Por: André | 13 Mai 2014
Um suposto acordo entre Israel e o Vaticano sobre o futuro do Cenáculo, o lugar onde se acredita que Jesus celebrou a Última Ceia, enfureceu os grupos radicais judeus que chamaram à “guerra santa” e convocaram protestos para a segunda-feira, dia 11, no bíblico Monte Sião de Jerusalém.
A reportagem está publicada no jornal espanhol ABC, 11-05-2014. A tradução é de André Langer.
A manifestação, convocada pela emissora dos colonos Arutz 7 e pelas redes sociais do movimento colonizador, acontecerá junto ao edifício em que a tradição judaica situa a Sepultura do bíblico Rei Davi e a tradição cristã o Cenáculo, segundo informa o jornal Haaretz. Ambos os santuários encontram-se no mesmo edifício, quase estabelecendo uma relação direta entre a linhagem de Davi e a de Jesus, segundo a descrição feita pelo Evangelho de Mateus.
Os grupos nacionalistas judeus opõem-se às negociações que Israel e o Vaticano mantêm há duas décadas sobre o futuro desse lugar de culto cristão que o Papa Francisco visitará no próximo dia 26 de maio, seguindo os passos de João Paulo II e Bento XVI.
Israel desmentiu as informações de que haja sequer um acordo em fechamento, mas não convenceu os extremistas que asseguram que o Governo de Benjamín Netanyahu “decidiu entregar ao Vaticano a parte superior da Sepultura de Davi”, o que consideram uma “desfaçatez”.
“A demanda do Vaticano para obter a soberania sobre um pedaço do território judeu no Monte Sião é uma desfaçatez e uma afronta, uma desfaçatez sem precedentes, ultrapassa todas as linhas vermelhas e é um chamamento à guerra”, indica-se na convocatória, segundo o Haaretz.
Um dos envolvidos na organização da manifestação é Simja Kook, rabino-chefe da cidade de Rejovot, a sudeste de Tel Aviv, que vê o suposto acordo como uma “catástrofe nacional”. Em declarações à Arutz 7 de sexta-feira passada, o rabino considerou que a eventual cessão do lugar de culto é “como dizer que os cristãos são os continuadores do rei Davi, e isto poderia conduzir a uma onda de conversões ao cristianismo”.
Para evitar que se concretize qualquer possível negociação, os organizadores do protesto exortam os judeus “a saírem a uma guerra santa rapidamente, antes que o reino de Davi caia”.
Um pedido antigo
O Cenáculo, venerado desde o século XIV como lugar da instituição do sacerdócio ordenado e dos sacramentos da Eucaristia e da Penitência, mudou de mãos ao longo da história, e desde 1967 é administrado por Israel.
A Santa Sé pede sua entrega há duas décadas e o problema faz parte da agenda bilateral entre os dois Estados desde que estabeleceram as relações, em 1993.
O Papa Francisco abordará o assunto com as autoridades israelenses em sua próxima visita, que os nacionalistas judeus veem com temor pelas implicações que poderia ter.
Alarma na Igreja na Terra Santa.
Uma ativista do grupo nacionalista judeu, Isca Harani, pesquisadora do cristianismo, foi mais longe e advertiu os monges e outros religiosos das igrejas e mosteiros no Monte Sião para que, na segunda-feira, não saiam às ruas. “Que aprendam o que acontecia com os judeus durante o Sábado Santo na Idade Média, que saibam que há dias em que é melhor não andar pelas ruas”, afirmou ao jornal Haaretz.
A Igreja católica na Terra Santa está alarmada com os recentes atos de racismo de que seus representantes e centros de culto são objeto nos últimos meses por parte de nacionalistas judeus, assim como com a inatividade dos organismos policiais e governamentais frente a este tipo de ataque.
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Radicais judeus chamam à “guerra santa” pela suposta cessão do Cenáculo ao Vaticano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU