''É preciso mudar o governo da Igreja.'' Entrevista com Andrea Riccardi

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23 Outubro 2014

"Do Sínodo, surgiu a necessidade de reformar o governo central da Igreja. À frente dos dicastérios, Francisco deve ter pessoas em sintonia com ele." Segundo o professor Andrea Riccardi, fundador da Comunidade de Santo Egídio e historiador do cristianismo, "é equivocado interpretar a discussão sinodal com base nas categorias de progressistas e conservadores". É preciso "uma nova hermenêutica do Sínodo".

A reportagem é de Giacomo Galeazzi, publicada por Vatican Insider, 22-10-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis a entrevista.

Onde está o erro na interpretação do Sínodo sobre a família?

É preciso começar pelo discurso com que Francisco concluiu o Sínodo, tomando distância de progressistas e conservadores. O pontífice não quer voltar a um clima pós-1968, a uma polarização entre progressistas e conservadores. Por isso, quis reafirmar que ele é o papa, que o papa se chama Francisco, desmentindo a tentativa dos tradicionalistas de se conectarem à figura do Papa Emérito Bento XVI.

O papa orientou a discussão dos padres sinodais sobre os divorciados em segunda união e as uniões de fato?

De fato, Francisco não teve uma atitude dirigista sobre o Sínodo. Entre as proposições rejeitadas, havia até trechos do Catecismo e de textos de Bento XVI. Quem votou "não" conduziu uma batalha, tentando fazer com que não se desenvolvesse a busca sinodal e intimidar: "Se esses temas forem tocados, haverá problemas". Mas, na realidade, o que foi rejeitada é a ideia sinodal, ou seja, o fato de que se abordem as questões no Sínodo. Mas, então, não se entende que sentido teria convocar o Sínodo.

Deve ser mudado o governo da Santa Sé?

Sim. O governo atual de Francisco permaneceu o de Bento XVI. E é justamente na comitiva do seu governo que Francisco encontra as resistências mais fortes à mudança. A sua reforma da Cúria não pode se limitar à fusão de alguns dicastérios (uma maquiagem semelhante a de governos italianos). O Papa Bergoglio precisa de colaboradores em sintonia com ele. João XXIII também tinha uma Cúria hostil à mudança, por isso se concentrou na convocação do Concílio, iniciando um processo de renovação que ajudou a superar as dificuldades. Paulo VI, ao invés, introduziu o mandato de cinco anos para os ministros vaticanos, e, desde então, ninguém fica mais no cargo por toda a vida, mas por decisão do papa.

Qual é um exemplo de colaboração eficaz com o pontífice?

A fortíssima intervenção do secretário de Estado, Pietro Parolin, no Consistório dedicado pelo pontífice à dramática situação no Oriente Médio demonstra como é determinante para Francisco ter as pessoas certas no lugar certo.