25 Setembro 2015
Metade dos Estados Unidos esperava com trepidação e com fervor a visita de Francisco. Mas metade dos Estados Unidos olha para esse papa com desconfiança e até com hostilidade: "pauperista" demais, "anticapitalista" demais, "verde" demais e até mesmo tolerante demais para com os homossexuais e as famílias não tradicionais.
A reportagem é de Giampiero Gramaglia, publicada no jornal Il Fatto Quotidiano, 24-09-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Na verdade, quem o olha com suspeita também são os nativos americanos, que outrora nós chamávamos de "peles-vermelhas", exceto pelo fato de que, entre os século XVII e XVIII, gerações de missionários, com o ar combativo do padre Junípero Serra, além de convertê-los, também os dizimaram.
Certamente, aqueles que continuam sendo os seus descendentes, não muitos nem mesmo muito bem posicionados na sociedade norte-americana, não apreciaram exatamente o fato de que, ontem, Bergoglio, no Santuário Nacional da Imaculada Conceição, presidiu a missa de canonização do padre Junípero, um franciscano espanhol que, junto com outros coirmãos, chegou à América para evangelizar as populações indígenas da Califórnia.
Os nativos americanos do movimento Mexica contestam a escolha de elevá-lo aos altares, considerando-o um homem de modos duros e inflexíveis, "que subjugou as populações indígenas".
Entre os norte-americanos mais em sintonia com Francisco, certamente está o presidente Obama, que, na terça-feira, foi esperá-lo com a esposa, Michelle, debaixo da escada do avião, na base de Andrews, de onde parte o Air Force One, e que, ontem, o acolheu no gramado da Casa Branca, antes do Salão Oval: imigração, clima, inclinação ao diálogo, também abertura aos homossexuais (que o presidente leva mais além do que o papa) são todos pontos de forte contato entre os dois líderes.
Em vez disso, Bergoglio pode sentir algumas reservas entre os católicos dos EUA, pouco mais de 30 milhões, cerca de um décimo da população, que muitas vezes são conservadores e tradicionalistas no plano religioso e social. Assim como Francisco não agrada aos fundamentalistas cristãos do "cinturão da Bíblia", a meia-lua de Estados que, das duas Carolinas, desce ao Texas e sobe de volta para as Montanhas Rochosas.
E o papa também pode ter captado algumas reticências na Catedral de São Mateus Apóstolo, aonde chegou diretamente da Casa Branca, não escapando da curiosidade e do afeto da multidão, apesar das ansiedades dos serviços de segurança: lá, havia os cerca de 400 bispos norte-americanos, aos quais se dirigiu em italiano, depois de usar o inglês, que praticou muito no verão europeu.
Sem nunca citar explicitamente a chaga da pedofilia, que tem causado muitas feridas na Igreja norte-americana, mas consciente de ter à sua frente muitos protagonistas de uma temporada ao menos de silêncios e de conivências, Bergoglio disse: "Sei o quanto pesou em vocês a ferida dos últimos anos. E acompanhei o seu generoso empenho para curar as vítimas, consciente de que, ao curar, também somos sempre curados, e para continuar a trabalhar para que tais crimes não se repitam nunca mais".
Impossível não entender. E Francisco acrescentou: "Estou consciente da coragem com que vocês enfrentaram momentos obscuros do seu percurso eclesial, sem temer autocríticas nem economizar humilhações e sacrifícios, sem ceder ao medo de se despojar daquilo que é secundário a fim de readquirir a autoridade e a confiança exigida aos ministros de Cristo, como deseja alma do seu povo".
O papa pôde medir as desconfianças políticas hoje, quando falou ao Congresso. Bergoglio se apresenta aos norte-americanos como filho de imigrantes, assim como todos o são. Sobre esses temas, Francisco vai se sentir mais apoiado ao falar na Assembleia Geral das Nações Unidas.
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Como ''homem da esperança'', o ultimato de Francisco aos padres pedófilos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU