01 Dezembro 2014
O Papa Francisco queria visitar na Turquia um dos 22 campos de refugiados na fronteira com a Síria. E, até o último momento, ele tentou inserir no seu programa de viagem uma etapa na fronteira, com um voo de uma hora de Ancara, para dar um sinal ao um milhão e meio de refugiados. Relutantemente, porém, por razões de segurança, ele teve que renunciar àquilo que teria sido um verdadeiro golpe de cena da viagem que o pontífice argentino começou nessa sexta-feira na Turquia.
A reportagem é de Marco Ansaldo, publicada no jornal La Repubblica, 28-11-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Uma visita delicada e complexa, que, como revela ao La Repubblica uma fonte da secretaria de Estado vaticana, corria o risco até de "ir pelos ares". A viagem de Bergoglio, de fato, nasceu totalmente fora da agenda.
A sua intenção era a de aceitar o convite que lhe foi feito pelo Patriarca de Constantinopla, Bartolomeu. Mas, para desembarcar em Istambul, o papa devia, necessariamente, passar pelo território turco. Ancara, assim, fez com que fosse necessário esperar por muito tempo a luz verde do presidente, o conservador islâmico Recep Tayyip Erdogan, para transformar a viagem em uma visita de Estado.
Depois, um diplomata turco foi ao Vaticano, pedindo até para ver os discursos que o papa faria. Naturalmente, foi lhe oposta uma cortês e clara recusa. Essa é a única coisa que os turcos não poderão controlar em uma viagem cheia de incógnitas, começando pela visita de Bergoglio à luxuosa mansão presidencial, primeiro líder do mundo a entrar nela, à qual ele não pôde se opôr por razões de conveniência.
Depois do encontro com Erdogan, líder em relação ao qual a Santa Sé alimenta algumas perplexidades, reforçadas recentemente – segundo fontes pontifícias – pela não intervenção da Turquia para proteger os curdos na cidadezinha síria de Kobane, haverá uma segunda etapa nada fácil: a do Grão-Mufti Mehmet Görmez, que recentemente acusou o papa de "lavar os pés dos peregrinos e organizar jogos de futebol no Vaticano, em vez de condenar a destruição das mesquitas na Alemanha".
Francisco, porém, está pronto. Ele foi bem preparado para a viagem pelos seus conselheiros. O objetivo é o de superar as desconfianças, continuar o diálogo entre fés diferentes, proteger a minoria cristã. E obter frutos da viagem.
A experiência mostra que é possível. Em 2006, as polêmicas duríssimas por causa do discurso de Bento XVI em Regensburg, antes de ir para a Turquia, se desfizeram na oração comum, feita de surpresa com o Grão-Mufti da época na Mesquita Azul. Aonde o papa foi neste sábado.
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''A viagem do papa à Turquia quase foi pelos ares'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU