11 Novembro 2013
A homilia sobre a "deusa propina" é apenas "mais uma peça daquele magistério da justiça" que o Papa Francisco decidiu levar adiante com força. Dentro e fora da Igreja. Essa é a leitura do Mons. Mauro Cozzoli, professor de Teologia Moral da Pontifícia Universidade Lateranense.
A reportagem é de Stella Prudente, publicada no jornal Il Messaggero, 09-11-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Como as reformas do IOR e da Cúria – dentre outras – têm demonstrado, explica o renomado teólogo da Puglia, Bergoglio está lutando "pela plena transparência e correção no exercício do poder", também e principalmente no Vaticano.
Eis a entrevista.
Professor, ajude-nos a compreender melhor o sentido desse novo apelo de Bergoglio contra os ganhos provindos da corrupção, cujo hábito provocaria até mesmo "dependência" como uma droga.
A corrupção é um abuso do mais forte sobre o mais fraco que o induz ao mal. O papa falou de corrupção em conexão com a propina, figura simbólica de uma compensação ilícita oferecida a um funcionário público, ou requerido por este para receber ou para obter uma vantagem.
Há quem tenha lido um anátema contra os poderosos. Segundo o senhor, qual é o principal objetivo da intervenção papal nesta específica fase histórica e política?
O pontífice falou da corrupção através da propina como de um grande ato de injustiça, que polui a justiça social. Como tal, é um mal social. Na medida em que se torna uma forma habitual de agir, o hábito à corrupção, disse o pontífice, é uma praga social e política.
O papa descreveu o cenário de uma verdadeira epidemia.
Nos nossos dias, o sentimento comum e o maior risco é o do "così fan tutti" [assim fazem todos]. Por isso, o pontífice insistiu tanto no fato de que a corrupção cria dependência e se reverbera em detrimento dos honestos e dos pobres.
Não é a primeira vez que Francisco adverte contra os corruptos. Em junho, ele os tinha definido como "o Anticristo em meio a nós". Por que Bergoglio se preocupa tanto com esse tema?
A denúncia do Papa Francisco é outra peça daquele grande e importante magistério de justiça que ele está desenvolvendo. Deve-se notar que ele não o faz só positivamente, com o anúncio do bem a ser feito, dos direitos a se reconhecer e a se promover, mas também com a denúncia do mal a se evitar, dos furtos e dos roubos por obra de astutos e ladrões. Ontem foi a vez da corrupção.
Podemos falar de ruptura, senão de revolução do papa jesuíta com relação aos seus antecessores?
O anúncio e a denúncia no campo da justiça não são uma novidade de Francisco. São um ensinamento da doutrina social e do catecismo da Igreja Católica. A diferença é que este papa consegue ser menos doutrinal e mais simples e persuasivo ao comunicar os mesmos conteúdos. Com a sua linguagem figurada e imediata, ele tem uma grande reverberação, um forte impacto nas consciências.
Na homilia dessa sexta-feira na Domus Santa Marta, no entanto, o alvo parecia ser os próprios ambientes eclesiásticos. Com a parábola do administrador desonesto, Bergoglio, por acaso, não quis criticar uma certa gestão da Cúria Romana?
É verdade. O Papa Francisco volta a denúncia de corrupção também para dentro da Igreja, onde ele está trabalhando pela plena transparência e correção no exercício do poder. Parece-me que o exemplo do IOR está agora diante dos olhos de todos.
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A ''deusa propina'' e a denúncia de Bergoglio - Instituto Humanitas Unisinos - IHU