Por: Caroline | 08 Julho 2014
O analista colombiano assinala que Santos (foto) busca modificar o imaginário a cerca do conflito. E afirma que a Justiça está respondendo sobre os casos de homicídio e remoção.
Fonte: http://goo.gl/HGLnKq |
A repostagem é publicada por Página/12, 07-07-2014. A tradução é do Cepat.
Uma parte da sociedade colombiana está de acordo com processo de paz, mesmo que nos termos propostos pelo presidente Juan Manuel Santos. Para Carlos Andrés Prieto, cientista político da Universidade Nacional da Colômbia e coordenador da Fundação Ideias para a Paz (FIP), isto explica a vitória apertada que o presidente obteve frente ao candidato uribista Oscar Iván Zuluaga no segundo turno, realizado no último dia 15 de junho. Mesmo que os resultados tenham refletido uma derrota do uribismo, a reeleição de Santos irá produzir – de acordo com especialistas – uma rearticulação da ultradireita colombiana. “Esta eleição marca o caminho daqui a diante. Serão discutidas posições em relação à maneira como será afetado o desenvolvimento legislativo assim como o próprio governo”, indicou.
O triunfo no primeiro turno de Zuluaga, que conseguiu 29% dos votos frente a 25% de Santos, e representou a vigência do ex-presidente e senador eleito Alvaro Uribe (2002-2010) na vida política colombiana, assim como sua capacidade para disputar o poder. “Uma parte da população estava de acordo com a forma com a qual Uribe trata do tema do conflito. Outra parte teve um voto de oposição aos quatro anos do presidente Santos. Outra parte desconhecia-o diretamente ou não estava tanto ao alcance do que o governo estava fazendo e isso também gerava desconfiança”, explicou Prieto.
Frente a um possível avanço da direita mais beligerante, Santos somou no segundo turno o respaldo de dirigentes da esquerda e o progressistas, como a ex-candidata presidencial e líder do Polo Democrático Alternativo, Clara López, e o do prefeito de Bogotá, Gustavo Petro. Para o especialista da FIP tratou-se de um apoio às negociações de paz que o governo mantém com a guerrilha das FARC desde outubro de 2012. Todavia, destacou que o impulso dado pela esquerda à Santos pode servir para “buscar uma agenda mais progressista e mais ampla” em seu próximo mandato.
Prieto, especialista em parapolítica e justiça transnacional – encarregada de reparar as violações massivas de direitos humanos uma vez superada uma ditadura ou um conflito armado – também se referiu ao futuro dos paramilitares e guerrilheiros em um hipotético cenário de paz. “Um bom número de paramilitares e combatentes da guerrilha já está cumprindo a desmobilização. É possível ver como o Estado está preparando a reintegração destes grupos. O outro tema é a participação alguns ex-paramilitares dentro do que são os novos grupos criminosos. Segundo recente estudo sobre a reincidência, há uma taxa elevada de desmobilizações e entre 24 e 28% estão na ilegalidade”, disse. De acordo com Prieto, 54 mil paramilitares e guerrilheiros se desmobilizaram entre o últimos oito e dez anos, 30 mil coletivamente e 24 individualmente. “É um número muito importante. Contudo se alguém olha a questão dos grupos criminais, a taxa de paramilitares ou ex-combatentes é relativamente inferior, de forma que estes grupos estão compostos em sua maior parte pelas novas gerações do crime organizado”, acrescentou.
O especialista colombiano também avaliou o processo a ser seguido com os paramilitares e membros da guerrilha para aprovar os acordos entre o governo e as FARC. “Há vários cenários. Um é o jurídico, no qual muitos afirmam que qualquer coisa que se firme em Havana não teria um efeito retroativo em relação aos paramilitares ou aos guerrilheiros. Contudo o Estado avançou muito nos últimos 10 anos na maneira com que examina e combate os grupos do crime organizado em relação ao que se espera de sua capacidade de combater a estes redutos guerrilheiros, independente do que ocorra em Havana”, afirmou.
Em relação às vítimas do conflito armado, que já leva mais de 50 anos, Prieto afirmou que a Justiça, mesmo que lentamente, responde frente aos casos de homicídios, desaparecimento forçado, as realocações, a violência sexual e recrutamento de crianças. “A Justiça está avançando no esclarecimento dos casos e no julgamento dos responsáveis destes crimes. Quando alguém fala com os especialistas há a sensação de que ainda falta muito para se descobrir, mesmo que judicialmente possa-se ver algum avanço. Inclusive quando muitos órgãos continuam reportando alguns casos de falsos positivos – o assassinato extrajudicial de civis pelas mãos de paramilitares para fazê-los passar por guerrilheiros –. Espera-se que o Estado possa responder algum dia sobre os crimes que foram cometidos”, considerou.
Uma das promessas eleitorais de Santos foi a eliminação do serviço militar obrigatório em caso de assinar o acordo de paz. Algo que, para Prieto, representou mais um anúncio conjuntural na parte final da campanha, do que uma proposta para a Colômbia após o conflito. “Nas últimas semanas antes da eleição tocou-se em muitos temas conjunturais, deixando-os ao fundo dos grandes temas da agenda pública. Poder-se-ia pensar que Santos busca modificar no imaginário a questão do conflito. É uma forma de mudar a percepção da guerra e das instituições militares no caso deste processo de paz vir à tona. Nas entrelinhas pode-se ler como se está antecipando algumas mudanças que podem vir. A ideia – esclareceu – é que toda a institucionalidade é uníssona com o fim do conflito”.
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Colômbia. “Uma agenda mais progressista é possível” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU