Na Copa, a classe média vai ao paraíso e o Brasil também

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27 Junho 2014

Simon Romero, o excelente correspondente do "New York Times" no Brasil, deitou um olhar sócio-econômico à invasão de latino-americanos às cidades e estádios brasileiros: "[A invasão] de fãs hispanoparlantes de grandes nações, como México e Colômbia, e de menores, como Costa Rica e Uruguai, exemplifica uma das mais profundas mudanças desde o início do século: a ascensão da classe média".

A reportagem é de Clóvis Rossi e publicada pelo jornal Valor, 27-06-2014.

Romero põe até números na sua constatação: a classe média no subcontinente cresceu 60,3% desde 2003, segundo o Banco Interamericano de Desenvolvimento.

Vale para a vida, vale para a Copa: o Mundial de 2014 está sendo o de uma ascensão inédita da classe média latino-americana da bola. Toda ela, exceção feita a Equador e Honduras (que não chega a ser classe média nem na vida nem na bola), passou para as oitavas de final. Mais ainda, segundo um dos mais lúcidos colunistas esportivos do mundo, o campeão mundial Tostão: Chile, Uruguai, México e Colômbia "correm por fora", mas com chances de ficar, acredite, com o título. Só a surpreendente Costa Rica ficou de fora, mas seu papel já foi cumprido, ao eliminar Itália e Inglaterra, dois dos oito campeões mundiais presentes à Copa-14.

Inclua-se na lista dos classificados - e candidatos desde sempre ao título - as duas únicas seleções latino-americanas que pertencem à elite (Argentina e Brasil) e tem-se o cenário completo: de 8 seleções latino-americanas, 6 passaram da primeira fase, o que é um recorde (o anterior, cinco seleções, pertencia ao Mundial da África do Sul).

É um bom cenário para o Brasil, elite da elite, único pentacampeão, 3º no ranking da Fifa. Vai enfrentar nas oitavas e, se vencer, nas quartas, a classe média vizinha (Chile, amanhã, e o vencedor de Uruguai e Colômbia, no dia 4).

Como tem escandalosa vantagem no retrospecto contra seleções latino-americanas, torna-se automaticamente favorito. Contra o Chile, por exemplo, jogou 66 vezes, ganhou 47, empatou 12 e perdeu só 7 (em Copas, ganhou todas as três partidas, sempre com muita folga).

Ainda mais favorito se se levar em conta que um dos veteranos da seleção chilena, o zagueiro Gonzalo Jara, diz que seu time "não sabe fazer outra coisa que não seja sair a atacar".

É o que o Brasil gosta: que lhe deixem espaço à frente, porque se embaralha quando enfrenta seleções retrancadas.

Há pelo menos um chileno, o senador democrata-cristão Jorge Pizarro, que vai além do futebol para atribuir favoritismo ao Brasil: "Não vejo a Fifa deixando o Brasil de fora, agora que caíram Espanha, Inglaterra e Itália", disse ao jornal "La Segunda".

Ou seja, se o Brasil confirmar o favoritismo, o que o caso Costa Rica demonstra que não pode ser dado como garantido, a elite derrubará a classe média, o que contraria a evolução recente da América Latina na vida real, caracterizada exatamente pela ascensão dos emergentes.

Ainda mais que, no outro agrupamento de classificados, México e Costa Rica podem cruzar e, consequentemente, um dos dois cair. O que sobrar tromba com a outra integrante da elite, a Argentina.

Nos outros mundiais também foi assim: a classe média pouco passou das oitavas de final. A ver se sua ascensão na vida real se dará também no mundo da bola.