09 Janeiro 2015
O secretário de Estado do Vaticano disse que a decisão do Papa Francisco em nomear novos cardeais de diversas partes do mundo reflete o desejo do pontífice em ter uma “abertura de coração e mente em todo lugar”.
A reportagem é de Joshua J. McElwee, publicada por National Catholic Reporter, 06-01-2015. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
A decisão de nomear 20 cardeais de 18 países diferentes – com vários lugares que nunca haviam tido um cardeal antes – foi “não um sinal de menosprezo para com alguma igreja” que que, anteriormente, tinha cardeais, informou nesta terça-feira o cardeal Pietro Parolin.
“Eu gostaria de ressaltar isto”, continuou. “Acho que precisamos mudar um pouco a nossa mente ou as nossas interpretações sobre este assunto, olhando para o Santo Padre e para os critérios que ele está usando como uma abertura de coração e mente em todo lugar, especialmente aqueles que tradicionalmente não recebiam nenhuma atenção”.
Parolin falou na terça-feira pela manhã numa breve conversa com os jornalistas durante uma cerimônia que marcava a inauguração de um novo prédio do Pontifício Colégio Norte-Americano, seminário em Roma de propriedade da conferência episcopal dos EUA que treina e forma muitos padres de dioceses do próprio país, do Canadá e da Austrália.
A autoridade vaticana falava sobre a escolha de novos cardeais feita pelo Papa Francisco, anunciada no domingo, em resposta a uma pergunta sobre se as escolhas refletiam que o papa teria “menos interesse” do que os papas anteriores em nomear cardeais estadunidenses.
Em geral, os cardeais provêm de cidades grandes, conhecidas por suas populações católicas ou pela importância global. Francisco, porém, escolheu os seus prelados a partir de várias regiões não representares anteriormente: Mianmar e os países de Cabo Verde e Tonga.
Parolin também discutiu o envolvimento do papa no movimento recente em direção à normalização das relações entre os EUA e Cuba, dizendo que o Vaticano quer usar a sua diplomacia para “ajudar a construir pontes”.
Perguntado se o envolvimento do Vaticano na aproximação entre os dois países refletia uma nova “era dourada” para a diplomacia eclesiástica, Parolin disse pensar que este movimento pode fazer com que os esforços vaticanos se foquem em ajudar a resolver problemas ao redor do mundo.
“Eu acho que, talvez, este envolvimento vá levar a agirmos – não só esperar, mas fazer propostas”, acrescentou. “Há tantos problemas no mundo em que precisamos assumir um papel mais proativo”.
Parolin também foi perguntado se há a possibilidade de o Papa Francisco apresentar as suas metas diplomáticas na ONU, para onde foi convidado a falar durante a sua viagem aos EUA em setembro deste ano. Respondendo timidamente, Parolin disse: “Acho que sim, mas não há nenhum anúncio oficial”.
Perguntado se a visita iria incluir uma parada em Washington, para onde o papa igualmente foi convidado a discursar numa sessão conjunta do Congresso, Parolin respondeu: “É claro, mas nenhuma confirmação oficial foi dada”.
Francisco estará em visita aos EUA principalmente para participar do Encontro Mundial de Famílias, na Filadélfia entre os dias 22 e 27 de setembro.
Antes de falar à imprensa, Parolin conheceu o novo anexo do Pontifício Colégio Norte-Americano, construção que compreende 11 mil metros quadrados espalhados por 10 andares. Parando em cada um dos andares durante uma cerimônia de 45 minutos com muitos dos seminaristas da própria instituição, Parolin abençoou as instalações com água benta e ofereceu orações aos que vão estar estudando naquele local.
O Colégio Norte-Americano, localizado numa colina donde se pode ver a Basílica de São Pedro, abriga mais de 250 seminaristas. O novo anexo tem salas de aula, escritórios, locais para encontros, capelas para oração e capelas para prática destinada a padres e seminaristas em formação.
O andar superior do prédio tem uma churrasqueira, uma ampla sala de leitura que possui janelas com uma visão rara de Roma, de 360 graus, incluindo uma vista privilegiada do domo da Basílica de São Pedro.
A instalação também contas com uma capela chamada João Paulo II, com janelas decoradas com imagens deste papa e da Madre Teresa, além de uma relíquia da batina que este pontífice usou no dia em que o alvejaram com arma de fogo na Praça de São Pedro.
Reunidos com Parolin durante o evento de terça-feira estavam vários cardeais dos EUA: o arcebispo de Washington, Cardeal Donald Wuerl; o ex-arcebispo de Boston, Cardeal Bernard Law; e os cardeais James Harvey e Edwin O’Brien.
Também presentes estiveram o cardeal australiano George Pell, hoje à frente da Secretaria para a Economia, e o cardeal italiano Agostino Cacciavillan, ex-núncio apostólico para os Estados Unidos.
Após a benção ao novo prédio do Pontifício Colégio, Parolin também celebrou uma missa e fez uma homilia para a celebração da festa católica da Epifania.
Ao usar a imagem dos três magos, cuja visita ao menino Jesus a Igreja celebra-se na Epifania, Parolin disse que a jornada seguindo uma estrela para encontrar Jesus indicava que tudo o que fazemos deve ser dirigido a Deus.
“Se Cristo é o sentido de nossas vidas, então nada mais importa”, falou. “Se ele é a luz do mundo (...) então tudo o que temos, tudo o que construímos, é para a glória de Deus”.
Referindo-se aos presentes dados pelos magos a Jesus, Parolin continuou: “Os presentes de ouro, incenso e mirra são para a maior glória de Deus”.
Parolin também disse que esta festa anual é um bom momento para se avaliar a dedicação de cada um perante Deus.
“Estamos dando a Deus o que é de Deus, estamos deixando-o nos usar para trazermos paz ao mundo?”, perguntou-se o cardeal. “Para que possamos dizer que estamos vivendo uma vida cristã, devemos oferecer a Deus o melhor daquilo que temos”.
Após a missa, o Pontifício Colégio realizou um almoço para os seminaristas e visitantes, ocasião em que se agradeceu aos vários benfeitores que ajudaram a pagar pelo novo prédio. Os principais benfeitores que receberam os agradecimentos foram Miriam e James Mulva, que foram presenteados com uma homenagem papal conduzida pelo arcebispo de Newark, Nova Jersey, Dom John Myers, presidente do conselho de governadores do Pontifício Colégio. James Mulva é o ex-CEO da companhia energética norte-americana ConocoPhillips.
O atual reitor do Pontifício Colégio Norte-Americano é o Mons. James Checchio, padre da Diocese de Camden, Nova Jersey. Checchio foi nomeado para o cargo em 2005.
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Parolin: a escolha dos cardeais feita por Francisco reflete uma “abertura de coração e mente” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU