Por: Cesar Sanson | 30 Junho 2015
Fechamento dos bancos por uma semana eleva clima de incerteza em Atenas. Enquanto moradores tentam, sem sucesso, recorrer a caixas eletrônicos, polarização política se acirra nas ruas à espera do referendo.
A reportagem é de Jannis Papadimitriou e publicado por Deutsche Welle, 29-06-2015.
Os moradores de Atenas reagiram sem pânico ao anúncio de que os bancos permanecerão fechados por uma semana. Mesmo assim, cada vez mais pessoas eram vistas nesta segunda-feira (29/06) indo aos caixas automáticos, na esperança de sacar o máximo de dinheiro possível antes da introdução da versão grega do corralito – o controle rigoroso de capitais. Para evitar confusão e roubos, a segurança foi reforçada – muitos policiais foram convocados a interromper suas férias.
"Não posso acreditar", disse a moradora de Atenas Evgenia Gekou, de 50 anos, à agência de notícias Reuters. "Continuo achando que vamos acordar amanhã e tudo estará bem. Estou realmente tentando não me preocupar."
Transferências bancárias no momento estão restritas aos países europeus. Mesmo empresas só têm permissão para sacar grandes quantias após análise prévia. Segundo informa parte da imprensa grega, os bancos continuarão fechados, mas caixas eletrônicos reabrirão já nesta terça-feira, dia em que vence a dívida de 1,6 bilhão de euros que Atenas tem com o Fundo Monetário Internacional (FMI). O limite diário de saques será de 60 euros por pessoa.
"Tenho cinco euros no meu bolso, pensei em tentar a sorte aqui e pegar algum dinheiro. As filas no meu bairro estavam muito longas no domingo", disse o encanador Yannis Kalaizakis, de 58 anos, no centro de Atenas nesta segunda-feira. "Não sei mais o que dizer. Está uma confusão."
Economistas vinham alertando que, se os bancos continuassem abertos, os depósitos rapidamente desapareceriam – só no sábado, cerca de 600 milhões de euros teriam sido sacados.
"No fim, o controle de capitais acabou sendo inevitável", diz Michael Glezakos, especialista em política fiscal da Universidade de Piraeus. Especialmente depois que o Banco Central Europeu decidiu, no domingo, não ampliar mais os empréstimos emergenciais aos bancos gregos. Os 90 bilhões de euros garantidos até agora já foram quase esgotados. A ajuda serve para as entidades financeiras reporem o dinheiro retirado pela população.
Glezakos encara como um bom sinal o fato de os banqueiros em Frankfurt ainda manterem o fundo de assistência emergencial (ELA). "O presidente do BCE, Mario Draghi, poderia ter entendido o anúncio de um referendo na Grécia como o fim do programa de resgate e teria o direito de fechar a torneira de dinheiro para os bancos gregos."
Dilema para Tsipras
Para evitar dar um calote, Atenas tenta liberar o acesso a 7,2 bilhões de euros, última parcela do socorro de 240 bilhões prometidos pelo FMI e pelo BCE. As negociações estão interrompidas desde sábado (27/06), após o anúncio do primeiro-ministro Alexis Tsipras de que convocaria uma consulta popular para o próximo domingo sobre a nova proposta dos credores.
Se os gregos optarem por aceitar a proposta dos credores, Tsipas estará indo contra suas promessas de campanha – focada num discurso antiausteridade – e se curvando diante de algo que ele mesmo descreveu como "humilhante'. A base política de apoio ao premiê culpa Bruxelas e parte da imprensa, nacional e estrangeira, por tentar criar uma atmosfera de pânico com o objetivo de intimidar os gregos.
"Quem atraiu essas pessoas para os postos de gasolina?", questionou o deputado do Syriza Giorgos Varemenos, correligionário de Tsipras. "Trata-se de uma operação de choque e pavor para pôr o povo grego de joelhos."
O líder opositor Kostis Hatzidakis, ex-ministro da Economia, vê a situação de forma diferente – para ele não há conspiração contra o governo grego."Temos um governo que apresenta a perspectiva de cortes de 8 bilhões de euros, enquanto na campanha eleitoral a conversa era de alívios multibilionários", questiona.
Maioria apoia credores
À medida que se aproxima o referendo, cresce a polarização no país. Simpatizantes do Syriza prometem manter os protestos contra os credores até a terça-feira. Ao mesmo tempo, são esperadas manifestações de apoio a Bruxelas.
"Eu vou votar contra a sugestão dos credores. E acredito que essa é uma posição mais europeia do que qualquer outra", diz Thanassis Antoniou, pai de dois filhos e que está sem emprego fixo desde 2008. "Se eu votar no 'sim', certamente estarei mais pobre dentro de um ano – e isso não é uma perspectiva europeia."
O motorista de táxi Achilleas Kirkiotakis também é a favor do referendo, mas por razões diferentes: ele acredita ser o momento de o povo grego assumir a responsabilidade e optar entre o euro e o retorno do dracma.
"Eu não posso me dar ao luxo de ter medo, mesmo tendo dívidas no momento", diz o grego de 33 anos, sugerindo um voto a favor dos credores. "Mas quem não tem dívidas hoje? Se você perguntar a mil gregos como eles estão indo financeiramente no momento, você vai obter a mesma resposta: muito mal. Mas é preciso estabelecer suas prioridades."
Segundo pesquisa deste fim de semana encomendada pela revista To Vima, 47% dos gregos são a favor das medidas de austeridade propostas pelos credores. Apenas 33% se opõem.
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Gregos reagem sem pânico, mas não escondem medo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU