15 Novembro 2013
Na saleta da Casa Generalícia onde normalmente são recebidos os hóspedes, tudo ficou no seu lugar. Até mesmo a foto do padre Renato Salvatore. Mas entre os camilianos ninguém se ilude de que, depois da tempestade que levou o superior geral à prisão sob a acusação de sequestro de pessoa, tudo continua como antes. O vigário geral, padre Paolo Guarise, diz com franqueza: "Esta é uma lição. Será útil para nós. Mas agora queremos que a verdade surja totalmente e estamos à disposição da magistratura para que a justiça siga o seu curso".
A reportagem é de Mimmo Muolo, publicada no jornal Avvenire, 14-11-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Depois da prisão, é a primeira vez (e exclusivamente para o Avvenire) que as portas do quartel geral da ordem fundada por São Camilo em 1591 se abrem para um representante da imprensa. O padre Guarise é acompanhado por um dos gerais eméritos, o padre irlandês Frank Monks, que, dentre outras coisas, era o candidato alternativo ao padre Salvatore no dia 13 de maio passado, quando – segundo a acusação – supostamente teriam ocorrido os fatos incriminados. Uma escolha, a de falar em dois, que enfatiza a vontade de expressar a máxima unidade possível da ordem neste momento difícil. "Estamos entristecidos e chocados – diz o padre Monks com o seu típico sotaque anglo-saxão –, mas devemos seguir em frente. Pelos nossos doentes, pelas nossas estruturas e pelo grande carisma que o fundador nos transmitiu".
Eis a entrevista.
Mas esse infeliz episódio foi um raio em céu sereno ou vocês tiveram algum pressentimento?
"Um raio em céu sereno" – responde convicto o padre Guarise. "Certamente, também não faltavam problemas econômicos, mas eu nunca pensei que me encontraria em uma situação como esta."
No entanto, no momento da votação, o padre Salvatore foi reeleito por apenas dois votos. Sinal de que o capítulo estava dividido?
O padre Guarise especifica um detalhe até agora inédito: "O geral foi eleito com três votos de diferença" [portanto, no fim, o "sequestro" dos dois coirmãos teria sido irrelevante]. O padre Monks acrescenta: "Com efeito, os números levariam a pensar em uma divisão, mas eu posso assegurar que não havia lutas de poder ou de interesses. Só uma visão diferente das prioridades pastorais. Eu mesmo não tinha a menor intenção de me candidatar. Eu só aceitei em não retirar o meu nome quando alguns coirmãos me pediram. E quando o padre Renato foi eleito, eu fui o primeiro a abraçá-lo. Mesmo agora a ordem está unida, e juntos enfrentaremos a situação.
Quais são os próximos passos?
No domingo passado – destaca o vigário geral – tivemos uma reunião da Consulta estendida aos provinciais italianos e a dois gerais eméritos: além do aqui presente padre Frank, também o padre Angelo Brusco. Juntos decidimos, acima de tudo, a linha de colaboração e transparência com relação a quem investiga, para que a verdade venha à tona. Nós queremos bem a nossa ordem, mas não ao preço de mentir. Nos próximos dias, prosseguiremos à nomeação de um advogado civil, obviamente diferente daquele que defende o padre Renato. E também nos valeremos da ajuda de um especialista canonista, porque há a dúvida de que o capítulo em que o geral foi eleito é inválido e, portanto, deve ser refeito.
Quanto tempo deve se esperar para uma nova eleição?
As nossas constituições dizem que, quando o geral está ausente ou impedido, o vigário geral automaticamente assume as suas funções e que é preciso convocar um novo capítulo dentro de três anos. Mas eu acho que não levaremos todo esse tempo e pediremos à Santa Sé para que isso aconteça antes.
A respeito da Santa Sé, alguns jornais sugeriram um "comissionamento" da ordem. O que há de verdade nesses rumores?
O padre Monks responde: "Eu me encontrei na segunda-feira de manhã com o cardeal João Braz de Aviz, prefeito da Congregação para os Religiosos. E, antes, o padre Guarise também tinha sido recebido por ele. O cardeal aprovou as nossas decisões de domingo e nos encorajou a continuar no caminho da unidade, da transparência e da colaboração com a magistratura. Portanto, eu acho que não haverá procedimentos, porque, dentro da ordem, não há divisões ou confusões sobre como proceder."
E para enfrentar a grave situação econômica do hospital de Casoria, o que vocês vão fazer?
"Esse hospital – afirma o padre Guarise – não é uma ilha, pertence à nossa ordem e, portanto, está inserido em uma rede de solidariedade que, no momento oportuno, se houver necessidade, se ativará. Enquanto isso, a província da Sicília-Campana nos assegurou que os salários dos empregados são pagos regularmente e que há dinheiro para um número razoável de meses. Também faremos todo o possível para devolver os capitais desviados" [cerca de 10 milhões de euros mandatos para a Suíça, segundo a acusação].
Qual é o seu estado de espírito com relação ao padre Renato Salvatore e aos dois padres "sequestrados" contra os quais estão surgindo detalhes que, se confirmados, certamente não são edificantes?
O padre Monks afirma: "Obviamente não foi possível falar com o padre Renato. Mas, além das responsabilidades penais, se forem confirmadas em julgamento, ele continua sendo nosso coirmão, ao qual é justo mostrar compaixão. Com relação aos outros dois coirmãos, cuja situação certamente deve ser abordada, a sua província irá se ocupar. Se necessário, também com a nossa ajuda". O padre Guarise acrescenta: "Talvez esse caso poderia ter sido evitado, trabalhando mais em equipe. O geral confiou demais em algumas pessoas equivocadas, e nós, consultores, delegamos coisas demais a ele. Devemos valorizar o que aconteceu."
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''Estamos unidos para que se chegue à verdade'', afirmam camilianos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU