26 Agosto 2013
"O desejo do Papa Francisco de uma Igreja uma Igreja pobre, a serviço dos pobres, encontra eco em Dom Távora quando, após o Concílio, expressou seu sonho em ver uma Igreja cada vez mais missionária, evangélica, simples, sacramental, sustentáculo dos pobres, defensora intemerata da justiça social, de um ponto a outro do mundo, mestra constante das renovações necessárias, uma Igreja que representa, na verdade, de fato e indiscutivelmente, o Mistério do Cristo salvando a terra, salvando o homem, como único Salvador e ninguém mais", escreve Isaías Nascimento, padre da Diocese de Propriá, SE, autor do livro Dom Távora, O Bispo dos Operários, (Edições Paulinas)
Eis o artigo.
O 1º arcebispo de Aracaju, Dom José Vicente Távora, exerceu seu ministério em Aracaju desde março de 1958 a 03 de abril de 1970, quando faleceu precocemente. Era pernambucano de Orobó, nascido no dia 19 de julho de 1910 e, desde o tempo de seminarista e padre na Diocese de Nazaré da Mata, se dedicou à evangelização da classe operária rural e urbana, à luz da doutrina social da Igreja. Escrevia artigos nos jornais da região, formou escolas operárias, estimulou o sindicalismo, mobilizou encontros regional e nacional, etc. Por causa deste seu compromisso, aceitou o convite de atuar junto aos excluídos da Capital Federal, o Rio de Janeiro, junto ao Cardeal Câmara e o Pe. Hélder Câmara, cearense.
Eles marcaram as mudanças profundas na reestruturação da Igreja no Brasil, desde a criação da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) até o comprometimento dela com as diversas categorias sociais, tanto os operários urbanos e camponeses, estudantes secundaristas e universitários, através da Ação Católica. Articularam a Igreja em busca de soluções de combate à pobreza e ao analfabetismo no Brasil, a exemplo do MEB (Movimento de Educação de Base) e suas Escolas Radiofônicas, que forjou os primeiros sindicatos dos trabalhadores rurais de vertente católica, suas federações, e com eles, o estímulo à luta pela reforma agrária. Ele participou de todas as quatro sessões do Concílio Vaticano II, realizado em Roma no período de 1962 a 1965.
O Papa Francisco foi eleito no dia 13 de março deste ano. O cardeal Jorge Mario Bergoglio é argentino e é o primeiro papa latino americano e jesuíta. Ele foi eleito num contexto em que a Igreja vive sacudida por uma variedade de escândalos, por lutas internas e pela histórica renúncia do papa Bento XVI. No terceiro dia após sua eleição, dia 16, um sábado, na audiência com os jornalistas que deram cobertura ao Conclave que o elegeu, ele manifestou um desejo: "Ah! Como gostaria de ver uma Igreja pobre, a serviço dos pobres".
Este desejo do Papa, remota às vésperas da abertura da segunda sessão do Concílio Vaticano II, dia 29 de setembro de 1963, quando Dom Hélder Câmara, à época Arcebispo Auxiliar do Rio de Janeiro, publicou umas folhas mimeografadas sob o título Troca de Ideias Entre Irmãos Bispos, trazendo entre vários temas, o Em Busca da Pobreza Perdida, que ganhou repercussão na imprensa mundial. Este tema trazia propostas concretas a serem analisadas pelos bispos conciliares, a fim de que a hierarquia (Papa, bispos, padres...) da Igreja e a cúria romana se despojasse das riquezas, das pompas, títulos honoríficos, o ouro e a prata, a fim que pudessem resplandecer ao mundo como servidora de Cristo, e como Cristo, que se colocasse concretamente a serviço dos pobres.
Neste espírito, durante o Concílio, surgiu um grupo de mais de 500 bispos que ficou conhecido como Igreja dos Pobres. Eles assinaram o famoso Pacto das Catacumbas, em que assumiram compromisso de vida pobre e a serviço da causa dos pobres, emprestando a estes seu poder e sua voz. A maioria dos bispos brasileiros assinou o Pacto. Os bispos de Sergipe, Dom José Távora e Dom José Brandão, de Propriá, foram signatários e foram coerentes com o Pacto: assumiram um estilo de vida austero e de compromisso com os excluídos do seu tempo e, por isso, foram perseguidos.
Enfim, o desejo do Papa Francisco encontra eco no de Dom Távora quando, após o Concílio, expressou seu sonho em ver uma Igreja cada vez mais missionária, evangélica, simples, sacramental, sustentáculo dos pobres, defensora intemerata da justiça social, de um ponto a outro do mundo, mestra constante das renovações necessárias, uma Igreja que representa, na verdade, de fato e indiscutivelmente, o Mistério do Cristo salvando a terra, salvando o homem, como único Salvador e ninguém mais.
Conforme o Papa Francisco, e em sintonia com este espírito do Concílio, o Documento de Aparecida, elaborado pelos bispos Latino-Americanos e do Caribe, no período de 13 a 31 de maio de 2007, é o referencial pastoral para a nossa realidade de hoje.
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Dom Távora e o desejo do Papa Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU