19 Agosto 2014
O papa Francisco suspendeu nesta segunda-feira a proibição que vigorava contra a beatificação do arcebispo salvadorenho Óscar Romero (1917-1980).
A reportagem é publicada por BBC Brasil, 18-08-2014.
Durante anos, a Igreja Católica bloqueou o processo por temor de que Romero tivesse ideias marxistas.
Crítico aberto do regime militar durante a sangrenta guerra civil de El Salvador, o arcebispo foi assassinado enquanto celebrava uma missa em 1980. Ele tinha 62 anos.
Na Igreja Católica, a beatificação cerimônia na qual o papa declara digna de veneração alguma pessoa falecida - é o passo anterior à santificação.
Romero era um dos principais advogados da chamada "Teologia da Libertação" uma interpretação da fé cristã por meio da perspectiva dos mais pobres.
Esquadrões de morte
O papa Francisco afirmou esperar uma mudança no processo de beatificação.
"Para mim, Romero é um homem de Deus", afirmou o pontífice a jornalistas dentro do avião que o trazia de volta a Roma de uma viagem à Coreia do Sul.
"Não há nenhum problema doutrinal e isso (a beatificação) deve ser feito rapidamente", acrescentou Francisco.
Então arcebispo da capital San Salvador, Romero denunciou a formação de esquadrões de morte de direita no país e a opressão contra os pobres. Em seus discursos, o religioso costumava pedir o fim de toda "violência política".
Cerca de 75 mil pessoas foram mortas durante a guerra civil de El Salvador, que começou em 1980 e terminou em 1992 com um acordo de paz mediado pelas Nações Unidas.
Romero foi assassinado no dia 24 de março de 1980, após terminar uma missa na capital do país, San Salvador. Até hoje, ninguém foi preso pelo crime.
Em 2010, o então presidente de El Salvador, Mauricio Funes, o primeiro líder de esquerda a ser eleito desde o fim da guerra civil, emitiu um pedido de desculpas oficial pela morte do arcebispo.
"Estou buscando um perdão em nome do Estado", afirmou Funes ao revelar um painel em homenagem a Romero no aeroporto internacional do país.
O arcebispo, acrescentou o então presidente salvadorenho, foi uma vítima do que chamou de esquadrões de morte de direita "que, infelizmente, agiram sob a proteção, colaboração ou participação de agentes estatais".
Nota da IHU On-Line:
Transcrevemos, em nossa tradução do italiano, a pergunta e a resposta do Papa Francisco quando fala de D. Oscar Romero.
O jornalista pergunta:
Romero? O que senhor espera sair deste processo?
O Papa responde:
O processo estava na Congregação para a Doutrina da fé, bloqueado "por prudência", se dizia. Agora está desbloqueado. Passou para a Congregação para os Santos. E segue o caminho normal de um processo. Depende de como se movimentam os postuladores: isto é muito importante, de fazê-lo rapidamente, porque eu gostaria que isto se esclareça: quando há o martírio por odium fidei , seja por confessar o Credo, seja por fazer as obras que Jesus nos manda fazer, com o próximo. E este é um trabalho para os teólogos, que estão estudando o caso. Porque por detrás de Romero está Rutilio Grande e outros: há outros que foram assassinados mas que não estão à mesma altura de Romero. É preciso distinguir teologicamente isto, não? Para mim Romero é um homem de Deus, mas se deve fazer o processo, mas também o Senhor deve dar o seu sinal, ali... Se Ele quiser, o fará. Mas agora os postuladores devem se movimentar para que não haja impedimentos.