Por: Caroline | 16 Mai 2014
“De todas as partes do mundo, chamamos para uma mudança de rumo. Não pretendemos ter a reposta perfeita, contudo não temos mais dúvida de que os estudantes irão ganhar muito com a presença de outras perspectivas e ideias diversas nos currículos. O pluralismo não permitiria apenas enriquecer os ensinamentos e a pesquisa, assim como revitalizar a disciplina, mas também carrega a promessa de colocar novamente a economia a serviço da sociedade. Os currículos deverão incluir três formas de pluralismo: pluralismo de teorias, métodos e disciplinas”, é um dos pontos tratados pela carta redigida pela Iniciativa Internacional de Estudantes para o Pluralismo na Economia. A carta é publicada por Rebelión, 13-05-2014. A tradução é do Cepat.
Eis a carta.
Não é só a economia mundial que está em crise. O ensino da economia também está, e esta crise tem consequências que vão muito além da universidade. O que se ensina na universidade molda a mentalidade das próximas gerações de políticos e, portanto, a própria sociedade na qual vivemos. Nós, 42 associações de estudantes de economia de 19 países diferentes, acreditamos que é a hora de reconsiderar a maneira através da qual se ensina economia. Estamos insatisfeitos com o empobrecimento progressivo dos currículos ao longo das últimas décadas. Esta falta de diversidade intelectual não prejudica apenas a educação e a pesquisa, mas limita nossa capacidade em enfrentar os desafios do século XXI – que vão desde a estabilidade financeira até a segurança alimentar e a mudança climática. Deve-se permitir a volta do mundo real para as salas de aula, e que com ele retorne o debate e o pluralismo de teorias e métodos. Isto ajudaria a renovar a disciplina e permitiria criar um espaço onde possam ser geradas soluções aos problemas da sociedade.
De todas as partes do mundo, chamamos para uma mudança de rumo. Não pretendemos ter a reposta perfeita, contudo não temos mais dúvida de que os estudantes irão ganhar muito com a presença de outras perspectivas e ideias diversas nos currículos. O pluralismo não permitiria apenas enriquecer os ensinamentos e a pesquisa, assim como revitalizar a disciplina, mas também carrega a promessa de colocar novamente a economia a serviço da sociedade. Os currículos deverão incluir três formas de pluralismo: pluralismo de teorias, métodos e disciplinas.
Pluralismo de teorias significa ampliar a gama de correntes do pensamento econômico representadas nos currículos. Não nos opomos a nenhuma teoria em particular. Não se trata de tomar partido, mas de promover debates intelectualmente ricos e de aprender a contrastar ideias criticamente. Enquanto outras disciplinas abraçam a diversidade e ensinam diferentes teorias, mesmo quando essas são incompatíveis entre si, a economia é apresentada como um corpo de conhecimento unificado. É certo de que a escola de pensamento dominante têm variações dentro de si, contudo não deixa de ser a única maneira de fazer economia e de olhar o mundo. Isto é incomum em outros campos: ninguém levaria a sério uma faculdade de psicologia na qual só se ouvisse falar de Freud, ou uma faculdade de políticas em que só se falasse do socialismo dos Estados. Um currículo completo deve promover uma variedade de marcos teóricos, com enfoques neoclássicos, pós-keynesiana, institucionalistas, ecológicos, feministas, marxistas e austríacas, entre outras. A maioria dos estudantes de economia acaba a faculdade sem ter visto tal diversidade intelectual.
Assim mesmo, é essencial que os currículos incluam disciplinas que proporcionem uma contextualização e fomentem a disciplina econômica e seus métodos – disciplinas tais como a filosofia e epistemologia da economia. E, visto que nenhuma teoria pode ser entendida como um todo sem ter em conta o contexto histórico no qual foi formulada, os estudantes terão que ser sistematicamente expostos a história do pensamento econômico, a literatura clássica e a história econômica. Hoje em dia tais disciplinas ou não existem, ou estão renegadas a margem dos currículos.
Pluralismo metodológico significa ampliar a gama de ferramentas a disposição dos estudantes na hora de analisar e entender os fenômenos econômicos. Está claro que as matemáticas e a estatística são indispensáveis para esta disciplina. Contudo, recorrentemente os estudantes aprendem a dominar estas técnicas sem saber por que nem como utilizá-las, sem discutir como se definem as premissas nem até onde os resultados são aplicáveis. E mais, há aspectos importantes da economia que não podem ser apreendidos mediante métodos quantitativos exclusivamente; uma análise em profundidade requer o complemento destes métodos com aqueles utilizados por outras ciências sociais. Por exemplo, a compreensão das instituições e a cultura avançarão muito se as análises qualitativas tivessem um espaço maior nos currículos. Porém, quase nenhum estudante de economia tem aulas sobre estes métodos.
Por último, o ensino da economia deve incluir enfoques interdisciplinares e permitir aos estudantes interagir com outras ciências sociais e com as humanidades. A economia é uma ciência social; os fenômenos econômicos são complexos e raras vezes podem ser entendidos se forem apresentados no vazio, distanciados de seus contextos sociológicos, políticos e históricos. E para poder discutir sobre política econômica adequadamente, os estudantes devem entender os impactos sociais e as implicações morais das decisões econômicas.
Ainda que tal prática concreta de tais formas de pluralismo deverá ter, sem dúvida, variações de um lugar para outro, ideias como as seguintes podem ser úteis:
- A contratação de docentes e pesquisadores que possam contribuir para a diversidade teórica e metodológica aos currículos;
- A criação de textos e outras ferramentas pedagógicas que contribuam para uma oferta formativa pluralista;
- A formalização da colaboração entre departamentos de ciências sociais e de humanidades, ou o estabelecimento de departamentos especiais que possam supervisionar programas interdisciplinares que mesclem a economia e outros campos.
A mudança será difícil, sempre o será. Entretanto já está ocorrendo. De fato, estudantes de todo o mundo já começaram a fazer uma mudança aos poucos.
Enchemos as salas de aula com palestras semanais realizadas por professores convidados, ausentes nos currículos; temos organizado grupos de leituras, oficinas, conferências; temos analisado os currículos atuais e elaborado programas alternativos; temos começado a ensinar a nós mesmos outros novos temas que queremos ver nos currículos; fundamos grupos universitários e construímos redes tanto a nível nacional como internacional.
A mudança terá que vir de muitos lugares. Assim que agora os convidamos – estudantes, economistas e não economistas – a se unir a nós e a criar a massa crítica necessária para a mudança. Visite www.isipe.net para entrar em contato com nossa crescente rede. Na última instância, o pluralismo na economia é essencial para um debate público saudável. É uma questão de democracia.
Primeiras adesões de associações de estudantes:
ARGENTINA e URUGUAI:
Sociedade de Economia Crítica.
CHILE:
Estudos Nova Economia;
Grupo de estudantes e egressos da Faculdade de Economia e Negócios da Universidade do Chile.
ESPANHA :
Post-Crash Barcelona ;
Associação de Estudiantes de Economia da Universidade Autônoma de Madrid;
Estudantes de Economia e Empresariais, Universidade de Santiago de Compostela.
MÉXICO :
Grupo de Estudantes pelo Ensino Plural da Economia, Universidade Nacional Autônoma de México.
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Primeiras adesões de professores e pesquisadores:
Albert Recio, Universidade Autônoma de Barcelona
Alberto Montero Soler, Universidade de Málaga
Alejandro Nadal, Centro de Estudos Econômicos do Colégio do México (México)
Alfons Barceló, Universidade de Barcelona
Alfonso Herranz, Universidade de Barcelona
Antoni Domènech, Universidade de Barcelona
Arcadi Oliveres, Universitat Autònoma de Barcelona
Bibiana Medialdea García, Universidade Complutense de Madrid
Carlos Berzosa, Universidade Complutense de Madri
Carlos Ochando Claramunt, Universidade de Valencia
Clara García Fernández-Muro, Universidade Complutense de Madri
Cristina Carrasco, Universidade de Barcelona,
Enrique Casais Padilla, Universidade Federal do Espírito Santo (Brasil)
Enrique Palazuelos Manso, Universidade Complutense de Madri
Fabrizico Germano, Universidade Pompeu Fabra
Fernando Luengo, Universidade Complutense de Madri
Ignacio Álvarez Peralta, Universidade de Valladolid
Javier Murillo Arroyo, Universidade Complutense de Madri
Javier Oyarzun de la Iglesia, Universidade Complutense de Madri
Jon Bernat Zubiri Rey, Universidade di País Vasco / Euskal Herriko Unibertsitatea y Université de Grenoble (França)
Jordi Catalan, Universidade de Barcelona
Jordi Mundó, Universidade de Barcelona
Jordi Roca, Universidade de Barcelona,
Jorge Uxó, Universidade de Castilla e La Mancha
José Antonio Nieto Solís, Universidade Complutense de Madri
Juan Manuel Ramírez Cendrero, Universidade Complutense de Madri
Juan Pablo Mateo Tomé, Universidade Complutense de Madri
Juan Torres López, Universidade de Sevilla
Koldo Unceta, Universidade do País Vasco / Euskal Herriko Unibertsitatea
Lina Gálvez Muñoz, Universidade Pablo Olavide de Sevilla
Lourdes Benería, Cornell Universidade (Estados Unidos)
Luis Buendía García, Universidade Isabel I
Maite Ansa, Universidade do País Vasco / Euskal Herriko Unibertsitatea
María Jesús Vara Miranda, Universidade Autônoma de Madri
María José Paz Antolín, Universidade Complutense de Madri
Mikel Zurbano, Universidade do País Vasco / Euskal Herriko Unibertsitatea
Óscar Carpintero, Universidade de Valladolid
Patxi Zabalo, Universidade del País Vasco / Euskal Herriko Unibertsitatea
Pedro Fatjó, Universidade Autônoma de Barcelona
Rafael Fernández Sánchez, Universidade Complutense de Madri
Ricardo Molero Simarro, Universidade Complutense de Madri
Sergio Espuelas, Universidade de Valladolid
Vicenç Navarro, Universidade Pompeu Fabra y Johns Hopkins University (Estados Unidos)
Yolanda Blasco, Universidade de Barcelona
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Primeiras adesões de outras associações:
Econonuestra (http://econonuestra.org/)
Economía Crítica e Crítica da Economia (http://www.economiacritica.net/)
Veja também:
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Chamado internacional de estudantes de Economia a favor de um ensino plural - Instituto Humanitas Unisinos - IHU