08 Outubro 2014
O Sínodo Extraordinário dos Bispos sobre a família começou na Cidade do Vaticano nesta segunda-feira, e nós estamos começando a ver como o diálogo franco e aberto pode parecer na Igreja em seu mais alto nível em 2014.
A reportagem é de Vinnie Rotondaro, publicada no sítio do National Catholic Reporter, 07-10-2014. A tradução é de Claudia Sbardelotto.
Muitos católicos estão esperançosos de que o Sínodo trará mudanças significativas na forma como a Igreja ministra para a família católica moderna. Mas embora o Papa Francisco tenha encorajado os membros do Sínodo para falar com ousadia e franqueza, pelo menos, um prelado foi rápido em dizer que ousar nem sempre significa fazer a terra tremer.
"A misericórdia não remove os compromissos que surgem a partir das demandas do vínculo matrimonial" disse o cardeal Péter Erdö, arcebispo de Esztergom-Budapeste, na Hungria, em referência à espinhosa questão do divórcio e novo casamento, o que é particularmente preocupante para os católicos ocidentais.
"Isso significa que, no caso de um casamento sacramental consumado, depois de um divórcio, um casamento reconhecido pela Igreja é impossível, enquanto o primeiro cônjuge ainda estiver vivo", disse ele.
Ao mesmo tempo, um casal australiano fez observações eloquentes a respeito das preocupações de muitas famílias católicas ocidentais, incluindo o divórcio.
Ron e Mavis Pirola, de Sydney, casados há 55 anos, disseram:
- "Aquela atração que sentimos no princípio e a contínua força de ligação entre nós era basicamente sexual. As pequenas coisas que fizemos um para o outro, os telefonemas e bilhetes de amor, a maneira que nós planejamos nosso dia e as coisas que compartilhamos foram expressões externas do nosso desejo de ter intimidade com o outro".
- "A nossa fé em Jesus foi importante. Íamos à missa juntos e olhávamos para a Igreja em busca de orientação. Ocasionalmente, nós olhávamos para os documentos da Igreja, mas eles pareciam ser de outro planeta com uma linguagem difícil e não muito relevante para as nossas próprias experiências".
- "Nossos amigos estavam planejando sua reunião de família para o natal, quando seu filho gay disse que queria trazer também o seu parceiro para casa. Eles acreditavam plenamente nos ensinamentos da Igreja, e eles sabiam que seus netos iriam vê-los acolher o filho e seu parceiro na família. Sua resposta pode ser resumida em poucas palavras: 'Ele é o nosso filho'".
- "Uma amiga nossa, divorciada, diz que, às vezes, ela não se sente plenamente aceita em sua paróquia. No entanto, ela vai à missa, regularmente e sem reclamar, com seus filhos. Para o resto de sua paróquia, ela deveria ser um modelo de coragem e compromisso diante da adversidade. De pessoas como ela, aprendemos a reconhecer que todos nós carregamos um elemento de "fragilidade" em nossas vidas. Apreciar a nossa própria "fragilidade" ajuda muito a reduzir a nossa tendência de criticar os outros, que é como um bloqueio para a evangelização".
Mesmo que o Sínodo ainda esteja em seus estágios iniciais, o NCR pediu à socióloga Mary Ellen Konieczny da Universidade de Notre Dame e à teóloga Emily Reimer-Barry, da Universidade de San Diego, ambas estudiosas da vida familiar católica, a fazer seus comentários.
Pode-se visualizar os processos até agora "como reproduzindo as diferenças existentes na Igreja", escreveu Konieczny em um e-mail, "com a ênfase no diálogo aberto (e possível mudança), representando um impulso mais progressivo e o limite em torno de ensinamentos da Igreja como um impulso mais conservador".
"Mas, na verdade, eu acho que um diálogo como o preconizado pelo Papa Francisco, onde os participantes no Sínodo estão livres para dizer o que realmente pensam, considerando os ensinamentos da Igreja em torno do casamento e da vida familiar, tem o potencial de mover a conversa para a frente - especialmente no contexto da necessidade de evangelização - levando a sério que são necessárias respostas pastorais mais efetivas para as dificuldades das famílias hoje, e talvez especialmente em torno das dificuldades do casamento".
"Os casais católicos com quem falei ao pesquisar meu livro, The Spirit's Tether, escreveu Konieczny, "e em pesquisas posteriores com paróquias que tratam eficazmente os conflitos conjugais e o divórcio, geralmente, espelham os norte-americanos em seu desejo de que os casamentos sejam parcerias ricamente íntimas e emocionalmente gratificantes - o que os sociólogos da família chamam de 'casamento individualizado' ou 'casamento alma-gêma'. Essas são grandes expectativas. Mas é claro que, ao mesmo tempo, eles todos experimentaram, de uma forma ou de outra, as dificuldades do casamento e da criação dos filhos, que temperaram suas expectativas, às vezes de formas semelhantes àquelas tão bem expressadas pelo casal australiano no Sínodo".
"Espero que uma escuta atenta aos casais sobre suas alegrias e dificuldades e como eles percebem a Igreja, como as dioceses fizeram no período que antecedeu ao Sínodo, continue durante o Sínodo, já que, como vemos em paróquias católicas, conhecer e compreender as pressões e tensões da vida familiar hoje é a base para uma resposta pastoral eficaz", escreveu Konieczny.
Reimer-Barry escreveu: "Eu estou enaltecida pelas descrições da primeira sessão do Sínodo, porque o Papa Francisco, o cardeal Erdö e o casal Ron e Mavis Pirola capturaram o tom certo em suas observações. Todos sublinharam a necessidade de ouvir com humildade. Espero que o Sínodo possa simbolizar para os fiéis católicos que a Igreja não é apenas uma Igreja que ensina, mas uma Igreja que aprende".
"O cardeal Erdö invoca a 'lei da gradualidade'. Isso pode sinalizar uma forma criativa de aplicar a tradição e ao mesmo tempo abrir um novo caminho para repensar as práticas da Igreja. A lei da gradualidade refere-se à idéia de que a Igreja não espera o impossível. Cada crente deve fazer o melhor que ele ou ela consegue, em suas próprias circunstâncias particulares; como disse Richard Gula, ninguém está moralmente obrigado a fazer o que ele ou ela é incapaz de fazer (Reason Informed by Faith, 84). A lei da gradualidade não é um disfarce para tomar o caminho mais fácil; em vez disso, incentiva uma luta moral constante, ao mesmo tempo reconhecendo as diferentes capacidades de cada pessoa".
"Eu me pergunto, porém, se é útil enquadrar as questões pastorais como totalmente distintas das questões doutrinárias; para mim, isso minimiza a importância dos desafios que as famílias enfrentam hoje. O Sínodo vai realmente discutir o cuidado pastoral das famílias afetadas pelo HIV/AIDS, sem considerar a doutrina da Igreja sobre o uso do preservativo? Haverá abertura para discutir as contribuições das teólogas feministas ou devemos continuar a ouvir que 'não há consenso sobre a ideologia das teorias de gênero' enquanto o Sínodo se reúne para discutir questões de sexualidade sem uma massa crítica de mulheres participantes? O Papa Francisco disse: 'Que ninguém diga: "Isso você não pode dizer"'. Isso é refrescante, de fato, precisamente porque tantas pessoas têm ouvido essa mensagem várias vezes na Igreja".
"Eu continuo a ter esperança", escreveu Reimer-Barry. "Minha oração é 'Vinde, Espírito Santo!'".
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Sínodo apresenta potencial para avançar a conversa sobre a família - Instituto Humanitas Unisinos - IHU