11 Janeiro 2015
“Os fatos horrendos que aconteceram em Paris devem fazer com que pensemos de uma forma maior, mas neste clima são poucos os que conseguem pensar, acima de tudo na Itália. O nível do debate é deprimente”. Fala o filósofo Massimo Cacciari. Cacciari, foi prefeito de Veneza.
A entrevista é de Rodolfo Sala, publicada pelo jornal La Repubblica, 09-01-2015. A tradução é de Ivan Pedro Lazzarotto.
Eis a entrevista.
Professor, qual seria a primeira reflexão a fazer?
Nos últimos vinte – trinta anos, vivemos todos na ilusão que a história pudesse de alguma forma cancelar a própria dimensão trágica. Que a nossa Península pudesse ficar de fora das transformações de época que revolucionaram a geopolítica e produziram uma série de conflitos (Afeganistão, Iraque, a questão sem solução dos relacionamentos entre israelenses e palestinos) que, por culpa também do Ocidente, estão longe de uma solução.
Resultado?
Vejo um risco terrível e concreto. O risco de uma guerra civil na Europa. Explico: devemos manter presente que em 2050 a metade da população do nosso continente será de origem extracomunitária, então é impensável permanecer em guerra, nós europeus com a outra parte, com o mundo islâmico. Por isso digo que é preciso pensar de uma forma macro. O problema é com quem.
Ao que faz alusão?
Na Europa, para não falar somente da Itália, neste momento existe uma deficiência apavorante de políticos aptos a enfrentar este problema. Aqui não existe uma Europa em guerra, existem conflitos a serem neutralizados também com as armas da inteligência. E com a consciência de que se trata de um processo longo, difícil e cansativo. Mas não existe alternativa, do contrário estaremos indo direto ao choque das civilizações que indicam os terroristas.
O senhor falou em armas da inteligência...
Correto. Se durante a segunda guerra mundial existisse somente o general Patton, e não a visão de líderes como Churchill e Roosevelt, Hitler teria vencido. Enfrentar o problema somente do lado da simples repressão não é suficiente, não pode ser suficiente. Mesmo que os islâmicos tenham feito um indiscutível salto de qualidade.
Em que sentido?
Não estamos na presença do kamikaze solitário, da bomba anônima. As ações iguais a de Paris são programadas com uma lógica militar que visa, repito, o choque de civilizações.
Então?
Até que a nossa democracia não demonstre ser acolhedora, e continue com as desigualdades, esse tipo de terrorismo encontrará sempre um ambiente favorável. No cenário europeu se pensa em excluir a Grécia, enquanto aumentam os confins da União Europeia com a Lituânia: é uma loucura.
Mas os tons se elevam, Salvini fala que estamos em guerra...
Uma piada que fala por si só, sob um perfil cultural. Seria um erro grave apontar o Islã como inimigo, uma forma de multiplicar os membros do Jihad.
Acrescenta que o Papa não deve conversar com o Islã...
Imaginemos de que importa para o Pontífice as palavras de Salvini. Que junto a Le Pen está fazendo de tudo para dificultar o diálogo. Se fosse votar amanhã a Liga e a Frente Nacional teriam uma avalanche de votos. Seria muito perigoso, daí sim estaríamos em guerra. É preciso sermos realistas.
E isso quer dizer?
Reconhecer que até que não se abater o Estado Islâmico devemos esperar o pior. Mas somente terá fim se não forem invocados conflitos entre os povos. Infelizmente quando a história parece trágica é muito mais difícil pensar, raciocinar. É totalmente lógico, e leva também votos: mas é também muito perigoso. Precisaria ser feito um grande esforço a partir de nós italianos, não acredito que seria inútil. No final das contas, com a história que temos, devemos estar vacinados. Mesmo se agora não é o que parece.
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“Política de acolhida ou teremos um conflito na Europa", diz filósofo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU