18 Setembro 2013
Para o Papa Francisco, limpar o IOR é crucial. Os seus eleitores pediram isso no conclave, começando pelos cardeais norte-americanos. Em breve, a comissão de reforma, liderada pelo cardeal Farina, lhe fornecerá as primeiras orientações. "O meu compromisso – afirma Ernst von Freyberg, 55 anos, presidente do banco desde o dia 15 de fevereiro – é modificar a má fama do IOR e fazer dele uma instituição financeira moderna, eficiente, discreta. Plena transparência e total conformidade com as regras internacionais".
A reportagem é de Marco Politi, publicada no jornal Il Fatto Quotidiano, 15-09-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Estrita observância às normas contra a lavagem de dinheiro. Três fatores, enquanto isso, limparam o campo de obstáculos do passado. O cardeal Bertone foi aposentado, o caso Scarano decapitou a antiga cúpula do IOR (Paolo Cipriani e Massimo Tulli), e as revelações sobre a correspondência de Gotti Tedeschi demonstraram que ter um banqueiro alemão na presidência, estranho às manobras da Italietta, era providencial.
Desde maio, a agência internacional Promontory instalou uma equipe de 20-25 pessoas no Salão dos Presidentes do IOR e faz a radiografia das contas dos 13.700 clientes individuais do banco (ou seja, não as entidades religiosas): 5 mil funcionários vaticanos, cerca de 8 mil padres, freis e irmãs, e 700 diplomatas e "outros". No fim de agosto, haviam sido controladas 3.200. No IOR, a quantidade total das contas correntes individuais é de 1,1 bilhão, correspondendo a 15% do patrimônio do banco.
Em retrospecto, o escândalo do Mons. Scarano, o empregado vaticano (chefe da contabilidade da Administração do Patrimônio da Sé Apostólica) que planejava importar ilegalmente 20 milhões de euros da Suíça servindo-se das suas contas do IOR, foi providencial para acelerar o processo de limpeza.
"Um choque positivo", admite Freyberg. "Certamente, era frustrante ficar sabendo do caso pelos jornais – continua –, mas tínhamos uma equipe para enfrentá-lo. Estávamos no pântano, mas em uma reunião de seis horas pusemos ao trabalho cinco empregados para analisar dez anos de operações de Scarano. O resultado foi um relatório de 89 páginas transmitido à Autoridade de Informação Financeira (o órgão de controle vaticano)".
Ano após ano, coluna após coluna, os tráficos de Scarano estão postos preto no branco. Nunca no IOR havia sido feita essa verificação desse tipo. Descobriu-se que o monsenhor de Salerno teve na última década nada menos do que dez contas correntes (e não duas, como se sabia até então), das quais cinco estão vazias neste momento, três estão ativas, e duas em depósito. Scarano operava com diferentes moedas. Em dez anos, houve movimentações de 7 milhões de euros: 4,7 milhões de entrada e 2,3 milhões de saída. As contas foram imediatamente congeladas.
O relatório do IOR e o relatório paralelo da AIF permitiram que Francisco, voltando do Brasil, declarasse com inédita franqueza aos jornalistas: "Temos esse monsenhor na prisão, porque não era nada santo".
Francisco acompanha o IOR o passo a passo. A sua pessoa de referência, Dom Ricca, nomeado no dia 15 de junho como prelado interino do banco vaticano, participa das reuniões diretivas. "Ele ouve atentamente, faz perguntas concretas e transmite para cima", dizem dele no IOR.
Não é raro que Freyberg veja chegar documentos com anotações de Francisco. "É agradável – afirma – receber observações escritas à mão pelo papa".
Eu encontro Freyberg quando o cardeal Farina recém saiu do seu escritório. Em poucos dias, se reunirá o Conselho de Superintendência do banco. Agora, o ritmo de análise dos especialistas da Promontory passou para 130 clientes por dia. "É uma account remediation abrangente", explica Freyberg. "Quem é o cliente? O seu passaporte? Há coisas sobre ele na internet? A quem pertence a assinatura delegada? Quanto ele saca todos os dias?".
Promontory segue uma metodologia precisa. Começou com os 2 ou 3 mil clientes de "alto risco". O que não significa, automaticamente, negócios ilegais. Mas os parâmetros permitem descobrir. Baseiam-se nas listas norte-americanas de países considerados pouco confiáveis: Cuba, Irã, Nigéria, Síria, Sudão, apenas para citar alguns, ou que ao menos foram pouco transparentes do ponto de vista financeiro.
Consultam-se listas Peps: political exposed persons, personalidades conectadas com riscos políticos. Verificam-se volume e frequência das transações ou a repetição demasiada de operações oficialmente regulares (como o saque de dinheiro acima de 10 mil euros). "Há também clientes, que não nos agradam – especifica Freyberg –, que não correspondem às nossas regras, que foram enrijecidas".
Como o IOR se comporta? "Com quem não está em sintonia com o novo 'perfil' exigido, nós interrompemos as relações". Quantas são as contas suspeitas identificadas? "Um número de dois dígitos", responde, reticente. Em suma, várias dezenas. A J. P. Morgan retomou as relações com o IOR depois de tê-las interrompido por falta de transparência? O presidente não responde à pergunta.
Velhos empregados defendem que os padres individuais fazem muita bagunça, mas muitas vezes em nível médio. Um grande problema é representado pelas operações em dinheiro. Dos 2,2 bilhões de transações, elas representam 20%: isto é, 440 milhões de euros em dinheiro. A origem, dizem, é o fluxo de doações, que fluem para párocos ou prelados, e lá pode-se aninhar o imbróglio. Por isso, agora pedem-se declarações mais rigorosas. "E nós não damos mais do que 5 mil euros em dinheiro".
Freyberg assumiu um compromisso. Fechar para sempre as "contas externas", em nome de pessoas que não têm nada a ver com o Vaticano, o clero ou com os diplomatas em serviço. Contas abertas no passado para um Andreotti ou um Balducci, e sabe-se lá quem ainda. "Até o Natal – garante ele –, serão enviadas cartas a todos os titulares de tais contas" para fechá-las.
Diante de um olhar interrogativo, ele acrescenta: "Eles não poderão simplesmente desaparecer com o dinheiro ou levá-lo para as Ilhas Cayman. Nada de retirada de dinheiro. Eles só poderão transferi-los para países em conformidade com as normas internacionais. Se necessário, faremos um suspicious transaction report à Autoridade de Informação Financeira". Em caso de irregularidade.
No IOR limpo, os "depósitos deverão servir exclusivamente para obras de religião a serviço da Igreja", destaca Freyberg. Em dezembro, será feito o exame do comitê europeu Moneyval.
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IOR: ''Expulsaremos os maus clientes e não abriremos contas externas'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU