27 Junho 2014
Homossexualidade, divorciados em segunda união, pílula – no Sínodo sobre a família de outubro próximo no Vaticano, tudo isso deverá ser discutido. Agora, a Igreja Católica apresentou o documento de trabalho para o Sínodo dos bispos [disponível, em português, aqui].
A reportagem é do sítio Katholische Nachrichten Agentur, 26-06-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A Igreja Católica quer discutir as consequências da lacuna entre a imagem eclesial da família e a vida concreta de muitos fiéis. Como se afirma no documento de trabalho publicado nessa quinta-feira para o Sínodo dos bispos de outubro próximo, muitos bispos veem a necessidade de um diálogo sobre temas como os dos divorciados em segunda união, da homossexualidade e dos métodos contraceptivos artificiais. Eles também fazem propostas concretas para uma simplificação dos processos de nulidade.
O conhecimento das posições da Igreja sobre a família são "geralmente escasso", diz o documento. Até mesmo muitos católicos que tem familiaridade com tais ensinamentos têm dificuldade de "aceitá-los integralmente". Os bispos, portanto, consideram oportunas, em parte, atualizações cautelosas ou mudanças da práxis eclesial, em parte, uma melhor transmissão da doutrina, além do foco no essencial.
O documento de trabalho é o fio condutor das discussões do Sínodo dos bispos sobre a família, que ocorrerá nas duas semanas entre os dias 5 e 19 de outubro, no Vaticano. Ele foi produzido pelo Secretariado do Sínodo, com base em um questionário divulgado em todo o mundo entre as conferências episcopais, grupos eclesiais e órgãos vaticanos competentes sobre família, matrimônio e sexualidade.
A necessidade de padres e colaboradores preparados
O questionário entre os católicos revelou que "os pastores, por vezes, se sintam inadequados e impreparados para tratar problemáticas que se referem à sexualidade, à fecundidade e à procriação", diz o documento, composto por 85 páginas. Alguns bispos, portanto, muitas vezes, hesitam em abordar os temas do matrimônio e da família. Aqui, os bispos veem a necessidade de uma mudança.
Sobre a atitude a ser adotada em relação aos divorciados em segunda união, de acordo com o documento, "algumas" conferências episcopais propuseram que se experimente "o caminho para um segundo ou terceiro matrimônio, com caráter penitencial". O exemplo poderia ser a práxis de algumas Igrejas ortodoxas.
Diz-se que a não admissão aos sacramentos, como estabelece a doutrina da Igreja, não é entendida pelos fiéis. Evidentemente, os católicos envolvidos se recusam a reconhecer a sua situação como "irregular", afirma o documento de trabalho.
Não a um "divórcio à la católica"
O documento de trabalho também nomeia o desejo de uma simplificação e aceleração do procedimento eclesial normalmente chamado de "nulidade matrimonial". Outros, ao contrário, expressaram a preocupação de que o fato de tornar mais eficientes tais processos poderia ser mal interpretado e impediria uma educação dos jovens a um matrimônio como vínculo de uma vida inteira. Também deveria ser evitada a difusão da ideia de um "divórcio à la católica".
Muitas conferências episcopais pedem ao sínodo, além disso, um diálogo com as ciências humanas, "para desenvolver uma visão mais diferenciada do fenômeno da homossexualidade". Em relação à condenação eclesial dos meios artificiais de contracepção, afirma-se que hoje "é hoje entendida pela mentalidade comum como uma ingerência na vida íntima do casal e como um limite para a autonomia da consciência".
De acordo com o desejo das conferências episcopais, o Sínodo deveria contribuir, "para além de todo moralismo", para se descobrir "sentido antropológico da moralidade da vida conjugal".
Contratestemunho na Igreja
Muitos católicos que responderam ao questionário lamentaram, segundo o documento de trabalho, os comportamentos negativos na Igreja, tanto entre os padres, quanto entre os leigos, comportamentos negativos que fariam com que se perdesse a confiança na Igreja e na sua doutrina: atos de pedofilia por parte do clero, um "estilo de vida por vezes vistosamente abastado dos presbíteros", contradições entre a mensagem de que são portadores e o seu modo de vida, assim como leigos que se apresentam sem qualquer humildade e mostram a sua fé "de maneira teatral".
"Em particular – destaca o documento –, frisa-se a percepção da rejeição em relação a pessoas separadas, divorciadas ou pais single por parte de algumas comunidades paroquiais, assim como o comportamento intransigente e pouco sensível de presbíteros." Portanto, coloca-se a exigência de uma "pastoral aberta e positiva, que seja capaz de voltar a dar confiança na instituição, através de um testemunho credível de todos os seus membros".
Nota da IHU On-Line: A íntegra do documento pode ser lida, em português, aqui.
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De que falam os padres sinodais - Instituto Humanitas Unisinos - IHU