31 Julho 2015
Um dos países mais vulneráveis às mudanças climáticas tornou-se um dos primeiros a se mobilizar em responder à encíclica ambiental do Papa Francisco “Laudato Si’ – Sobre o Cuidado da Casa Comum”.
A reportagem é de Brian Roewe, publicada pelo National Catholic Reporter, 25-07-2015. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Em 4 de julho, o Cardeal Luis Tagle, da Arquidiocese de Manila, Filipinas, juntamente com mais de mil sacerdotes, religiosos e líderes leigos, lançou uma campanha para coletar 1 milhão de assinaturas em apoio a uma petição global que será entregue aos líderes mundiais reunidos em Paris no mês de dezembro.
Além disso, os bispos do arquipélago se comprometeram em fazer a frente nos diálogos e nas ações em torno de questões levantadas na encíclica e que poderão surgir nas negociações do clima em Paris.
A petição faz parte de uma campanha iniciada em março pelo Movimento Católico Global pelo Clima. Dois meses depois, vários membros reuniram-se com o papa, que endossou os esforços da organização. Desde a quarta-feira, mais de 31 mil pessoas haviam assinado a petição.
“Essa vai ser uma grande mobilização. Quando os filipinos se comprometem com algo, eles vão até o fim”, disse Lou Arsenio, coordenadora do ministério da ecologia da Arquidiocese de Manila, que está entre as organizações fundadoras do Movimento Católico Global pelo Clima. Lou Arsenio descreveu a crise ecológica como sendo uma questão prioritária para Tagle.
“O Papa Francisco convidou a cada um de nós para empreendermos uma missão no sentido de salvar o planeta, a nossa relação com Deus e a família humana”, declarou Tagle em mensagem no dia de 10 de julho enviada à Caritas Internationalis, organização de ajuda católica que ele preside.
As Filipinas, que compreende mais de 7 mil ilhas, onde 80% dos seus 92 milhões de cidadãos são católicos, são vistas como particularmente suscetíveis às mudanças climáticas, tendo sido classificadas pelo Relatório de Risco Mundial 2014 como o segundo país mais vulnerável a uma catástrofe resultante de eventos climáticos extremos.
Uma análise feita em 2013 pelo Banco Mundial projetava que elevações do nível do mar e das temperaturas do oceano conduzirão a surtos de tempestades intensificadas, particularmente nas ilhas do sul, ameaçando quem vive e trabalha no campo e com a pesca.
Na sua petição, o Movimento Católico Global pelo Clima pede aos negociadores climáticos das Nações Unidas em Paris que tomem medidas “para reduzir drasticamente as emissões de carbono a fim de que o aumento da temperatura global não supere o perigoso nível de 1,5° C” – uma marca mais ambiciosa do que a meta de 2 graus Celsius da ONU – “e que ajudem os mais pobres para que resistam aos impactos da mudança climática”.
A conferência sobre mudança climática da ONU, formalmente conhecida como a 21ª Conferência das Partes, acontecerá entre os dias 30 de novembro e 11 de dezembro em Paris. Aqui, os líderes mundiais deverão finalizar um acordo universal, juridicamente vinculativo entre os países para o combate às mudanças climáticas. Na Etiópia em meados de julho, os países concordaram a respeito de uma estrutura financeira para apoiar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU pós-2015 (entre eles, acabar com a pobreza e combater as alterações climáticas), o que poderá ser adotado em setembro. A Agenda de Ação de Adis Abeba também pede aos países desenvolvidos que se comprometam em garantir anualmente a cifra de 100 bilhões de dólares para o financiamento dos esforços climáticos empreendidos pelos países em desenvolvimento.
Encíclica do papa, disse o arcebispo filipino Socrates Villegasm, da Arquidiocese de Lingayen Dagupan, “antecipa a Conferência de Paris” e exorta os cristãos a se levaram em consideração as preocupações que poderão surgir aqui – questões que estão no centro da justiça social”.
“É um dever cristão preocupar-se com a ecologia e com as mudanças climáticas, como uma consequência direta do conceito moral de ADMINISTRAÇÃO e como uma concomitância da caridade cristã”, disse Villegas em nota na qualidade de presidente da Conferência dos Bispos Católicos das Filipinas.
Villegas acrescentou que “todas as pessoas de boa vontade devem voltar os seus olhos para Paris” e coletivamente fazer de suas questões “um problema e uma preocupação de todos, pois, em verdade, preocupar-se com as mudanças climáticas e seus efeitos deletérios e devastadores (...) é a nossa maneira de atender as necessidades dos menores de nossos irmãos e irmãs”.
“É a forma como, hoje, devemos lavar os pés uns dos outros”, disse ele.
A campanha “Petição Católica pelo Clima” faz o Movimento Católico Global pelo Clima, que conta atualmente com mais de 140 organizações, retornar ao local em que foi formado, em janeiro, quando da viagem do Papa às Filipinas. Como parte dessa viagem, Francisco fez uma escala em Tacloban, uma das áreas mais atingidas em novembro de 2013 pelo supertufão Haiyan.
Uma das tempestades mais fortes já registradas, o Haiyan matou mais de 6 mil pessoas e afetou cerca de 16 milhões de filipinos. Arsenio disse que o número de refugiados ambientais e sem-tetos cresceu devido às tempestades quase constantes.
Estes esforços no país insular constituem o primeiro trabalho coordenado pelo Movimento Católico Global pelo Clima envolvendo a estrutura hierárquica da Igreja, em vez de iniciativas de base. Christina Leaño, coordenadora de campanhas em nível mundial, disse que a organização não visou tanto as Filipinas para ser o lugar de lançamento da campanha, mas os parceiros de lá “estavam preparados e prontos para realizar este tipo de ação”.
“Esperamos que o exemplo dado nas Filipinas tenha um efeito cascata em toda a comunidade global da Igreja”, disse ela ao National Catholic Reporter.
Até agora, o Movimento Católico Global pelo Clima enviou materiais a 75 paróquias da Arquidiocese de Manila no intuito de recolher assinaturas nas missas de domingo, e planeja levar a campanha para as regiões de Luzon, Visayas e Mindanao.
A campanha também pede às pessoas que procurem maneiras de reduzir a sua pegada de carbono, não comam carne às sextas-feiras e rezam para uma conversão ecológica do coração nas pessoas. A campanha atinge o seu ponto máximo durante a “Season of Criation” (Estação da Criação, em tradução literal), celebração proposta em 2003 pelos bispos filipinos que vai de 1 de setembro a 4 de outubro, Festa de São Francisco de Assis.
Em sua sessão plenária bianual, a Conferência Episcopal filipina ouviu uma apresentação relativa à campanha, subscreveu a petição e considerou a criação de um departamento para as mudanças climáticas.
Villegas disse que a Conferência dos Bispos, que está editando a encíclica papal na íntegra em sua publicação mensal, comprometeu-se em organizar simpósios focados na questão climática. Ele também falou de “uma ação mais direta e imediata” nas paróquias e nas comunidades eclesiais de base para discernir como as realidades locais – tais como a de mineração, incineração e aterros – prejudicam o ecossistema.
“Aqui, a defesa das comunidades de fé, em nome do bem comum, deve influenciar os decisores políticos e traduzir-se em ação comunitária também”, disse Villegas.
O ministério da ecologia de Manila tem promovido tais esforços, disse Arsenio, incluindo a proteção da Baía de Manila para com desenvolvimentos futuros. Outros programas têm trabalhado com a gestão de resíduos zero e com a agricultura orgânica urbana nas paróquias.
Da mesma forma, Tagle encorajou organizações ligadas à Caritas a trabalharem coletivamente no sentido de desenvolver “iniciativas locais” que capacitem as pessoas a fazerem mudanças no estilo de vida, visando uma conversão pessoal, “buscando substituir o consumo por um senso de sacrifício, a ganância pela generosidade, e desperdício por um espírito de partilha”.
“Isso requer um processo de comunicação universal e de escuta da verdade, um exame global de consciência, um reconhecimento mundial dos fracassos e de culpa, além de uma resolução global para corrigir o mal já feito”, disse Tagle.
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Igreja filipina assume a liderança à frente da encíclica ambiental do Papa Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU