10 Janeiro 2014
A primeira a fazer a travessia foi a própria presidente Cristina Kirchner, recebida pelo papa Francisco para um encontro que transcendeu o protocolar, finalizado com um almoço privado, logo no início do pontificado.
Desde então estiveram com o papa aliados de Cristina, como o governador de Buenos Aires, Daniel Scioli, e oposicionistas, como o prefeito da capital argentina, Mauricio Macri, e o senador Fernando Pino Solanas, além da cúpula dos sindicatos governistas e oposicionistas.
A reportagem é de César Felício, publicado pelo jornal Valor, 09-01-2014.
O papa só deve visitar a Argentina em 2016, ano do bicentenário da Independência, muito depois da sucessão presidencial de Cristina e das eleições de 2015.
"Ele está concentrado na reforma do Vaticano e sabe que sua presença aqui em um tempo pré-eleitoral poderia aumentar o nível de confronto na Argentina. Ele insistentemente fala em se fomentar uma 'cultura do encontro', na formação de consensos", disse a jornalista italiana Francesca Ambrogetti, co-autora do livro "O Jesuíta", um depoimento de Bergoglio publicado em 2010.
O tema foi objeto da primeira mensagem de Francisco aos argentinos, no dia 19 de março, véspera do início de seu pontificado. " Caminhem todos juntos. Cuidem-se entre vocês. Não se machuquem, não arranquem o couro de ninguém. Dialoguem", disse por telefone aos fiéis que faziam vigília em frente à Catedral de Buenos Aires.
Para um dos políticos mais próximos do papa, o deputado Gustavo Vera, da cidade de Buenos Aires (a capital argentina é uma unidade federativa autônoma), "Francisco está longe porque já representa um duplo poder". "Existe uma anomia na Argentina. O kirchnerismo se esvazia, estruturas criminosas aumentam seu poder e a oposição é frágil e dividida. Ao se tornar papa, Bergoglio se transformou no argentino mais importante de todos os tempos. O realinhamento que se faz em torno dele é transversal", afirmou Vera, que disse ter estado privadamente com o papa duas vezes desde março.
Vera dirige uma ONG que combate formas degradantes de trabalho. Aproximou-se do papa quando passou a investigar o envolvimento de autoridades no controle de prostíbulos da capital argentina. Calcula que haja 8 mil bordeis na Argentina, sendo 616 em Buenos Aires. "A crise econômica de 2001 gerou um volume gigantesco de economia informal no país. Estruturas criminosas passaram a financiar e controlar o processo eleitoral nas periferias. Bergoglio percebeu isso e é a partir daí que se deve entender a inserção dele no processo político", disse Vera.
Na rede de políticos mais próximos do papa, também está a deputada Elisa Carrió, da coalizão de centro-esquerda Unen, e a senadora Gabriela Michetti, do PRO. Mas também há kirchneristas duros, como o vice-governador da província de Buenos Aires, Gabriel Mariotto. A possibilidade de estarem juntos em uma frente em 2015 é remota. "Não há e nunca haverá um partido do papa", disse Ambrogetti.
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Governo e oposição fazem romarias até o Vaticano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU