Por: Jonas | 24 Fevereiro 2015
A Grécia trabalhou contra o relógio na lista de reformas que deve apresentar, hoje, para seus sócios da Zona do Euro para conseguir a aprovação final do prolongamento do plano de ajuda, mas sem trair suas promessas eleitorais. O governo esquerdista pôde torcer o braço dos sócios europeus, em particular da Alemanha, para ampliar por quatro meses e em 240 bilhões de euros o programa de ajuda da União Europeia. Agora, tem pela frente a tarefa de apaziguar algumas vozes desconformes no interior do Syriza.
A reportagem é publicada por Página/12, 23-02-2015. A tradução é do Cepat.
Manaolis Glezos, eurodeputado do Syriza e símbolo da esquerda grega, criticou o acordo ao que chegou o governo de Alexis Tsipras com o Eurogrupo. “A mudança de nome da troika (Banco Central Europeu, FMI e Comissão Europeia) para instituições, a de memorando por acordo e a de prestamistas por sócios não muda a realidade anterior”, afirmou Glezos em um artigo publicado por um blog. Fiel ao seu estilo e história, solicitou a “todos os membros e simpatizantes” da coalizão para que decidam “em reuniões extraordinárias, em todos os níveis da organização”, se aceitam a decisão do Executivo.
Com seus 93 anos, o homem que aos 19 anos retirou a bandeira nazista da Acrópole, hoje participa, no interior do Syriza, como líder da formação Cidadãos Ativos, grupo independente de esquerda que, junto a um conglomerado de anarquistas, trotskistas, maoístas, ambientalistas e centro-esquerdistas, forma a coalizão.
Fontes governamentais comentaram que a negociação com os países da Zona do Euro está em curso e afirmaram que o eurodeputado Glezos “não tem uma ideia clara acerca das duras negociações” com os sócios de Atenas.
O primeiro-ministro Tsipras afirmou, anteontem, que “vencemos uma batalha, não a guerra”, depois do trabalhoso acordo da sexta-feira com o Eurogrupo, e pelo qual Atenas obteve um respiro de quatro meses para estender a ajuda financeira ao país. O líder grego destacou que o tratado supõe o cancelamento dos compromissos prévios subscritos pelos anteriores governos de seu país, ainda que tenha advertido a seus concidadãos que “o difícil começará agora”, e que “a luta do povo grego continua”.
Seu governo trabalhou contra o relógio durante todo o fim de semana para preparar a lista de reformas que hoje deve enviar a Bruxelas e que é decisiva para que os sócios decidam, finalmente, se estendem para quatro meses o financiamento do país. A linha central das reformas será a luta contra a evasão fiscal, a corrupção e as reformas do setor público. Atenas não pensa em aumento do IVA, nem em cortes das aposentadorias para não descarrilar ainda mais a recuperação.
“Os textos europeus sempre tem uma imprecisão criativa”, afirmou Giorgos Katrougalos, ministro grego da Reforma da Administração, em uma rádio local. “Há temas de soberania que dependem da política interior e que são inegociáveis”, avisou por sua parte o ministro de Estado Nikos Pappas, mão direita de Tsipras. Deste modo, Atenas tentava dar uma interpretação positiva do difícil compromisso que alcançou para conseguir quatro meses adicionais de financiamento, até junho.
“Estamos no início de uma nova fase”, afirmou Pappas, que considera que os quatro próximos meses permitirão que o novo governo demonstre a credibilidade de suas reformas. As questões relativas aos direitos e condições trabalhistas são temas “de política interior”, insistiu Pappas.
Neste âmbito, o governo se comprometeu a restabelecer as convenções coletivas, substituídas pela regra dos contratos individuais dos últimos anos, um sistema que protege menos os empregados.
Segundo os termos do atual plano de resgate, a Grécia deve acelerar a flexibilização do mercado de trabalho e reformar o direito sindical. O aumento do salário mínimo, de 580 para 751 euros, que faz parte das promessas de campanha do Syriza, acontecerá de “forma progressiva”, explicou Pappas.
O ministro descartou novas reduções salariais dos funcionários e das aposentadorias, apesar do Executivo anterior ter se comprometido a baixar estas últimas e a suprimir as aposentadorias antecipadas antes dos 62 anos. Segundo o semanário To Vima, as medidas propostas pela Grécia deixarão de lado o déficit do sistema de seguridade social, já que o governo deseja ganhar tempo sobre esta questão, que seu credores consideram prioritária. Para que o novo plano de financiamento seja efetivo, os Parlamentos de vários países, entre eles a Alemanha, deverão aprová-lo antes do dia 28 de fevereiro.
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Grécia. Um acordo que não conta com o apoio de todos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU