Por: Jonas | 04 Dezembro 2014
O governo do Rio Grande do Sul desistiu nesta semana de uma parceria com a Elbit - principal corporação bélica israelense - para a criação de um polo aeroespacial. A decisão vem dias antes do fim do mandato de Tarso Genro (PT) à frente do estado. Em entrevista a Opera Mundi, o assessor de imprensa do governador, Guilherme Gomes, explicou nesta quarta (03/12) que a decisão foi “administrativa, não política”.
A reportagem é de Patrícia Dichtchekenian, publicada por Opera Mundi, 03-12-2014.
Segundo Gomes, o edital da FINEP (Financiadora de Estados e Projetos; órgão vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia de fomento à inovação) forneceu recursos abaixo do previsto, o que inviabilizaria o objetivo inicial do protocolo com a Elbit para implementar a produção aeroespacial na região.
“Como o resultado dos recursos foi abaixo da nossa expectativa, tomamos a decisão de encerrar o protocolo com a Elbit”, afirmou o assessor. “O governador já manifestou apoio à causa palestina, que é o mesmo posicionamento do governo federal, mas o rompimento de contrato com a Elbit não tem nada a ver com isso”, complementou.
Ontem, o embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim Mohamed Khalil Alzeben, foi ao Rio Grande do Sul presenciar a abertura da exposição fotográfica sobre a temática palestina, intitulada "Retratos da Resistência - Um povo que luta para não desaparecer", em cartaz em uma galeria na Assembleia Legislativa do Estado.
Lá, Alzeben recebeu uma carta assinada por Genro em que informa o cancelamento do protocolo com a empresa militar israelense. Segundo o assessor do governador, a carta serviu justamente para explicar o caráter “administrativo” da desistência do acordo.
Procurada por Opera Mundi, a secretaria da Embaixada da Palestina afirmou hoje não saber do fim do acordo entre o Estado gaúcho e a Elbit e informou que o diplomata estava em trânsito entre Rio Grande do Sul e Brasília. Já a Embaixada de Israel não retornou as ligações.
A decisão foi celebrada e classificada como “grande vitória” na América do Sul pela campanha global BDS (Boicote, Desinvestimentos e Sanções), movimento pró-palestino pelo isolamento internacional de Israel, em nota difundida em seu site oficial.
“Israel é capaz de sustentar suas violações de direitos humanos por causa da colaboração internacional, inclusive por meio de negociações como esta que o Rio Grande do Sul acaba de cancelar”, comentou um dos membros da campanha, Jamal Juma, no comunicado. “Com o despertar do massacre contra palestinos em Gaza, esperamos que outros governos tomem medidas para acabar com a cooperação militar com Israel”, acrescenta.
Entenda o caso
Em 29 de abril de 2013, o governador gaúcho assinou um protocolo com a Elbit para parceria no polo aeroespacial gaúcho. O empreendimento seria a segunda base nacional para lançamento de satélites. Na ocasião, Tarso Genro concedeu entrevista exclusiva a Opera Mundi, quando refutou as restrições apresentadas. “Se isso é um problema, não é do Rio Grande, mas do governo brasileiro”, disse. “A colaboração na área de defesa é uma pauta nacional".
A Elbit, segundo informou, já seria sócia da Embraer em uma empresa de capital misto, que estava renovando tecnologia dos aviões Bandeirantes, utilizados pela Força Aérea Brasileira. “Nosso estado tem o dever de estabelecer relações com quaisquer empresas em função de seu projeto regional de desenvolvimento”, argumenta.
A corporação israelense é denunciada por sua colaboração na construção do muro que segrega os territórios palestinos, além de fornecer equipamentos de segurança para colônias judaicas consideradas ilegais pelas ONU (Organização das Nações Unidas) e que ocupam a região da Cisjordânia.
A gravidade das denúncias contra essa companhia já provocou reação de países europeus, incomodados com o desrespeito às resoluções internacionais. O governo norueguês, por exemplo, obrigou seus fundos públicos a venderem todas as ações da Elbit que tinham em carteira. Processos semelhantes aconteceram na Alemanha e na Holanda.
À época da assinatura do protocolo, organizações pró-Palestina, como Stop the Wall e Coalition of Women for Peace, entregaram uma carta ao governador reclamando da iniciativa, que também constrangeu lideranças da Autoridade Nacional palestina.
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Governo gaúcho recua e desiste de acordo com empresa israelense acusada de ocupar área palestina - Instituto Humanitas Unisinos - IHU