29 Mai 2015
Não é mais o tempo das barricadas, mas aquele da reflexão. Nada de pânico. "A mentalidade mudou profundamente. Mas nem por isso os crentes devem deixar-se intimidar por aquelas vistas como debeladas, nem perder o entusiasmo e a alegria do Evangelho, bem como o sentimento de acolhida e de amor para todos”. O arcebispo teólogo Bruno Forte, confirmado pelo Papa Secretário Especial do Sínodo sobre a família, avalia o quadro geral: "Trata-se de um processo cultural de secularização acelerada, no qual a Europa está completamente envolvida". É preciso encará-lo de frente: hoje, por exemplo, haverá na Universidade Gregoriana, em Roma, um seminário teológico, a portas fechadas, organizado, com toda privacidade, pelos bispos da Alemanha, França e Suíça. Serão discutidos os temas mais controversos em vista a segunda fase Sínodo de outubro próximo, sacramentos aos divorciados que voltaram a casar e aceitação de homossexuais. Um dos arquitetos da reunião é o próprio Cardeal Reinhard Marx, membro do Conselho dos nove cardeais que o Papa quis ao seu lado, e presidente da Conferência Episcopal Alemã, entre as mais reformistas da Europa.
A reportagem é de Gian Guido Vecchi, publicada pelo Corriere della Sera, 25-05-2015. A tradução é de Ramiro Mincato.
Nas respostas enviadas a Roma em vista do documento preparatório para o Sínodo - apenas nesta semana o Vaticano começa a síntese dos textos de todo o mundo - os bispos alemães escreveram: "Na Alemanha, as uniões homossexuais têm estatuto diferente do casamento ("uniões civis"). Seu reconhecimento é baseado num amplo consenso social, apoiado também pela maioria dos católicos". Entre outras coisas, "os fiéis esperam que cada pessoa, independentemente da orientação sexual, seja aceita pela Igreja, como pela sociedade, e que nas paróquias seja criado um clima de estima para todos".
A questão está se tornando mais do nunca urgente para a Igreja italiana, um dos poucos países europeus que ainda não têm legislação sobre a matéria. Na Assembleia da CEI, semana passada, Francisco pediu aos bispos “para sairem ao encontro do povo de Deus, para defende-lo do colonialismo ideológico que lhe tira a identidade e a dignidade humana". Mas distinguiu os papéis, pois trata-se de deixar aos fiéis leigos as "responsabilidades que lhes competem", o tempo das intervenções diretas terminou. "Os leigos com formação cristã autêntica, não precisarão do bispo-piloto, ou Monsenhor-piloto, ou um input clerical para assumir as suas responsabilidades em todos os níveis, do político ao social, do económico ao legislativo. Todos, porém, precisam do bispo pastor".
Além do estilo, está mudando também a linha traçada na CEI, nos tempos de batalha contra os DICO , pelo então presidente Camillo Ruini: bastam os direitos individuais, não às uniões civis, nenhum reconhecimento dos casais homossexuais. Certamente o ânimo mais "competitivo" ainda está presente entre os bispos italianos. Mas tem havido sinais diferentes. O próprio Bruno Forte explicava, no último Sínodo, que a Igreja não pode aceitar "a equiparação tout court, mesmo terminológica, com o casamento", mas isto "não significa excluir a procura de uma codificação dos direitos das pessoas que vivem uniões homossexuais: é um discurso de civilidade e respeito pela dignidade das pessoas".
O problema, no caso, é como chegar lá. Não se pode aceitar que a "família constitucional, com pai, mãe e filhos" acabe "num cantinho", dizia ao Corriere o Bispo Nunzio Galantino, Secretário Geral do CEI. Nenhuma "equiparação", nenhum "cavalo de Tróia". Esta é a premissa: "comecemos dizer o que é a família, o que faz parte de uma realidade e o que faz parte de outra, então faremos discursos diferentes. "Confrontar-se, mas sem guerras ideológicas, é o "método sinodal" evocada por Galantino.