anonimato ensurdecedor”.
Jorge Mario Bergoglio chegou ao estádio de Nova York, que tem capacidade para 20 mil pessoas, após ter atravessado o Central Park, em Manhattan, onde saudou dezenas de milhares de pessoas a bordo do papamóvel. Um pouco antes do programado, saudou os presentes no Madison Square Garden, dando duas voltas entre os fiéis a bordo de um carro elétrico. Parou para saudar em especial algumas crianças doentes.
“Estamos no Madison Square Garden, lugar emblemático desta cidade, sede de importantes encontros esportivos, artísticos, musicais, que congregam pessoas de diferentes partes, não apenas desta cidade, mas do mundo inteiro”, disse o Papa, que começou a missa com uma oração em inglês, mas continuou com a homilia em sua língua materna. “Neste lugar – continuou – que representa as diferentes faces da vida dos cidadãos que se reúnem por interesses comuns, ouvimos: ‘O povo que caminhava nas trevas viu uma grande luz’ (Is 9, 1). O povo que caminhava, o povo no meio das suas atividades, das suas ocupações diárias; o povo que caminhava carregando seus sucessos e seus erros, seus medos e suas oportunidades. Esse povo viu uma grande luz. O povo que caminhava com as suas alegrias e esperanças, com as suas decepções e amarguras, esse povo viu uma grande luz”. E agora, nas grandes cidades contemporâneas, “com o profeta, podemos dizer: o povo que caminha, respira, vive no meio da poluição, viu uma grande luz, experimentou um ar de vida”, explicou Francisco entre os aplausos dos fiéis.
“Viver numa cidade – prosseguiu o Papa Bergoglio – é algo bastante complexo: um contexto multicultural, com grandes desafios não fáceis de resolver. As grandes cidades recordam-nos a riqueza escondida no nosso mundo: a variedade de culturas, tradições e histórias. A variedade de línguas, roupas, alimentação. As grandes cidades tornam-se pólos que parecem apresentar a pluralidade das formas que nós, seres humanos, encontramos para responder ao sentido da vida nas circunstâncias em que nos encontramos. Por sua vez, as grandes cidades escondem o rosto de muitos que parecem não ter cidadania ou ser cidadãos de segunda categoria. Nas grandes cidades, sob o barulho do tráfego, sob o ‘ritmo das mudanças’, permanecem silenciadas as vozes de tantos rostos que não têm ‘direito’ à cidadania, não têm direito a fazer parte da cidade – os estrangeiros, seus filhos (e não só) que não conseguem a escolaridade, as pessoas privadas de assistência médica, os sem-abrigo, os idosos sozinhos –, postos à margem das nossas ruas, nos nossos passeios, em um anonimato ensurdecedor. E passam a fazer parte de uma paisagem urbana que lentamente se torna natural aos nossos olhos e, especialmente, no nosso coração”.
E disse: “Saber que Jesus continua a percorrer as nossas ruas, misturando-Se vitalmente com o seu povo, envolvendo-Se e envolvendo as pessoas em uma única história de salvação, enche-nos de esperança, uma esperança que nos liberta daquela força que nos impele a isolar-nos, a ignorar a vida dos outros, a vida da nossa cidade. Uma esperança que nos liberta de ‘conexões vazias, das análises abstratas ou da necessidade de sensações fortes. Uma esperança que não tem medo de se inserir, agindo como fermento, nos lugares onde nos toca viver e agir. Uma esperança que nos chama a entrever, no meio da poluição, a presença de Deus que continua a caminhar na nossa cidade. Porque Deus está na cidade. Como é esta luz que passa pelas nossas ruas? Como podemos encontrar Deus que vive conosco no meio da poluição das nossas cidades? Como podemos encontrar-nos com Jesus vivo e operante no hoje das nossas cidades multiculturais?”
A resposta, segundo o Papa Francisco, é dada pelo próprio profeta Isaías, quando define Jesus como “Conselheiro admirável, Deus forte, Pai eterno, Príncipe da Paz”. O Papa esmiuçou uma a uma estas imagens. “Conselheiro admirável” – Jesus impulsiona os “seus discípulos para partirem, saírem. Impele-os a ir ao encontro dos outros, onde realmente estão e não onde gostaríamos que estivessem. Ide uma, duas, três vezes, ide sem medo, ide sem repugnância, ide e anunciai esta alegria que é para todo o povo”.
“Deus forte” – “o Deus-conosco, o Deus que caminha ao nosso lado, que Se misturou com as nossas coisas, com as nossas casas, com as nossas ‘panelas’, como gostava de dizer Santa Teresa de Jesus”.
“Pai eterno” – “Ide e anunciai, ide e vivei mostrando que Deus está no meio de vocês como um Pai misericordioso que sai cada manhã e cada tarde para ver se o seu filho regressa a casa e, logo que o avista, corre para abraçá-lo. Isso é bonito. Um abraço que quer acolher, quer purificar e elevar a dignidade dos seus filhos” (explicou o Pontífice entre os aplausos dos fiéis).
“Príncipe da Paz” – o Deus que “caminha ao nosso lado, liberta-nos do anonimato, de uma vida sem rostos, uma vida vazia, e introduz-nos na escola do encontro. Liberta-nos da guerra da competição, da auto-referencialidade, para nos abrirmos ao caminho da paz. Aquela paz que nasce do reconhecimento do outro, aquela paz que surge no coração ao ver, de modo especial o mais necessitado, como um irmão”.
Deus, concluiu Francisco, “vive nas nossas cidades, a Igreja vive nas nossas cidades. E Deus e a Igreja querem ser fermento na massa, querem misturar-se com todos, acompanhando a todos”. E nós, disse entre aplausos, “somos suas testemunhas”.
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Papa Francisco: como encontrar a Deus inclusive no meio da poluição das cidades - Instituto Humanitas Unisinos - IHU