Por: André | 17 Abril 2014
A JOC não é mais “operária” e “católica”, mas “organizada” e “combativa”. Após um debate interno sobre seus valores, o movimento de ação católica quer se centrar sobre suas lutas atuais. E apagar os rastros sobre sua identidade.
Fonte: http://bit.ly/1eSSxrD |
A reportagem é de Anna Latron e publicada no sítio da revista francesa La Vie, 14-04-2014. A tradução é de André Langer.
“O nosso nome corresponde à realidade? À JOC de hoje? A esta definição? Após debates e votações, o Conselho Nacional respondeu NÃO”. Esse questionamento, detalhado no último número da Red’Action, revista trimestral do movimento, desemboca numa revolução semântica: desde o dia 15 de fevereiro, a JOC belga na significa mais “Juventude Operária Católica”, mas “Jovens Organizados Combativos”.
Debate sobre a identidade
Fundada em 1925 por um padre belga, Joseph Léon Cardijn, a JOC pretendia ajudar os jovens operários a fazer a relação entre seu cotidiano e a mensagem do Evangelho. Mas, agora que o processo de beatificação do fundador foi aberto há alguns meses, o movimento escolheu um novo nome, mais em sintonia com suas lutas atuais.
“Uma questão importante era também podermos nos definir, não pelo que não somos mais, mas pelo que somos, precisa a revista do movimento. Estava claro que uma grande parte desses jovens não se reconhecia nas palavras ‘católico’ e ‘operário’”.
Oriundos de ambientes precarizados e sem emprego, muitos membros não se identificavam mais com a referência operária do movimento. Em relação ao adjetivo católico, era visto como um impeditivo para a entrada de jocistas de outras confissões religiosas.
O movimento segue nisso o escotismo belga que, em 2012, suprimiu a referência a Deus na sua lei escotista.
“Há dois anos, os jovens jocistas decidiram iniciar um longo processo de reflexão sobre a identidade da JOC”, explica o movimento num comunicado. Foram realizados debates internos sob a forma de questionário, dirigido aos membros, e encontros com os militantes históricos.
Visto à luz do novo nome, a combatividade torna-se o principal valor do movimento num contexto de crise. “A JOC procura organizar todos aqueles que estão revoltados e querem lutar contra todas as formas de opressão causadas especialmente pelo sistema capitalista, precisa o comunicado. Não se trata apenas de denunciar as injustiças que os jovens vivem, mas também de lutar concretamente para aboli-las”.
Uma beatificação questionada?
A decisão da JOC interpela o InfoCatho.be, um sítio de notícias da mídia católica belga. “Este distanciamento dos ‘Jovens Organizados Combativos’ dos valores do seu fundador poderia ser um impeditivo para o processo de beatificação de Joseph Cardijn?” O Tribunal Eclesiástico para examinar as virtudes, os méritos e os ensinamentos do padre Cardijn foi criado em janeiro passado por Léonard, arcebispo de Malines-Bruxelles.
“Poderíamos pensar que as coisas começaram mal, analisa o InfoCatho.be. Mas seria redutor, uma vez que um processo de beatificação tem por objetivo avaliar os méritos espirituais da pessoa em questão e não as associações ou comunidades que fundou. Mas as duas coisas podem estar interligadas”.
E o sítio evoca o exemplo da Ong Action Damien, que não hesitou em afastar-se das suas raízes católicas. Essa reviravolta não impediu a canonização do seu fundador, o padre Damien de Molokaï, apóstolo dos leprosos, em 2009.
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A JOC belga não é mais nem operária nem católica - Instituto Humanitas Unisinos - IHU