25 Junho 2013
"O levante da juventude francesa no ano de 1968 é café pequeno face ao massivo empoderamento da juventude brasileira. Na nossa só faltaram as flores para ultrapassarem até no aspeto poético canto “Revolução dos Cravos” de Portugal que conseguiu vitória total com o defenestramento do ditador Salazar e seus seguidores. Depois de uma semana em que o Brasil tremeu de sul a norte, a vitória dos jovens é agora também Ameríndia e mundial. Por ocasião daquela de Paris alguém criou a sentença que virou provérbio no país de Gales: “quando a juventude perde o seu entusiasmo, o mundo bate os dentes de frio”. Em bom francês: « quand la jeunesse perd son enthousiasme, le monde claque les dents », escreve Antonio Cechin, irmão marista e miltante dos movimentos sociais.
Eis o artigo.
Grândola Vila Morena
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti, ó cidade
Dentro de ti, ó cidade
O povo é quem mais ordena
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada esquina, um amigo
Em cada rosto, igualdade
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada rosto, igualdade
O povo é quem mais ordena
À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade
Jurei ter por companheira
Grândola, a tua vontade
Grândola a tua vontade
Jurei ter por companheira
À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade
(Zeca Afonso)
Um sinal dos tempos?... Um milagre?... Um novo triunfo da humanidade?... Um novo pentecostes?... Como designar esse maiúsculo empoderamento juvenil, desencadeado aqui nas Terras do Rio Grande, espraiando-se em seguida para todo o Brasil, desbordando para a Ameríndia e dando sinais de ter arribado até na Europa?... O fato é que estamos todos boquiabertos diante do inesperado e do quase impossível de algum dia poder acontecer.
Lembro que no ano de 2006, 250º aniversário do martírio do maior herói-santo popular dos índios da Ameríndia, o grande “Facho de Luz” de nome Sepé Tiaraju, os Movimentos Populares do Rio Grande do Sul se empoderaram na Terra Santa dos Guarani dos Sete Povos das Missões. Foi num contato de uma semana de duração, na presença de quase 2000 índios de tribos as mais diversas do Brasil e da Ameríndia, na Sanga da Bica da cidade de São Gabriel, nos exatos lugar e dia em que aconteeceu a tortura e a chacina dos milhares de mártires guarani. Celebrávamos o precioso sangue de Sepé e 1.500 companheiros que, naquela abençoada sanga, embebeu por inteiro o solo rio-grandense.
No dia 7 de fevereiro de 1756 São Sepé “tomara no céu posição” (“O Lunar de Sepé” poema de Simões Lopes Neto). Suas cinco chagas abertas por lanças e pistolas assassinas dos exércitos de Espanha e Portugal viraram as 5 estrelas que, no céu se constituíram na constelação do Cruzeiro do Sul.
“Mais um valente guerreiro
A morrer pelo seu pago
É por isso que seu nome é sagrado
São Sepé subiu pro céu
Sua Cruz ficou no azul
Cai a noite ela rebrilha
Ele é o Cruzeiro do Sul” (Barbosa Lessa)
O martírio foi no dia 7 de fevereiro de 1756. Transcorridos 250 anos desde a tragédia da Sanga da Bica, no ano de 2006, os movimentos de jovens Levante Popular e Mulheres Campesinas foram se empoderar nas pegadas do herói-santo guarani através de um rito de recanonização popular, a fim de se energizarem de uma sadia e forte militância juvenil em prol de um Brasil melhor.
Sinal claro do empoderamento de que eles e elas estavam possuídos, as jovens mulheres tomaram a dianteira apenas três dias depois. Duas mil camponesas organizadas destruíram os viveiros de eucaliptos transgênicos, sob o mote de que necessitavam de terra para plantar para irmãos e irmãs pobres e famintos da nação e não de florestas de eucaliptos exógenos nas fazendas dos grandes latifundiários, como matas inteiramente silenciosa, porque avessas a pássaros de qualquer espécie, plantadas em fileiras bem ordenadas, umas atrás das outras, como se as plantas fossem um exército de militares em ordem de batalha, prontos para a guerra.
Passado apenas um setenário de anos, eis que neste mês de junho-2013, é a vez do empoderamento de milhões de jovens desta terra Brasil de ambos os sexos, no arrastão dos quais, não poucos adultos, até pais de família acompanhados de seus filhos. O mundo inteiro tem que tirar o chapéu, embasbacado que está diante de tão insólita façanha. Nós, todos os brasileiros de boa vontade, cheios de orgulho com nossos jovens, estamos rindo à toa. Diante da copinha esportiva, nossos jovens estão levantando a Copa do Mundo dos valores mais universais: a paz e a fraternidade humana, através da vontade ferrenha de PARTICIPAÇÃO em tudo, particularmente na construção de um Brasil melhor.
O levante da juventude francesa no ano de 1968 é café pequeno face ao massivo empoderamento da juventude brasileira. Na nossa só faltaram as flores para ultrapassarem até no aspeto poético canto “Revolução dos Cravos” de Portugal que conseguiu vitória total com o defenestramento do ditador Salazar e seus seguidores. Depois de uma semana em que o Brasil tremeu de sul a norte, a vitória dos jovens é agora também Ameríndia e mundial. Por ocasião daquela de Paris alguém criou a sentença que virou provérbio no país de Gales: “quando a juventude perde o seu entusiasmo, o mundo bate os dentes de frio”. Em bom francês: « quand la jeunesse perd son enthousiasme, le monde claque les dents ».
A grande imprensa capitalista e burguesa do Brasil, num primeiro momento assustada, não sabia como construir as notícias. A partir da ideologia capitalista da classe dominante que diuturnamente noticiam, se apavoraram e usaram expressões as mais negativas possíveis sobre a frente massiva de jovens em Porto Alegre de cuja cidade partiu o estopim.
Quando dois dias depois, na maior cidade do Brasil, em São Paulo, começaram os jovens a se comunicar através do facebook com o mote “Vamos imitar Porto Alegre”, a grande mídia iniciou sua busca de explicações, consultando até sociólogos de além mar como foi o caso do especialista em América Latina, Alain Touraine.
Hoje, toda a grande mídia fala a mesma coisa, numa unanimidade absoluta. Tem prazer, jornais, rádios, TVs, em exibir o tempo todo imagens de vandalismo, violência, quebra-quebra Brasil a fora. Apenas uns 10 ou 15 segundos no máximo, de fala dos jovens que prepararam durante anos, para que o imposssível acontecesse, tendo como objetivo inarredável, o enchimento de ruas e praças em favor de um Brasil melhor.
Toda unanimidade é burra, dizia o teatrólogo Nelson Rodrigues. O que pensar então da unanimidade da imprensa falada, escrita, televisionada, eletrônica etc. etc.?. Sim, porque tudo o que o que existe de grandes meios de comunicação nesta nossa nação é de uma unanimidade total e absoluta. Do alto do seu conservadorismo opressor, os burgueses dão preferência para fatos escabrosos de violência, tortura e morte. Parece que até tem prazer nisso: esculachar tudo o que é do povo. Coisas boas, educativas, valores para a humanidade, disso eles ou não se ocupam ou noticiam com o máximo de parcimônia. Tomando a expressão de Nélson Rodrigues ao pé da letra, temos que dizer que nossa grande imprensa é burra ao cubo.
Vejam só todos, no Brasil e no mundo, o encanto, a verdadeira beleza de uma única frase, extraída da proclamação que fazem todos os Movimentos Populares que estão por trás do nome com que sintetizaram o objetivo inicial do empoderamento juvenil e que hoje está desdobrado em dezenas de outros que a massa jovem vai alinhando tendo em vista mudanças necessárias para o Bem Viver de toda a nação brasileira: (o negrito é meu)
“Assim, nos colocamos ao lado de todos que lutam por um mundo para os debaixo e não para o lucro dos poucos que estão em cima. Essa é uma defesa histórica das organizações de esquerda, e é dessa história que o Movimento pelo Passe Livre (MPL) faz parte e é fruto.”
Não podia nossa Juventude de Fé Cristã, escolher ocasião melhor para exibir seu empoderamento à nação, do que às vésperas da chegança de Papa Francisco, o papa dos Pobres ou como dizem os jovens “papa de um mundo novo para os debaixo”. No mês de março deste mesmo ano de 2013, o conclave acabou proclamando o nome de Francisco que o cardeal Bergoglio, arcebispo de Buenos Aires escolhera para si, como a dizer que a bandeira desfraldada pelo poverello de Assis seria a sua bandeira para o mundo dos pobres. Foi uma surpresa tão sensacional para nós da Ameríndia, da Catequese e Teologia Libertadoras, em tudo semelhante à que estamos vivendo hoje, diante da façanha da nossa militante juventude quanto em março passado, na mais lídima reabertura da primavera na Igreja, proclamada pelo bom papa João XXIII anunciando o Concílio Vaticano, recordei meu passado em Roma.
Quando da janela da basílica de São Pedro o cardeal camerlengo proclamou o solene habemus papam, me represento João XXIII. Numa das audiências com a imprensa do mundo, o repórter dos Estados Unidos interrogou papa Giovanni: “o que quer o papa com a celebração de um Concílio para a Igreja Católica”? João 23 levantou da cadeira em que estava sentado, foi até a janela do aposento, abriu-a de par em par e proclamou em bom italiano “ária fresca nella Chiesa” isto é Bons Ares para a Igreja. Em bom espanhol, que é a língua-mãe do papa Francisco, João XXIII realmente profetizou que logo ali adiante viria o atual papa seu herdeiro primaveril cardeal Bergoglio, agora Francisco. Em espanhol teria proclamado em março passado, não só a um único repórter, mas a toda a imensa massa de fieis na praça São Pedro esperando o anúncio da Boa Notícia “habemus papam”, abrindo a janela da Basílica: “Buenos Aires para la Iglesia Catolica: o cardeal Ameríndio Bergoglio, até ontem arcebispo da capital da Argentina.
Veio aí Francisco para uma longa primavera e muitos bons ares para nossa Igreja da Libertação que, após João XXIII, vivera uma curtíssima primavera, para em seguidinha, começar a bater os dentes de frio, e bota frio nisso aí.
Francisco sucede a um doloroso inverno para a Igreja da América Latina. Com Francisco estamos começando uma esplendorosíssima primavera!...
E... Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores
Geraldo Vandré
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não
Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Pelos campos há fome
Em grandes plantações
Pelas ruas marchando
Indecisos cordões
Ainda fazem da flor
Seu mais forte refrão
E acreditam nas flores
Vencendo o canhão
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Há soldados armados
Amados ou não
Quase todos perdidos
De armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam
Uma antiga lição:
De morrer pela pátria
E viver sem razão
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Somos todos soldados
Armados ou não
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não
Os amores na mente
As flores no chão
A certeza na frente
A história na mão
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Aprendendo e ensinando
Uma nova lição
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
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Viva o empoderamento juvenil Desta nossa Grande Pátria Brasil!... - Instituto Humanitas Unisinos - IHU