25 Novembro 2014
É aterrorizante a condição da minoria cristã no Paquistão (quatro milhões, dos quais um milhão de católicos, submergidos por uma maioria muçulmana de cerca de 180 milhões, intolerante e perseguidora). Episódios cruéis se sucedem sem que as potências ocidentais nem o Vaticano sejam capazes de fazer ouvir a sua voz.
A reportagem é de Mario Pirani, publicada no jornal La Repubblica, 24-11-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A pequena minoria dos católicos paquistaneses residentes em Roma – quase todos trabalhadores migrantes –, em vista do discurso do papa em Bruxelas, no dia 25 de novembro, se dirigiu ao nosso jornal como esperança de expressão residual. Acreditamos que seja nosso dever colher o seu apelo.
Eis o texto.
Somos os representantes da 'Comunidade dos Cristãos' do Paquistão na Itália e dirigimo-nos ao seu jornal para que vocês representem ao povo italiano a gravíssima situação que vivem os cristãos no Paquistão.
Infelizmente, somente a explosão periódica da violência, como o massacre do dia 23 de setembro passado, em Peshawar, que causou a morte de 80 católicos, traz à tona a condição de discriminação e de terror que vive toda a comunidade cristã do nosso país. Uma comunidade minoritária, cuja sobrevivência está se tornando cada vez mais difícil, por causa das agressões, violências, perseguições contínuas, das quais os atos dos massacres são apenas o sinal mais evidente.
Queremos citar, a título de exemplo, alguns dos casos mais conhecidos: a violência sofrida pelos cônjuges Shahzad Masih e Shama Bibi, que, em Qasur, cidade do Norte do Paquistão, foram injustamente acusados de blasfêmia e, por isso, condenados a uma morte atroz: queimados vivos em um forno para tijolos. Também deve ser salientado que a mulher estava grávida.
A condenação à pena de morte, sempre sob falsas acusações de blasfêmia, de uma mulher, Asia Bibi, pela qual, nos últimos tempos, a imprensa internacional se interessou. A mulher está atualmente na prisão, à espera da execução.
No Paquistão, são muito frequentes as condenações à morte por blasfêmia, as desapropriações contra os cristãos, as devastações das habitações e as discriminações sociais. O fundamentalismo que nos agride e mata com violência, infelizmente, se alimenta da cumplicidade aninhada nos gânglios do Estado paquistanês, aumentando, assim, o ódio contra os nossos coirmãos.
O último episódio diz respeito à condenação à morte do nosso coirmão Sawan Masih por blasfêmia, uma condenação não justificada por nada mais senão o ódio. Sawan tem 26 anos e três filhos, e foi denunciado por um vizinho. Depois da denúncia, a comunidade muçulmana atacou e destruiu duas igrejas e 200 casas habitadas por cristãos no bairro de Joseph Colony de Lahore.
Tudo isso aconteceu sem que a polícia interviesse para defender os cristãos. O tribunal de primeira instância condenou à morte o nosso coirmão. A blasfêmia é cada vez mais utilizada para atingir os adeptos a religiões diferentes que a muçulmana e é verdadeira causa de perseguição e genocídio da comunidade cristã. Muitas vezes, por trás dessa acusação, está a vontade de se apropriar dos bens dos cristãos que vivem nos mesmos distritos.
À luz do que foi exposto, apelamos à sua sensibilidade, para dar a conhecer ainda mais a emergência humanitária que se criou no nosso país. Pedimos-lhes que intervenham junto ao governo do Paquistão, para salvar a vida de nosso irmão Sawan e de todos os condenados injustamente; e para lembrar que apenas a coexistência pacífica entre povos e religiões diferentes, baseada no mútuo reconhecimento e no respeito recíproco, pode garantir paz e desenvolvimento econômico e social.
* * *
Publicamos essa carta porque acreditamos que é muito fraca a voz qu se levanta para condenar essas injustiças e atrocidades por parte do mundo ocidental e esperamos que, no discurso do Papa Francisco, em Bruxelas, haja um convite para a mesma tolerância e caridade que é, com justiça, exigida de nós, europeus.
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Um genocídio católico quase ignorado - Instituto Humanitas Unisinos - IHU