Corte de jornada e salários divide centrais

Mais Lidos

  • Alessandra Korap (1985), mais conhecida como Alessandra Munduruku, a mais influente ativista indígena do Brasil, reclama da falta de disposição do presidente brasileiro Lula da Silva em ouvir.

    “O avanço do capitalismo está nos matando”. Entrevista com Alessandra Munduruku, liderança indígena por trás dos protestos na COP30

    LER MAIS
  • Dilexi Te: a crise da autorreferencialidade da Igreja e a opção pelos pobres. Artigo de Jung Mo Sung

    LER MAIS
  • Às leitoras e aos leitores

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

02 Mai 2014

Em estudo no governo para evitar uma onda de demissões, principalmente no setor automotivo, medida provisória que permite a flexibilização da jornada de trabalho e a redução de salários divide as duas principais centrais sindicais do país. Enquanto a Central Única dos Trabalhadores (CUT) avalia que a ideia é garantir ao menos o pagamento do salário (descontados impostos e outros débitos), a Força Sindical reclama que não está clara a fonte de recursos que vai financiar o sistema.

A reportagem é de Lino Rodrigues, Renato Onofre, Sergio Roxo, Geralda Doca e Danielle Nogueira, publicada pelo jornal O Globo, 02-05-2014.

Baseado em programa já aplicado na Alemanha, a proposta permite que a jornada seja reduzida à metade por seis mese. Nesse período, o empregado receberia pouco mais da metade do ordenado. O governo dividiria com as empresas a conta dos salários, complementando os rendimentos até um teto.

O presidente da Força Sindical, Miguel Torres, afirmou ontem que a pressa em apresentar uma MP é temerária. A entidade defende a criação de um fundo utilizando os excedentes arrecadados do FGTS, mas pede mais tempo para a discussão. Segundo Torres, é preciso evitar que se mexa em outros direitos dos trabalhadores como o Fundo de Amparo do Trabalhador (FAT):

— É uma discussão que não pode ser atropelada por uma questão eleitoral. O que sentimos hoje e colhemos dos trabalhadores é que a inflação e o desemprego preocupam, mas ninguém quer perder seus direitos. Do jeito que estão levando a discussão, não terão nosso apoio.

Ministros evitam falar em flexibilização

Já o secretário-geral da CUT, Sérgio Nobre, disse que a proposta vem sendo discutida há pouco mais de um ano por um grupo de economistas, sindicalistas, empresários e representantes do governo e que a expectativa era que fosse anunciado pela presidente Dilma Rousseff em seu pronunciamento em cadeia de rádio e TV, na quarta-feira passada.

— Hoje, temos um sistema invertido no Brasil, onde o trabalhador recebe um seguro-desemprego por um tempo, mas perde o emprego. Com esse sistema queremos proteger o trabalhador e mantê-lo emprego — disse Nobre.

Para ele, a ideia é também estabilizar o mercado de trabalho, que, apesar de viver um bom momento, sofre com a rotatividade.

A proposta criou embaraço para o próprio governo, que se esforça para evitar a associação da discussão à ideia de uma flexibilização das leis trabalhistas. O discurso oficial é de modernização da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Esta foi a posição ontem dos ministro Manoel Dias (Trabalho), Gilberto Carvalho (Secretaria Geral da Presidência) e Ricardo Berzoini (Relações Institucionais) durante comemorações do Dia do Trabalho.

— Não há flexibilização. A flexibilização vem para subtrair direitos do trabalhador. Nós temos que modernizar evidentemente. A CLT é uma senhora de 70 anos — disse Dias, em entrevista, ao chegar à festa da Força Sindical, em São Paulo.

Carvalho, por sua vez, alegou que não há risco de corte de postos de trabalho na economia brasileira:

— Não achamos que o cenário é de demissão. Estamos com menos de 7% de desemprego.

Ao ser perguntado, então, porque a MP estava sendo discutida, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência encerrou a entrevista.

Na festa da CUT, Berzoini adotou o mesmo discurso dos colegas:

— Não é flexibilização. É um sistema para que as empresas em dificuldades não demitam.

A flexibilização da jornada acompanhada de corte nos salários foi discutida em mais de uma reunião do governo. A última ocorreu na quarta-feira, no Ministério da Fazenda. Participaram o encontro vários integrantes da Secretaria de Política Econômica (SPE), da Fazenda, representantes do Ministério do Trabalho e da Secretaria-Geral da Presidência da República. Até mesmo o braço direito do ministro Gilberto Carvalho, o assessor especial José Lopez Feijóo participou dos encontros. Uma nova reunião foi agendada para a próxima semana.

Metalúrgicos são a favor; construção é contra

Metalúrgicos e montadoras são favoráveis à medida. Mas o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Rafael Marques, defende que o trabalhador não tenha perda salarial:

— (A MP) seria muito oportuna para nós. As horas não trabalhadas seriam custeadas parcialmente por um fundo do governo. Um acordo coletivo entre sindicatos e empresas trataria de custear a outra parte, de modo que o salário nominal do trabalhador seja mantido — disse Marques.

Hoje, as empresas lançam mão de medidas de flexibilização do trabalho como o layoff, pelo qual trabalhadores ficam afastados da fábrica por até cinco meses, ganhando parte do salário. Muitas vezes, porém, a fábrica não precisa fechar sua linha de produção e, sim, reduzir o ritmo. Por isso, a Anfavea, associação que reúne as montadoras, tem se posicionado a favor de uma solução como a que vem sendo discutida no governo. O setor passa por uma crise, com queda nas vendas.

O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade, também se disse favorável à MP. Para ele, a legislação atual engessa as negociações entre patrões e empregados e se sobrepõe aos interesses dos próprios trabalhadores.

Há setores, porém, que não veem a MP com bons olhos. Caso da construção civil, que sofre com a carência de mão de obra qualificada.

— Somos radicalmente contra essa medida. Usá-la como um artifício eleitoral é um absurdo — disse o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon-Rio), Roberto Kauffmann.