13 Agosto 2013
"Este sangue não deve ser esquecido". A angústia do papa filho de migrantes se torna linha de ação para a rede de ajuda da Igreja e advertência para as instituições nacionais e internacionais. São necessários canais humanitários e mais recursos para a acolhida. Ao holocausto no Mediterrâneo (35 mil vítimas em 15 anos), Francisco consagrou, há um mês, a viagem de estreia do pontificado.
A reportagem é de Giacomo Galeazzi, publicada no jornal Corriere della Sera, 11-08-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
"Antes e depois da visita a Lampedusa, as tragédias do mar estão no topo das suas preocupações. Ele pede todos os dias clipagens da imprensa e dossiês sobre a imigração. Eu mesmo já discuti a respeito disso com ele várias vezes", explica o porta-voz da Santa Sé, padre Federico Lombardi.
Depois de ter ficado sabendo pela mídia sobre o afogamento de seis extracomunitários a poucos metros da costa da Catânia, o papa logo se documentou sobre a emergência. Na linha de frente, estão o dicastério vaticano dos migrantes e o Serviço Jesuíta aos Refugiados.
Francisco se informou sobre a dinâmica do incidente ocorrido perto da costa. Ele buscou conhecer os dramas pessoais que se escondem por trás do frio boletim das vítimas, as condições dos sobreviventes e as responsabilidades em mais um massacre de inocentes.
"Todas as nossas conversas sempre acabam abordando a tragédia dos boat people", afirma o cardeal Antonio Maria Vegliò, ministro vaticano da Imigração. "Assistimos a um recrudescimento devido a fatores internacionais. O pontífice acompanha constantemente a evolução dos acontecimentos e está angustiado principalmente pela situação dos refugiados sírios. A Itália se mostrou atenta e generosa no alerta lançado por Malta e mereceu a apreciação da Comissão Europeia".
Diante dos seis cadáveres de Catânia, "o papa pede que eles não sejam esquecidos por causa da indiferença" e exorta a "construir novas medidas de proteção internacionais e de cidadania global", explica o Mons. Giancarlo Perego, diretor da fundação Migrantes, da Conferência Episcopal Italiana.
O trágico desembarque indica "não só uma nova meta na Sicília, mas também um novo povo em fuga: o sírio que foge da guerra civil". Até hoje, "a maior parte dos refugiados sírios se dirigia para os países fronteiriços, em particular para o Líbano". Agora, enfatiza Perego, "os recém-chegados pedem canais humanitários que acompanhem as pessoas em fuga, um melhor investimento de recursos, um programa de acolhida na Europa para os refugiados e as pessoas forçadas a uma migração forçada".
Na estratégia de Bergoglio, observam na Cúria, deter o massacre dos migrantes é uma prioridade, assim como para Wojtyla foi o fato de manter viva a Igreja Oriental sufocada pelo comunismo. "Francisco quer derrubar o muro entre Norte e Sul do mundo, como João Paulo II derrubou o de Berlim entre Oriente e Ocidente", aponta um colaborador próximo do papa. "Combater a 'globalização da indiferença' é a principal missão geopolítica e espiritual da Igreja pobre para os pobres, a nova guerra fria a se vencer contra o egoísmo".
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''Esse sangue não deve ser esquecido''. A angústia do papa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU