22 Setembro 2015
Dom John Clayton Nienstedt, titular da diocese de Saint Paul e Minneapolis, é o último arcebispo que deixou o cargo por ser incapaz de proteger as crianças de um sacerdote acusado de pedofilia e depois condenado. O nome de Nienstedt se insere em uma longa lista de erros e horrores. O Vaticano teme que a lista seja em breve atualizada.
A reportagem é de Carlo Tecce, publicada no jornal Il Fatto Quotidiano, 21-09-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O Papa Francisco afirmou várias vezes que não existe uma "razão de Igreja": os culpados devem ser punidos e também aqueles que não os pararam. Em junho, Jorge Mario Bergoglio introduziu o crime de abuso de poder para os bispos que acobertaram as investigações dos pedófilos. E aprovou um procedimento que permite que três Congregações vaticanas (que são estruturas de governo) reúnam as denúncias. Para encurtar os tempos entre a investigação e a sanção, Francisco ordenou a constituição de uma nova seção judiciária interna.
Assim, completou-se a estratégia de Bergoglio, que ainda em dezembro passado apresentou a Comissão para a Proteção dos Menores, formada por 17 membros, oito mulheres, nove homens: dez leigos no total, incluindo duas vítimas de sacerdotes pedófilos.
Os efeitos da limpeza de Francisco parecem ser imediatos. Além do prelado de Detroit, o pontífice argentino removeu os arcebispos Robert William Finn (Kansas City), Rivera Plana (Paraguai) e facilitou as investigações no Vaticano de vários prelados australianos. Acusação em comum: acobertamento.
Essa obra de limpeza Bergoglio é eficaz e próspera, porque tem raízes profundas, embora muitas vezes subestimadas, que remontam à época de Joseph Ratzinger. O conclave elegeu Bergoglio no dia 13 de março de 2013. O tema da pedofilia estava no topo das intervenções urgentes dos cardeais, e se tinha muito discutido sobre isso durante as reuniões informais que precederam as reflexões na Capela Sistina sob os afrescos de Michelangelo. Nem mesmo um mês depois da eleição, Bergoglio se encontrou com o cardeal alemão Gerhard Ludwig Müller, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé.
Justamente na praça do Santo Ofício, o teólogo Ratzinger passou 24 anos. Francisco relatou a Müller: "Confirmo a linha desejada por Bento XVI. Atue-se com decisão contra os abusos sexuais". Ratzinger limpou o terreno, depois coube a Bergoglio.
Durante décadas, a Igreja encobriu prelados envolvidos nos escândalos de pedofilia. Mas com a dramática prisão e a laicização de Dom Jozef Wesolowski (que morreu há algumas semanas), o ex-núncio que atraía menores em Santo Domingo, entendeu-se melhor a intenção de Bergoglio: só limpando o mofo de dentro Igreja – sem silenciar a mídia – é que a própria Igreja pode se tornar limpa.
E um papel de primeira importância desempenham os bispos. Bergoglio também escreveu uma carta a todos os presidentes das Conferências Episcopais e a todos os superiores das ordens religiosas justamente para incentivar o controle nas dioceses e para "sanar a chaga dos abusos".
Francisco é o pontífice que pediu perdão pelos abusos sexuais cometidos pelo clero. Um perdão difícil de se obter: "São cicatrizes que permanecem por toda a vida".