05 Dezembro 2014
O arcebispo de Viena sublinha em “Herder Korrespondenz” a necessidade de um debate no qual venham a emergir as divergências sobre o caminho da Igreja e defende o conceito de gradualidade. Para o cardeal Christoph Schönborn o recente Sínodo extraordinário sobre os problemas de matrimônio e família aviou um processo positivo. O fato de que naquele modo se tenham tornado visíveis posições contrastantes no interior da Igreja, o arcebispo de Viena não o considera um aspecto negativo, como explicou numa entrevista para o numero de dezembro da revista “Herder Korrespondenz”.
A reportagem foi publicada pelo sítio Katholische Presseagentur Österreich, 03-12-2014. A tradução é de Benno Dischinger.
Todavia, segundo o cardeal, no término do Sínodo sobre a família do próximo ano se deverá chegar a um olhar comum sobre o conjunto, graças ao qual se possa exercer na Igreja a mais ampla unidade possível.
Afirma ter retornado do encontro de Roma “muito motivado e estimulado” e que teria considerado pior o resultado se as tensões não se tivessem expressado. “Fiz com demasiada frequência a experiência de reuniões de bispos e de sínodos nos quais a gente se comporta como rufiões, nos quais ninguém quer mostrar os próprios lados débeis, nos quais se fazem discursos que repetem o que já se escutou inumeráveis vezes, nos quais não se ousa dizer abertamente quais são os problemas, quais são as necessidades.
A Igreja procura hoje o seu caminho numa sociedade pluralista e secular, diz o arcebispo. É absolutamente necessário discutir sobre qual seja o caminho e a discussão deve ser conduzida de modo que as divergências possam emergir. Não devemos ter medo disto, afirmou. Todavia, o grande Sínodo de outubro de 2015 deverá fazer a tentativa de aproximar-se o mais possível da humanidade, insistiu, fazendo a comparação com as deliberações outro tanto controversas do Concílio Vaticano II (1962-1965). Também então, muitos documentos do Concílio haviam sofrido a mesma sorte do relatório intermediário e final. Quanto ao próximo Sínodo, deverá existir uma aproximação de uns e dos outros. Mas, não é a um compromisso que se deve chegar, e sim a um olhar comum sobre o conjunto. Somente assim o processo poderá ser considerado exitoso.
Pessoalmente ele deseja, para a próxima sessão do Sínodo, uma ainda mais aberta valoração da realidade da vida familiar, um olhar mais profundo sobre a historicidade do matrimônio e da família. A seu ver, neste primeiro sínodo se falou com frequência de matrimônio e família como se se tratasse de algo que está no espaço interestelar e não numa determinada história, numa determinada sociedade, em determinadas condições de vida.
Uma terceira necessidade relevada pelo cardeal está na remoção de déficits teológicos saídos nas décadas passadas, especificamente na moral fundamental. Questões de fundo da moral deveriam ser reelaboradas mais em profundidade, é o seu convite. E aconselhou a este respeito que se comece a partir da moral fundamental do catecismo e do doutor da Igreja Tomás de Aquino.
O objetivo final de Deus não é o dever de cada indivíduo, mas a felicidade do ser humano. Segundo Schönborn, o itinerário de vida cristã é descrito desde os primeiríssimos tempos da cristandade como um percurso para a felicidade. E, como dominicano, considera dever convidar a orientar-se com maior força para uma moral que considere o homem “in via”, a caminho. Uma moral habitada pela esperança cristã. Esta é, a seu aviso, a tarefa dos bispos, ligados ao tema da comunhão aos divorciados redesposados.
Na entrevista a “Herder Korrespondenz” o cardeal Schönborn deplorou novamente o fato de que o debate interno à Igreja tenha permanecido demasiadamente ligado ao problema da comunhão aos divorciados redesposados e que tenha, por isso, perdido em perspectiva e amplitude no interior do tema da família. No fundo, as famílias são redes humanas de sobrevivência espontâneas e naturais, atormentadas de vários modos em todo o mundo. O modelo familiar parece estar em crise e, no entanto, sabemos que a família é a rede de sobrevivência do futuro, disse Schönborn. Antes de falar dos problemas, deveremos falar do fato de que sem família as coisas não andam.
Defesa da ‘gradualidade’
O cardeal precisou depois ainda uma vez o princípio já por ele apresentado ao Sínodo, da assim dita “gradualidade”. Segundo este conceito, também em formas de convivência que parecem contrárias ao ensinamento da Igreja, podem ser vivenciados valores familiares e a busca desta verdade. Tal princípio havia suscitado durante o Sínodo amplos debates e resistências. Admirou-se do fato que isto tenha suscitado preocupações. Declarou estar ainda convencido que este modo de proceder seja útil. O que não significa que, se é realizada somente uma parte do ensinamento, tudo esteja a posto. Mas que é preciso reconhecer a busca, o caminho, o fato de estar num itinerário. No tema matrimônio e família, a Igreja deveria falar acima de tudo da sala, e não do quarto de dormir. Deveremos pôr-nos a pergunta, diz Schönborn, do motivo pelo qual as pessoas em todo o mundo com tanta frequência convivem sem desposar-se, que coisa os impele a isso. Antes de expressar uma avaliação moral, devo procurar entender por que também pessoas que têm fé descobrem somente gradualmente a via para o sacramento do matrimônio. Não entende por que alguns bispos, durante o debate do Sínodo, tenham mostrado tanta apreensão diante deste tipo de orientação.
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Cardeal Schönborn: “Nos Sínodos com frequência nos comportamos como rufiões" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU