21 Janeiro 2015
A fé cristã é o "tesouro" graças ao qual o povo filipino se levanta todas as vezes das tragédias que o atingem. E em virtude desse tesouro, os filipinos reconhecem o Papa Francisco não como uma estrela acariciada intermitentemente pelo caprichoso sistema midiático global, mas como o Sucessor de Pedro, a "rocha" sobre a qual "Cristo constrói a Sua Igreja". Ao cardeal Luis Antonio Tagle bastaram poucas frases e poucos minutos para deixar transparecer, sem poses inventadas e proclamações alardeadas, a consonância de olhar que o une ao atual bispo de Roma.
A reportagem é de Gianni Valente, publicada no sítio Vatican Insider, 16-01-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Na sua saudação de boas-vindas, lida com emoção e comoção no fim da missa celebrada pelo papa no dia 16 na catedral de Manila, diante de bispos, sacerdotes e religiosos da Igreja local, o cardeal com cara de menino não disseminou nenhum dos trava-línguas "bergoglianos" mais usados no "eclesialês" de cunhagem recentemente.
Ele falou como bispo imerso na vida e na fé do seu povo. Usando como fio condutor do seu breve discurso precisamente o episódio histórico concreto da igreja em que a missa era celebrada.
A catedral de Manila – sugeriu Tagle – "pode ser considerada um símbolo do povo filipino". Na sua não muito longa história, ela foi destruída muitas vezes por incêndios, terremotos e bombardeios, como o que a atingiu em 1945, durante a batalha de libertação dos japoneses.
Ela – observou o cardeal – "foi arrasada muitas vezes, mas se recusa a desaparecer. Ela renasce com coragem das ruínas, como o povo filipino", abalado por sofrimentos e infortúnios, mas marcado também por reinícios inimagináveis.
Para explicar o "segredo" desses novos inícios, Tagle citou uma frase do jesuíta-patriota Horacio de la Costa, também conhecido pelo seu envolvimento na campanha de libertação dos japoneses. Os filipinos – repetia o coirmão de Bergoglio, que morreu em 1977 – "têm dois tesouros: a música e a fé. As nossas melodias fazem elevar o nosso espírito acima das tragédias da vida. A nossa fé sempre nos levanta depois dos incêndios, dos terremotos, das tragédias e das guerras".
Agora, enquanto, mais uma vez, muitos filipinos recém-começam a se levantar dos efeitos de calamidades e conflitos, a visita do papa – sugeriu Tagle – vem também para provocar saudáveis solavancos na Igreja e na sociedade do arquipélago: "O senhor", disse o cardeal dirigindo-se a Bergoglio, "traz o fogo, não para destruir, mas para purificar. O senhor traz o terremoto, não para devastar, mas despertar".
Depois, acrescentou as fórmulas evangélicos que desde sempre definem o papel do bispo de Roma na Igreja Católica: "Tu és Pedro, a pedra sobre a qual Cristo constrói a sua Igreja. Tu és Pedro, que vem para confirmar os seus irmãos e as suas irmãs na fé".
Com a visita do sucessor de Pedro – concluiu o cardeal – "nós sabemos que Jesus vai renovar e reconstruir a Sua Igreja nas Filipinas".
É Cristo que constrói a Sua Igreja sobre a rocha de Pedro. É Cristo, não o papa ou os bispos, que a repara e a renova no caminho da história. O Papa Francisco repete isso incessantemente. Luis Antonio Tagle também comunica essa feliz certeza no seu trabalho cotidiano como pastor da metrópole onde ele nasceu.
É essa percepção comum a fonte que alimenta a sintonia de olhar entre o bispo de Roma e o cardeal filipino. Uma proximidade autêntica que a visita papal coloca debaixo dos holofotes. Mas que continuará viva e fecunda, mesmo quando o papa estiver novamente em Roma.
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O cardeal-menino e o papa ''terremoto'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU