04 Novembro 2014
"Os relatórios produzidos desde a convocação do Sínodo apontam claramente nesta direção: não mudar a doutrina e o ideal sobre a família, mas acolher sem condenar as pessoas que vivem em outros modelos familiares, incluindo as uniões homossexuais e seus filhos", afirma aritigo publicado pelo blog da Equipe Diversidade Católica, 02-11-2014. O artigo não é assinado.
Eis o artigo.
A Igreja Católica viveu um momento efervescente com a Assembleia Extraordinária do Sínodo dos Bispos sobre a Família. A mensagem cristã neste campo tem uma grandeza e uma beleza inegáveis, mas também problemas e questionamentos inevitáveis. Só se considera matrimônio, base da família, a união exclusiva e indissolúvel entre um homem e uma mulher, que entre os fiéis deve ser celebrada com um rito religioso próprio. Só se aceitam as relações sexuais praticadas no matrimônio, excluindo os métodos artificiais de controle da natalidade. No mundo atual, estas posições destoam da vida da grande maioria dos fiéis e contrastam com as novas configurações familiares. Os nós da moral sexual católica também dizem respeito aos gays.
Ao convocar o Sínodo, o papa Francisco enviou a todas as dioceses do mundo um documento preparatório com 39 perguntas, a fim conhecer melhor esta realidade e começar a transpor este abismo entre doutrina e prática. Entre as perguntas, que atenção pastoral se pode dar às pessoas vivendo em uniões do mesmo sexo? E, no caso de adotarem crianças, o que fazer para lhes transmitir a fé? Portanto, não se trata simplesmente de reiterar a doutrina. Buscam-se caminhos de inclusão e cidadania eclesial.
No ensinamento do papa, sobretudo em sua carta a Alegria do Evangelho (Evangelii Gaudium), o anúncio do amor salvador de Deus precede a obrigação moral e religiosa. Este anúncio deve curar todo tipo de ferida e fazer arder o coração, como o dos discípulos de Emaús ao encontrarem o Cristo ressuscitado. A Igreja deve ser sempre a casa aberta do Pai, onde há lugar para todos os que enfrentam fadigas em suas vidas, e não uma alfândega pastoral. O confessionário não deve ser uma sala de tortura, mas um lugar de misericórdia, no qual o Senhor nos estimula a fazer o melhor que pudermos. A Eucaristia não é prêmio dos perfeitos, mas alimento aos que necessitam e remédio generoso. Matizando a moral, o papa dá grande importância ao bem possível, às etapas de crescimento das pessoas que vão se construindo dia a dia.
Os relatórios produzidos desde a convocação do Sínodo apontam claramente nesta direção: não mudar a doutrina e o ideal sobre a família, mas acolher sem condenar as pessoas que vivem em outros modelos familiares, incluindo as uniões homossexuais e seus filhos. Pela primeira vez, não se fala em atos ‘intrinsecamente desordenados’ e contrários à lei natural, algo tão comum até recentemente. O que permanece é a recusa veemente de se equiparar legalmente união homo e união hétero. Estes relatórios não são ensinamento oficial da Igreja, e nem as conclusões da futura Assembleia Ordinária do Sínodo, convocada para outubro de 2015. Tudo tem valor apenas consultivo. Só será ensinamento oficial a exortação pós-sinodal, a ser escrita pelo papa em 2016.
É certo que esta Exortação vai estar na linha do papa Francisco, estimulando a flexibilidade e o acolhimento. O valor de todo este processo até agora, mais do que os textos, são os debates abertos na Igreja como nunca se viram nas últimas décadas. É muito bom o superior geral dos jesuítas dizer publicamente que pode haver mais amor cristão em uma união irregular do que em um casal casado na Igreja. Ou um arcebispo nigeriano opor-se à criminalização da homossexualidade em seu país, e apoiar famílias que acolhem seus filhos gays com os respectivos companheiros. Tudo isto ajuda a formar na Igreja uma opinião pública que aceita e estima a diversidade sexual.
O cristão adulto, que está atento aos sinais dos tempos e encontra razões em favor da plena cidadania dos LGBT, não precisa esperar o apoio total da hierarquia católica para agir nesta direção. Porém, é muito importante aproveitar as oportunidades que podem surgir na Igreja, sobretudo em nível local, para o acolhimento das pessoas e a superação do preconceito. A homofobia religiosa tem uma longa história e uma considerável abrangência. Mas ninguém deve ser proibido de mudar para melhor, nem as pessoas, nem as instituições.
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Os Gays e o Sínodo dos Bispos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU