20 Novembro 2014
Uma carta enviada ao Papa Francisco desencadeou o maior escândalo de abuso sexual clerical da Espanha, até o presente momento, levando à acusações contra 10 sacerdotes, depois de um professor universitário ter escrito ao pontífice para descrever o abuso sexual que ele alega ter sofrido quando criança.
A reportagem é de Inés San Martín, publicada no sítio Crux, 18-11-2014. A tradução é de Claudia Sbardelotto.
Ao receber a carta, Francisco supostamente telefonou para a vítima no dia 10 de agosto. Segundo a imprensa espanhola, a vítima é identificada como "Daniel"; seu verdadeiro nome foi omitido por razões de privacidade.
Na conversa da vítima com Francisco no dia 10 de agosto, de acordo com relatos da mídia, o pontífice pediu desculpas em nome da Igreja pelo abuso sofrido e encorajou a vítima a apresentar acusações civis contra os sacerdotes que, segundo ele, lhe molestaram.
De acordo com relatos espanhóis, uma investigação policial posterior descobriu uma rede criminosa de pedófilos que envolve pelo menos 12 pessoas, entre as quais estão sacerdotes e leigos de diversas paróquias da cidade espanhola de Granada.
Os investigadores dizem que o número total de vítimas desta rede é atualmente desconhecido. Também não está claro se pessoas de fora da Igreja Católica possam estar envolvidas.
Durante uma coletiva de imprensa na terça-feira em Granada, um funcionário do governo, chamado Santiago Pérez, disse que as autoridades estão investigando se o abuso sexual "pode ser atribuído exclusivamente às pessoas religiosas ou se há outras pessoas envolvidas, seja porque foram afetadas [pelos crimes] ou por terem sido cúmplices de alguma forma [com os criminosos]".
De acordo com um comunicado publicado no site diocesano, em Granada, as alegações foram investigadas e, depois de serem consideradas críveis, os padres foram removidos do ministério.
"Todo o corpo da Igreja dói imensamente pelo fato de que escândalos dessa natureza possam ocorrer", disse o comunicado. "A veracidade e o alcance terão de ser determinados pela autoridade judicial por meio da investigação já aberta".
Na segunda-feira, Dom Ricardo Blázquez de Valladolid, presidente da Conferência Episcopal Espanhola, manifestou a disponibilidade da Igreja local a colaborar com as autoridades judiciais, o papa e Congregação para a Doutrina da Fé do Vaticano.
Embora a resposta de Francisco com relação ao abuso sexual clerical, por vezes, tem sido considerado lento, os porta-vozes do Vaticano estão a caracterizar o seu envolvimento pessoal nesse escândalo como um sinal de seu compromisso com a garantia de tolerância zero para esses crimes.
Desde que foi eleito papa em março de 2013, o pontífice argentino criou uma comissão papal para a proteção de menores que está encarregada de fazer a reforma sobre o abuso sexual clerical, recebeu no Vaticano seis vítimas de padres pedófilos e iniciou um processo penal contra um arcebispo excomungado e diplomata papal acusado de pagar meninos menores de idade para atos sexuais na República Dominicana.
O papa também autorizou uma investigação sobre o bispo Robert Finn, de Kansas City-St. Joseph, até agora o único bispo americano a ser criminalmente condenado por não ter denunciado o abuso de crianças.