09 Julho 2014
Um evento comovedor e profundamente significativo: é assim que o padre jesuíta Hans Zollner, membro da Pontifícia Comissão para a Proteção dos Menores, comentou o encontro do papa, nessa segunda-feira, no Vaticano, com seis vítimas de abuso por parte de expoentes do clero. O sacerdote alemão participou como tradutor para a conversa pessoal entre Francisco e duas vítimas provenientes da Alemanha.
A reportagem é de Bernd Hagenkord, publicada no sítio da Rádio Vaticano, 07-07-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
"Posso dizer que foi realmente uma experiência muito densa, rica, profunda, que me comoveu muito, pela sinceridade com que essas vítimas se prepararam, pela grande audiência que o Santo Padre lhes deu, pelas palavras que se trocaram e pela oportunidade de abrir a possibilidade de um início de reconciliação", disse o padre Zollner.
Eis a entrevista.
Há vozes críticas que dizem que esse foi um mero "simbolismo". Como tal encontro contribuir para o processo na Igreja para enfrentar esses problemas?
Eu não interpretaria mal a palavra "símbolo" ou "simbolismo". Eu interpretaria mal a palavra "ativismo". Mas o encontro foi o oposto do ativismo, e foi um símbolo muito forte o fato de que o sucessor de São Pedro, ao lado da Basílica de São Pedro, ouviu com o coração, os ouvidos e os olhos muito abertos as pessoas que foram violentadas, as pessoas que sofreram tremendamente, terrivelmente, nas mãos dos sacerdotes. E o fato de estar consciente, de estar presente ao seu sofrimento e à sua dor, certamente, não é apenas um símbolo.
Posso testemunhar que, para eles, algo mudou, foi, em certo sentido – se quisermos ser teológicos – um sacramento: isto é, algo que, ao agir, também transformou a realidade, a sua realidade. Porque alguns também expressaram que isso significou uma mudança de atitude e de sentimento profundo em relação à sua história, que não pode ser erradicada, não pode ser cancelada, mas que agora eles podem ver com outros olhos, com maior liberdade, com uma maior esperança.
Você faz parte da Pontifícia Comissão para a Proteção dos Menores. Houve um encontro no domingo, e o próximo encontro será em outubro: quais serão os próximos passos?
Acima de tudo, falamos muito sobre outros possíveis membros da comissão, que ainda não está completa, porque, desde o início, queríamos também ter uma representação significativa de outros continentes. Gostaríamos também de participantes, possivelmente, da África, da Ásia e da Oceania. Depois, devemos falar sobre a estrutura, do modo com que essa comissão poderá atuar e a quem ela responde. Há questões muito concretas: por exemplo, alguém que, no escritório, organize esses encontros.
O último ponto de que falamos longamente foi sobre a composição dos grupos de trabalho – porque a comissão, como tal, não poderá se reunir frequentemente, especialmente quando for composta de 14, 15 membros provenientes de todo o mundo – que poderão desenvolver o seu trabalho no âmbito da educação, da prevenção, pelas questões jurídicas ou pelas questões concernentes à formação dos sacerdotes. Deverão seguir em frente por conta própria e, depois, farão debates, deverão apresentar relatórios sobre o seu trabalho à comissão, e esta, provavelmente, irá relatar ao papa.
Assim, identificamos muitíssimos temas. Agora, esperamos ainda esses novos membros, mas posso dizer que alguns grupos de trabalho já estão trabalhando. Começamos com coisas que, creio eu que de curto prazo, também poderão ser conhecidas e poderão ajudar a Igreja – como disse o próprio Santo Padre – a implementar as melhores práticas que são conhecidas no mundo.
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''O encontro com o papa foi significativo para as vítimas de abuso.'' Entrevista com Hans Zollner - Instituto Humanitas Unisinos - IHU