08 Agosto 2014
Um confronto está se criando entre o Papa Francisco e um bispo conservador no Paraguai, já que o bispo rejeitou acusações de que ele tivesse abrigado um padre acusado de má conduta sexual e afirmou que o próprio Papa Bento XVI consentiu favoravelmente com o clérigo suspeito, poucos dias antes de sua eleição como papa, em 2005.
A reportagem é de David Gibson, publicada no sítio Religion News Service, 05-08-2014. A tradução é de Claudia Sbardelotto.
O conflito entre o Vaticano e o bispo Rogelio Livieres Plano, da diocese de Ciudad del Este, iniciou quando foram feitas revelações em março de que o bispo havia promovido um padre católico que havia sido impedido de exercer seu ministério na Pensilvânia, depois que autoridades da Igreja de lá disseram que ele molestou de vários meninos.
No mês passado, Roma enviou um cardeal e um arcebispo ao Paraguai para investigar, e, em 30 de julho, o Vaticano disse que estava retirando o sacerdote, padre Carlos Urrutigoity, de seu trabalho como a autoridade número 2 da diocese. O Vaticano também deu o passo incomum de barrar Livieres de ordenar homens ao sacerdócio.
Em uma refutação detalhada de 12 pontos e com palavras duras contra Roma, a diocese disse que o paraguaio Urrutigoity tem sido alvo de "uma longa e dura campanha de difamação nos EUA" e disse que ele veio "recomendado por alguns cardeais que trabalham no Vaticano".
Um desses cardeais, disse a diocese, era Joseph Ratzinger, que "foi eleito Papa Bento XVI, poucos dias depois", em abril de 2005.
Bento XVI, que renunciou em fevereiro de 2013, tem sido elogiado por endurecer as políticas da Igreja contra padres abusadores. Antes de sua eleição como papa, ele trabalhava no Vaticano como chefe da Congregação para a Doutrina da Fé, que tem jurisdição sobre todos os casos de abuso.
Urrutigoity foi acusado de abuso em uma ação altamente divulgada em Scranton, Pensilvânia, em 2002. Na época, ele e outro sacerdote, Eric Ensey, foram suspensos pelo então bispo James Timlin, em meio a alegações que eles tivessem molestado sexualmente estudantes da Academia São Gregório, em Elmhurst, agora fechada. A diocese teria chegado a um acordo de 450.000 dólares para o caso em 2006.
Em 2005, o sucessor de Timlin, Dom Joseph Martino, que também já está aposentado, fechou a Sociedade de São João, um grupo conservador fundado por Urrutigoity; o grupo ficou conhecido por promover a antiga missa em latim e por seus gastos extravagantes.
Nesse período, Urrutigoity já havia se mudado para o Paraguai, juntamente com um número de sacerdotes e leigos de Scranton, para reconstituir a sociedade sob os auspícios de Livieres, um membro da ordem Opus Dei que tinha desenvolvido uma reputação de ser abertamente conservador, mesmo na hierarquia paraguaia.
Na época, Martino alertou Livieres e os embaixadores do Vaticano para os EUA e Paraguai sobre as acusações contra Urrutigoity, que um conselho de revisão da Igreja tinha considerado como credíveis.
Mas Livieres aceitou Urrutigoity, nascido na Argentina, nomeando-o como monsenhor e depois como vigário geral, que é a segunda posição mais poderosa em uma diocese.
Relatos da mídia em março sobre a promoção de Urrutigoity levaram o atual bispo de Scranton a reiterar suas objeções ao sacerdote em seu exercício do ministério seja onde for, e uma longa reportagem publicada no Global Post sobre a carreira de Urrutigoity também ajudou a mobilizar uma cadeia de eventos que levou ao confronto entre Livieres e o Vaticano.
A refutação on-line feita pela diocese paraguaia focaliza-se no caso de Urrutigoity, mas também serve como uma oportunidade do bispo para se defender contra uma série de críticas de longa data - muitas vindas de seus colegas bispos - sobre suas políticas e posições conservadoras em questões relacionadas à Igreja e à política paraguaia.
A réplica conclui com uma nota especialmente dramática, invocando os eventos retratados no premiado filme "A Missão", sobre a supressão por parte de Roma dos esforços dos jesuítas na evangelização do Paraguai, no século XVIII.
"O crescimento e a força do povo de Deus no Paraguai foram cruelmente mutilados", como resultado desses eventos, diz o comunicado, que tem ao fundo a famosa trilha sonora do filme de 1986.
"Eles também foram acusados por eclesiásticos duvidosos aliados a lobbies e políticos poderosos", acrescenta, observando a ironia de que o próprio Francisco é um jesuíta da América do Sul, definido como aquele que vai "escrever a história" da supressão anterior "de uma nova maneira".
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Bento XVI aprovou o padre acusado nos EUA a trabalhar no Paraguai, afirma bispo local - Instituto Humanitas Unisinos - IHU