06 Agosto 2013
Ela preferiria ter descoberto que tinha uma doença terrível. Quando Tim entrou na sala e lhe disse: "Mãe, sente-se", de todas as coisas que ela poderia aceitar descobrir, não havia o fato de que o seu filho era homossexual. E, sentada olhando para o homem que tinha crescido, estudando cada um dos seus detalhes, tinha pensamentos que, se os dissesse em voz alta, correria o risco de ir para o inferno.
A reportagem é de Martina Castigliani, publicada no jornal Il Fatto Quotidiano, 05-08-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
"Mãe, eu sou gay". O anúncio de Timothy Kurek veio em uma tarde quente aos seus 26 anos. Ar estranho e um anel na orelha. Palavras como fuziladas no Sul dos Estados Unidos, naquele famoso Bible Belt (o "Cinturão da Bíblia", ou seja, os Estados do interior, os mais religiosos e conservadores), que se esforça para aceitar aqueles que cometem pecado e, sobretudo, tem regras férreas a serem respeitadas.
Timothy Kurek era um deles, da comunidade cristã evangélica de Nashville, no Tennessee. Depois, decidiu fingir que era gay por 365 dias. "Por empatia, para entender o efeito que tem estar na sua pele, para ouvir a voz que, dentro de mim, dizia que isso não era pecado e que amar outro homem não podia realmente ser a causa dos males do mundo".
Assim nasceu o livro The cross in the closet, diário de um rapaz que optou por fingir ser outra pessoa. Uma viagem que ele chama de "experiência" e que começou com uma amiga que, um dia, foi ao encontro de Tim para contar que era lésbica.
"Tudo começou a partir daquele instante. Crescemos juntos, amigos de infância, companheiros de brincadeiras. Ela caiu nos meus braços chorando, admitiu aquilo que, para todos, era uma culpa: ser lésbica. Eu me perguntei: como é que três palavras podem te excluir para sempre da minha vida?".
Foi assim que ele tomou a decisão, enquanto apertava aquela que deveria ser pecado e, ao invés, era Nina, a menina que havia enxugado as suas lágrimas, puxado os seus cabelos e que o havia acompanhado para comprar sapatos no centro da cidade há 15 anos. "Eu escolhi uma vida sob cobertura. Uma tia era minha cúmplice. Eu comecei pelo coming out com amigos e parentes. Eu sei muito bem que não é a mesma coisa para uma pessoa gay, mas certamente foi um percurso que me fez entender muitas coisas".
Nas páginas do diário de Timothy, os primeiros dias são histórias de dor, de uma família que tenta aceitar a condição que sempre considerou como pecado, mas que sofre em silêncio, como se uma desgraça tivesse sido anunciada. E as três palavras pronunciadas de repente, "Eu sou gay", marcam o fim de um mundo.
"O mais absurdo foi ver os meus amigos desaparecerem ao meu redor. Há uma frase de Martin Luther King que eu trago impressa por toda parte: 'No fim, não são as palavras dos inimigos que vamos lembrar, mas sim o silêncio dos nossos amigos'. Para mim foi assim, questão de semanas, e muitos desapareceram".
Depois, a mudança de vida: Kurek começou a namorar com um amigo que estava a par da experiência e procurou trabalho em um bar gay. "Não foi fácil. Eu comecei a frequentar os locais e os mundos daqueles que amam as pessoas do mesmo sexo. Eu queria entender. Vi as partes divertidas e as mais dolorosas".
Durante um jogo de softball, um homem da torcida o insultou. Gritos de "bicha", passando pelos deboches, até chegar a ataques ainda mais pesados. "Eu sempre estive do outro lado e de repente me vi sofrendo aquelas palavras". Assim, a força que Timothy buscava no Senhor ele a encontrou na diversidade.
Gays e lésbicas que fazem um carnaval com cores e roupas e que fazem uma trincheira com uma cotidianidade entre obstáculos. "Como homem que os considerava como pecadores, agora eu os admiro muito. Admiro a força de ânimo e a vontade, a resistência. Pessoas únicas que são felizes por ter entre os amigos e que têm muito a me ensinar".
Dessa resistência, há a nostalgia de uma vida normal. Ser pessoas do dia a dia, ter direitos e deveres assim como os outros. Poder se casar. A comunidade gay vive de faltas, por causa de uma escolha que os faz corajosos, mas que, bem ou mal, continuam como feridas abertas lembrando-os que são diferentes. "Eles não se casarão, a menos que ultrapassem a fronteira, para o Norte. E não terão filhos. Isso é uma dor. Como se o seu amor fosse sempre defeituoso".
Relação com a fé
Nesse sofrimento, Timothy viu a ponta de um iceberg, observador privilegiado que sabia que poderia voltar atrás assim que quisesse. Mas o verdadeiro parto foi a relação com a fé. "Durante o tempo todo, eu continuei me professando cristão evangélico. Eu ia à igreja e praticava a fé como se nada tivesse acontecido. Mas, por dentro, carregava a dor de um parto, a necessidade de entender quem estava errado, se a minha fé ou os outros".
Educado no dogma e nos mandamentos, instruído para pensar os gays como pessoas diferentes a serem afastadas, Timothy colocou em discussão todo ponto de referência. "Eu entendi que quem estava errada era a minha fé. A igreja deve aceitar aqueles que são diferentes, as adoções, gays e os casamentos entre pessoas do mesmo sexo. É amor e não pode estar errado. O mundo é muito menor do que aquilo que pensamos, e não se pode passar o tempo todo criando guetos e escondendo existências. As nossas religiões, infelizmente, muitas vezes, só ensinam estereótipos".
Um ano depois, Timothy Kurek tem um livro que, na Itália, ainda está à procura de uma editora e que conta a história de um homem que se colocou no lugar daqueles que eram considerados o demônio para tentar entendê-los. Uma história não completa, onde falta a realidade e o verdadeiro peso das coisas. Mas que é um primeiro passo para a tolerância.
Timothy viaja o mundo para contar a mudança e, nas suas etapas, também foi visitar o liceu Tasso, de Roma, para falar com os jovens sobre homofobia. Daquelas ficções e jogos disfarçados permaneceu a página de diário de uma mãe que escrevia que preferia ter uma doença a ter um filho homossexual e que acabou acompanhando-o nas Paradas Gays. Porque a parte mais difícil de se acreditar que o mundo vai acabar é descobrir que, no dia seguinte, o Sol surge igualmente. E muitas vezes é o sinal de um novo início.
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Gay por um ano: ''Foi assim que eu senti o ódio na minha pele'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU