25 Outubro 2013
A taxa de desemprego nas seis principais regiões metropolitanas em setembro ficou praticamente estável em relação a agosto, ao subir de 5,3% para 5,4% da População Economicamente Ativa (PEA), segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Essa estabilidade, no entanto, só ocorreu por causa da saída do mercado de um grande contingente de pessoas.
A reportagem é de Arícia Martins e publicada pelo jornal Valor, 25-10-2013.
De agosto para setembro, 119 mil pessoas entraram na População Não Economicamente Ativa (PNEA), que aumentou 0,6% no período, para 18,46 milhões. Na mesma comparação, a população ocupada subiu apenas 0,1%, e a População Economicamente Ativa (PEA) teve crescimento zero.
Em relação a setembro de 2012, a população não economicamente ativa teve expansão mais forte, de 2,5%, segundo cálculos da LCA Consultores. Os maiores responsáveis por esse movimento foram pessoas mais velhas, de 50 anos ou mais - alta de 8,5% na parcela de "inativos" sobre setembro do ano passado - e, também, a faixa etária de 18 a 24 anos, com avanço de 1,7%. Nos demais segmentos (10 a 14 anos, 15 a 17 anos e 25 a 49 anos), houve retração na PNEA.
Para o economista Fabio Romão, da LCA, a maior saída de pessoas do mercado de trabalho reflete o aumento da renda familiar, que estimula os jovens a voltarem a estudar ao invés de trabalhar, e o maior contingente de pessoas mais velhas que conseguem se manter apenas com a aposentadoria. Entre setembro de 2003 e setembro de 2013, a população que não tem uma ocupação, e não está em busca de um emprego, cresceu 6,3%, calcula o economista. De janeiro a setembro de 2013 sobre o mesmo período do ano passado, a PNEA ficou 0,9% maior.
Romão afirma que o único ponto fora da curva referente a setembro, mas que também foi observado em outros meses de 2013, está na queda de 2,6% de jovens de 15 a 17 anos, em relação a setembro de 2012, dentro da PNEA. Desde a década passada, lembra o economista, essa faixa etária tem contribuído para a expansão da PNEA, ao lado do grupo de 50 anos ou mais. "Isso faz sentido, porque a renda desacelerou muito na primeira metade do ano e esses jovens podem ter partido em busca de uma ocupação para complementar o orçamento familiar."
Essa trajetória, no entanto, tende a perder força, caso os salários continuem em recuperação, diz o economista da LCA. Em setembro, com ajuda da perda de fôlego da inflação em 12 meses, o rendimento médio real dos ocupados subiu 2,2% em relação ao mesmo mês do ano passado, acima da alta de 1,3% registrada em agosto na mesma comparação.
Sarah Bretones, da MCM Consultores, destaca que, mesmo após ajuste sazonal, a população não economicamente ativa aumentou em setembro - 0,7% na comparação com agosto, segundo seus cálculos. Para ela, esse movimento é de longo prazo e está relacionado - além dos aposentados e da entrada mais tardia de jovens na PEA - a estudos com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), que indicam avanço dos chamados "nem-nem-nem": jovens que não trabalham, não estudam e nem procuram emprego.
O aumento dos inativos este ano pode ser explicado também por um "efeito desalento", diz Sarah. "A expectativa que o Produto Interno Bruto tenha uma alta próxima de zero abala a confiança", diz a economista, que menciona a perda de ímpeto da renda real como outro fator que pode ter desestimulado a procura por emprego em 2013.
O pesquisador Rodrigo Leandro de Moura, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), calcula que o rendimento médio real dos ocupados que têm entre 18 e 24 anos vem desacelerando com mais força do que entre adultos de 25 a 49 anos. No primeiro segmento, a renda real registrou alta de 2,2% na média dos 12 meses encerrados em setembro. No segundo, a expansão foi maior, de 2,8%. Já o desemprego entre os mais jovens passou de 12,2% em agosto para 12,7% no mês passado.
Para Moura, as condições "um pouco piores" do mercado de trabalho podem ter levado jovens nessa faixa etária a desistir de procurar uma colocação no mercado de trabalho, assim como os estudos, mas ainda é cedo para apontar indícios de um "efeito desalento" no aumento da população inativa. "Se o desemprego de longo prazo, em que a pessoa desiste de procurar emprego depois de um ano, estivesse aumentando, aí sim poderíamos falar de desalento, mas isso não está acontecendo."
O pesquisador afirma ainda que as pessoas de 50 anos ou mais, que representam 46% da PNEA, seguem aumentando a participação nesse grupo. Por uma questão demográfica, aponta Moura, há um fluxo maior de aposentados saindo do mercado de trabalho.
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Grupo dos que não procuram trabalho cresce e taxa de desemprego fica estável - Instituto Humanitas Unisinos - IHU