13 Mai 2015
"Se afinal a coisa é tão inócua quanto dizem, não desejariam eles a rotulagem como forma de divulgação de seus produtos?", escreve Efraim Rodrigues, doutor pela Universidade de Harvard, Professor Associado de Recursos Naturais da Universidade Estadual de Londrina, consultor do programa FODEPAL da FAO-ONU, em artigo publicado por EcoDebate, 12-05-2015.
Eis o artigo.
Nesta semana uma internação hospitalar de minha mãe me fez recomeçar a ler Raízes do Brasil, o livro de 1936 de Sergio Buarque de Holanda.
Vi que as atenções se voltaram para a Assembléia Legislativa em Curitiba, mas enquanto isto, muita coisa aconteceu em Brasília, na Câmara dos Deputados.
O projeto de lei que regulamenta a rotulagem de transgênicos no Brasil, em tramitação desde 2005, foi reprovado nesta semana.
Impedindo a rotulagem, a bancada ruralista e as empresas tomaram uma posição contraditória e arriscada para si próprios. Se afinal a coisa é tão inócua quanto dizem, não desejariam eles a rotulagem como forma de divulgação de seus produtos?
Resumindo; Por que esconder se os transgênicos não fazem mal?
Mas isto não foi tudo. Nesta semana a bancada ruralista também conseguiu descaracterizar o marco legal da biodiversidade a ponto de tirar a permissão de uso do IBAMA e colocá-la no Ministério da Agricultura de Kátia Abreu, fervorosa defensora da Biodiversidade e dos direitos dos povos indígenas, estes que são em alguns casos detentores de direitos sobre o patrimônio biológico, de acordo com a bancada ruralista não serão ouvidos nunca.
Some aí na lista a destruição do Código Florestal (um esforço jurídico de 8 décadas), em 2013, e não esqueça também que o Cadastro Ambiental Rural acaba de ser postergado por um ano. O CAR é a distração dada aos ambientalistas para que parem de insistir nesta bobagem de área florestal. Nem mesmo uma data para registrar a Reserva Legal este país consegue impor.
Mas voltando ao livro Raízes do Brasil, a grandeza de Sergio Buarque de Holanda é explicar a gênese de nosso país de maneira tão fidedigna que continua válida oito décadas depois.
Veja este trechinho;
Nos domínios rurais, a autoridade do proprietário de terras não sofria réplica. Tudo se fazia consoante sua vontade, muitas vezes caprichosa e despótica.
Enquanto se mantiver esta Câmara de Deputados, nada que possa desgostar os ruralistas irá ser aprovado.
Para breve aguardem o retorno das sesmarias e do escravagismo.
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