28 Mai 2015
Adaptações na geração e no uso de energia poderiam contribuir para cenário climático mais otimista – em tese, diz estudo. O foco da nova pesquisa são as emissões no setor de energia.
A reportagem é de Cíntya Feitosa, publicada por Observatório do Clima, 26-05-2015.
Um estudo publicado recentemente no periódico Nature Climate Change sugere que a meta de limitar o aumento global de temperatura neste século a 1,5°C ainda não está totalmente fora de alcance. As possibilidades, porém, são remotas, e os custos, elevados.
A meta de 1,5°C foi reconhecida pela ONU em 2009, no Acordo de Copenhague, como um objetivo desejável de estabilização do aquecimento global. Ela resultou da pressão de países-ilhas, mais vulneráveis às consequências das mudanças no clima. Para eles, conter o aquecimento em 2°C em relação aos níveis pré-industriais pode não ser o suficiente. No entanto, como a própria meta de 2°C é algo cada vez mais distante, pouca gente tem levado a sério a possibilidade de alcançar o objetivo mais seguro de estabilização.
O foco da nova pesquisa são as emissões no setor de energia. “As ações são semelhantes ao cenário de limitação em 2°C, mas exigem ações de mitigação mais rápidas”, diz o estudo. O primeiro passo seria transformar o setor em um sistema de “carbono negativo” em 2050. No transporte, as mudanças também devem ser bruscas: os cenários incluem um significativo aumento no uso de veículos elétricos, além de 40-50% de biocombustíveis em 2050.
Os cenários para que o aquecimento se limite em 1,5°C também exigem otimismo quanto à demanda por energia: consideram apenas um ligeiro aumento da demanda atual até 2100, apesar do crescimento populacional e desenvolvimento econômico estável. Para tanto, políticas de eficiência energética têm papel primordial. “A maioria dos cenários para a limitação em 1,5°C assumem uma diminuição do consumo de energia por unidade do PIB em um ritmo mais rápido do que o observado historicamente”, ressaltam os autores do estudo.
Isto implica em grandes mudanças na economia global, já que hoje o elo entre emissões, uso de energia e atividades econômicas é muito forte. “Indicadores econômicos relevantes dos desafios de mitigação incluem a precificação do carbono para quantificar os custos marginais de redução de emissões, bem como o custo agregado e custos de mitigação de curto prazo”, diz a pesquisa.
Para além de todo o otimismo, o estudo também deixa bem claro que os custos de mitigação em longo prazo são maiores – os custos agregados podem ser duas vezes mais que os custos da limitação do aquecimento em 2°C. A redução de CO2 na atmosfera deveria chegar a zero até meados do século, de 10 a 20 anos mais cedo do que em cenários consistentes para a limitação em 2°C, considerando também emissões líquidas negativas entre 2050 e 2100 – o que não é um requisito para o máximo em 2°C.
“A janela de emissões em 2030 que ainda mantém a opção de limitar o aquecimento a menos de 1,5°C em 2100 é muito menor do que o cenário que aponta para os 2°C. Desviar investimentos para tecnologias de baixo carbono na próxima década é, portanto, fundamental”, determinam os autores, liderados por Joeri Rogelj, do programa de Energia do IIASA (International Institute for Applied Systems Analysis).
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Estabilizar aquecimento ainda é possível - Instituto Humanitas Unisinos - IHU