25 Agosto 2014
O cardeal Filoni, enviado pessoal do Papa Francisco ao Iraque, voltou ao Vaticano no dia 20, depois de ter estado nos dias anteriores em Duhop e Erbil, e se encontrado em Bagdá com o presidente iraquiano, Fuad Masum, a quem entregou uma carta de Bergoglio.
A reportagem é de Lucas Kocci, publicada no jornal Il Manifesto, 20-08-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
"Acredito que o papa não fez nada mais do que manifestar o pedido de todos os cristãos, de todos os yazidi, de todos os refugiados que desejam retomar as suas vidas, a sua dignidade", explicou Filoni à Rádio Vaticano, confirmando o que Bergoglio já havia dito no voo de volta da Coreia do Sul.
"Nunca podemos ser a favor das guerras, mas há conflitualidades em que os mais pobres foram tirados das suas terras, violentados na sua dignidade, roubados das suas famílias... Podemos ficar indiferentes? Trata-se de direitos que devem ser defendidos por todas as pessoas de boa vontade, segundo as suas capacidades. Não se faz uma guerra, mas o direito do povo deve ser salvaguardado", acrescentou o cardeal.
Palavras que caminham sobre uma corda bamba, como as proferidas por Bergoglio no avião diante de 70 jornalistas. De um lado, ele excluiu novas "guerras humanitárias" – ainda mais unilaterais – e bombardeios, criticando os dos EUA daqueles dias: "É lícito deter o agressor injusto", disse Bergoglio respondendo a uma pergunta de um repórter justamente sobre as bombas lançadas pela forças armadas dos Estados Unidos. "Enfatizo o verbo: deter. Não bombardear, fazer a guerra, mas detê-lo. Devemos ter memória. Quantas vezes, com a desculpa de deter o agressor injusto, as potências se apossaram dos povos e fizeram uma verdadeira guerra de conquista".
Mas, por outro lado, deixou aberta a porta para alguma forma de intervenção da ONU: "Uma só nação não pode julgar como se detém um agressor injusto. Depois da Segunda Guerra Mundial, nasceram as Nações Unidas: lá se deve discutir".
E isso bastou para que vários meios de comunicação e comentaristas alistassem Bergoglio entre os intervencionistas sem rodeios para guerras humanitárias presentes e futuras. Como Gianni Riotta, que tuitou: "@Pontifex_it reconhece como legítimo deter o Isis no Iraque. Esperemos agora a Síria", esquecendo-se de que justamente o dia de jejum e de oração pela Síria, promovida pelo papa em setembro de 2013, foi uma das mais importantes ações de pressão internacional que detiveram os bombardeiros dos EUA com os motores já ligados. Ou como Pierluigi Battista que, no Corriere della Sera, aplaude a "reviravolta de Francisco".
"As palavras de Bergoglio me parecem claras e não interpretáveis: ele disse 'deter, não bombardear'. Se, depois, alguém quiser que ele diga outra coisa, vá em frente, eu não me surpreendo. Além disso, a grande mídia está se movendo muito fácil e rapidamente da indiferença ao intervencionismo. E, depois, passada a onda, voltam à indiferença", explica o Pe. Renato Sacco, coordenador nacional da Pax Christi da Itália, veterano das viagens ao Iraque, aonde foi dezenas de vezes.
"Parece-me paradoxal – acrescenta - que tenha que ser justamente o papa a lembrar as regras que a comunidade internacional se deu, ou seja, que existe a ONU, e que nenhuma nação pode decidir unilateralmente. E, especialmente, que, com a desculpa das guerras humanitárias, fizemos danos muito graves, dos quais ainda se veem as consequências, sobretudo no Iraque. Sem falar das armas aos curdos: é a solução mais fácil, mas também a mais perigosa. Espero que a Itália diga não".
Enquanto isso, sobre a eventualidade de uma viagem do papa ao Curdistão, levantada pelo próprio Bergoglio, chegou o "sim" de Dom Rabban Al-Qas, bispo de Amadiyah, na vanguarda da acolhida aos refugiados que fogem de Mosul: "Esperamos por ele e esperamos nisso", disse.
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Bergoglio envia carta ao presidente iraquiano, Fuad Masum - Instituto Humanitas Unisinos - IHU