23 Outubro 2013
O escândalo financeiro na Diocese de Limburgo, na Alemanha, coloca o papa diante da necessidade de escolher: se deixa Tebartz-van Elst no cargo, deverá dar uma explicação fundamentada para tal escolha, para não faltar à sua palavra. De fato, Francisco é visto por aqueles que querem reformas na Igreja como o libertador que deve afastar a Igreja dos caminhos equivocados das últimas décadas – e da grave crise da Igreja alemã. Essas questões são abordadas pelo urbanista alemão Christian Weisner, um dos seis porta-vozes da equipe alemã do movimento Nós Somos Igreja.
A reportagem é de Britta Baas, publicada no sítio Publik-Forum.de, 16-10-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis a entrevista.
Franz Peter Tebartz-van Elst colocou o seu destino de bispo nas mãos do papa. Que resultado terá no Vaticano uma decisão sobre o "caso Limburgo"?
A decisão só pode ser que o Vaticano decrete uma renovação de pessoas para a Diocese de Limburgo. E só posso esperar que Tebartz-van Elst encontre bons conselheiros que se preocupam com ele pessoalmente também. Para o papa, trata-se de uma situação muito delicada e desconfortável. Agora que finalmente volta a esperança de superar a crise da Igreja, chega um gol contra da Igreja alemã.
Margot Kässmann, bispa evangélica, em 2010, anunciou autônoma e rapidamente a sua renúncia. Na Igreja Católica Romana, um bispo não pode decidir sozinho ir embora, ele precisa da aprovação do papa. Um erro estrutural?
Sim. Um bispo católico romano não é obrigado a prestar contas ao povo, mas somente a Deus e ao papa. Os bispos dessa Igreja são inseridos nesse cargo "de cima" e só podem ser destituídos de cima. Esse "erro estrutural", como você o definiu, é intencional, de modo que a estrutura de poder não seja incerta. Por isso, é ainda mais importante no futuro que se examine profundamente quem deve se tornar bispo. E ainda mais importante é envolver o povo nessa escolha.
O Papa Francisco está no cargo há alguns meses, e o movimento Nós Somos Igreja está evidentemente entusiasmada com ele. Diz-se que a sua direção reformadora parece clara. Ele é indicado como um "modelo". Quer-se apoiá-lo e contrapor-se fortemente às fortes resistências que se delineiam. Francisco, então, simplesmente faz tudo certo?
O Nós somos Igreja está pronto para apoiar as suas escolhas de reforma – mas somente se forem "sem compromissos". E devemos combater as resistências ainda fortes dentro da Igreja. Mas notamos desde já que valeu a pena resistir com o Nós Somos Igreja por 18 anos. Este papa faz reviver momentos centrais do Concílio Vaticano II e do Pacto das Catacumbas, no qual bispos de todo o mundo prometeram querer viver como pobres entre os pobres, promover uma "Igreja dos pobres". Agora temos um papa que também quer isso! Com ele, finalmente temos a oportunidade de nos tornarmos Igreja na direção do Concílio Vaticano II. Francisco, desde já, influenciou o clima em favor de uma maior consideração dos fiéis, em favor do diálogo, em favor da descentralização da Igreja. Mas essa mudança de clima deve ser o mais rapidamente possível validado teologicamente e com uma política eclesial, de modo que um próximo papa não possa anulá-lo com um simples "canetaço".
Mas o Papa Francisco não parece querer se pôr a mudar documentos, a discutir ou a fixar inovações teológicas de caráter fundamental. Você espera isso seriamente?
Toda mudança começa no coração e na cabeça. Você pode ficar certo: os sinais do papa são entendidos. Ele usa para as suas mensagens não o velho meio das encíclicas, mas o novo, das entrevistas e das declarações públicas. Desse modo, a sua palavra não aparece acima de tudo no L'Osservatore Romano, isto é, no jornal do Vaticano, mas por exemplo nas revistas dos jesuítas difundidas em todo o mundo e alcança deste modo a elite teológica global. É publicado no jornal liberal italiano La Repubblica, um importante meio laico. E o que aparece aí é publicado depois no L'Osservatore Romano. Tal comportamento é completamente novo para um papa. E depois o seu modo de se apresentar tem consequências políticas. O que ele tinha a dizer em Lampedusa sobre a dramática situação dos refugiados foi ouvido em todo o mundo. No entanto, é verdade que nós precisamos também de mudanças estruturais na Igreja Católica. No entanto, como este papa acusa o clericalismo e o triunfalismo, que nós estamos experimentando justamente na Diocese de Limburgo, eu tenho a esperança de que também haverá mudanças estruturais.
A esperança no papa e no seu potencial de transformação da Igreja não significa nada mais do que: um "bom pai" em Roma já é meio caminho andado. Francisco parece ser uma espécie de "fantasma" de João XXIII, que para os católicos italianos traz o apelido afetuoso de "papa bom". Antes e entre esses dois papas, no entanto, havia outros no leme, que tinham ideias e ideais completamente diferentes. A eterna esperança em um "papa bom" em Roma não é, talvez, um pouco estressante?
Há essa nostalgia de um pai benevolente e misericordioso, que corresponde à nostalgia de um Deus benevolente e misericordioso. Pessoalmente, eu também acho que ter uma voz que fala com autoridade e que é ouvida em todo o mundo é uma grande vantagem. Uma voz assim é, por exemplo, ao lado da do papa, a do Dalai Lama. Uma voz assim também era, em seu tempo, João XXIII, que foi papa por apenas cinco anos. Ele abriu o Concílio Vaticano II, reforçou a colegialidade dos bispos, reavaliou o povo de Deus. O trágico é que, depois da sua morte, muitas coisas foram anuladas; em particular a reforma do Direito Canônico em 1983 foi um passo para trás. Com Francisco agora temos uma nova oportunidade – talvez a última – para que a Igreja Católica entre em um caminho positivo. Para fazer isso, Francisco não precisa convocar um novo concílio, porque o último concílio ainda não foi realmente implementado. Temos as diretrizes do Concílio Vaticano II – que, naturalmente, devem ser atualizadas, particularmente com relação aos direitos das mulheres na Igreja – e agora devemos implementá-las.
Mas o Concílio Vaticano II também não se separou da estrutura hierárquica da Igreja Romana. Na Diocese de Limburgo volta-se a ver que consequências isso tem: só Roma pode decidir sobre essa crise. Muitas católicas e muitos católicos, enquanto isso, estão agora simplesmente exaustos. Eles desejam ardentemente uma solução que deve chegar do bom pai no Vaticano. Você não sente isso como uma catástrofe da gestão conjunta?
Estou convencido de que também do ponto de vista vaticano é absolutamente irritante o fato de que não podemos resolver localmente o problema de Limburgo. Agora, os romanos são forçados a sondar: a corja dos bispos Müller, Meisner, Voderholser ainda está ativa? Quão poderosa é essa corja? É influente o suficiente para impedir a destituição de Tebartz? E a segunda coisa que o Vaticano deve lidar agora é que, no fundo, Tebartz-van Elst, com o seu comportamento, coloca em discussão todo o sistema alemão de financiamento das Igrejas. Porque agora tornou-se de domínio público que, em parte, os bispos católicos nesse país podem dispor de riquezas imensas que foram acumuladas junto à respectiva "bischöflicher Stuhl"(1). O fato de que outros bispos não disseram muito mais cedo que em Limburgo as coisas não podiam continuar assim, que o conselho de administração do patrimônio do bispo permaneceu em silêncio durante anos, que o Círculo Hofheimer dos padres críticos da diocese não tenha protestado de forma mais enérgica contra gestão de Tebartz – são todos pontos sobre os quais, digo eu, teria sido necessária a gestão conjunta. Uma gestão conjunta que não foi salvaguardada.
E agora Francisco pode sistematizar tudo isso?
Com o Papa Francisco, ao menos há a possibilidade de um novo início, de uma mudança radical, de uma definição totalmente nova da Igreja. A questão é: os bispos têm a vontade de seguir a linha reformadora do papa? Profissões de fé formais não são suficientes. Mas eu não vejo ainda muito mais entre os bispos alemães.
Nota:
1 – A "bischöfliche Stuhl" (literalmente, a cadeira do bispo) é acima de tudo o cargo do bispo. Em caso de morte do bispo ou de aceitação da renúncia por parte do papa, a "bischöfliche Stuhl" é vacante. Além disso, a "bischöfliche Stuhl" também é um sujeito jurídico e patrimonial, e entidade de direito público. Ela pode dispor de valores patrimoniais e administrá-los sem ter que prestar contas.
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O ''gol contra'' de Limburgo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU