Por: Cesar Sanson | 22 Junho 2013
"Esse processo é o mesmo pelo qual passaram gerações anteriores em processos de explosão de movimentos de massa, como as que criaram o próprio PT e o fortaleceram ao longo de suas três décadas de vida". O comentário é de Renato Simões, secretário nacional de Movimentos Populares e Políticas Setoriais do PT em artigo no sítio do Partido dos Trabalhadores – PT, 21-06-2013.
Eis o artigo.
Para milhares de jovens, trata-se da primeira experiência de participação política para além das redes sociais, em que muitos encontraram até então sua forma de expressão cidadã.
O Brasil inteiro foi polarizado nas últimas semanas pela importante retomada do movimento de massas a partir da juventude e tendo como eixo a justa luta por um transporte público de qualidade e barato.
Tradicional movimento organizado há anos, o Movimento do Passe Livre comandou manifestações históricas que com certeza chacoalharam a poeira dos partidos, governos e movimentos sociais de esquerda do país. Sem o glamour criado pela mídia privada nos últimos dias, o MPL foi testado em anos de luta por suas teses, que sempre contaram com o respeito da militância petista da área de transportes e da nossa juventude. Autonomista, o MPL soube conviver com diferentes orientações políticas no seu interior e nas manifestações por ele convocadas.
Sua persistência e seriedade permitiu com que colhesse importantes frutos deste trabalho: além da conquista imediata da revogação do reajuste de tarifas dos ônibus, trens e metrô de São Paulo, nacionalizou os eixos de sua elaboração, ampliou sua influência para outros estados, galvanizou a sociedade civil e pautou temas para lá de relevantes que se tornaram obrigatórios. Financiamento do transporte coletivo, participação popular na fiscalização e controle social das políticas públicas de transporte, qualidade de vida nas grandes cidades e centros metropolitanos, reforma urbana… o país com certeza agradece!
As tentativas de sedução da mídia privada foram muitas, com certeza. Principal bastião da oposição política a Dilma e ao PT, a mídia privada foi perspicaz ao perceber a legitimidade e a força do movimento detonado a partir do MPL e que o ultrapassou quanto à dimensão e diversificação de reivindicações. Mudou sua tradicional orientação, adotada inicialmente, de estigmatizar, desmoralizar, criminalizar os movimentos sociais. Tudo o que sempre ouvimos nesses meios oligopolizados de comunicação contra greves, ocupações de terras, passeatas e obstrução de vias públicas por manifestantes foi assacado contra o MPL e suas primeiras manifestações.
Da violenta e vergonhosa repressão da PM de São Paulo, há uma semana, mudou a cor do noticiário: os valentes cara-pintadas do século XXI estavam nas ruas para demonstrar todo o seu descontentamento com o País, com a corrupção, com a Copa do Mundo, com a saúde e a educação. De repente, cessou a repressão em São Paulo. A PM, cujo comandante-geral sugeriu ao MPL a inclusão da pauta da prisão dos mensaleiros como seu eixo principal, saiu das ruas, das praças, das avenidas, da frente da Prefeitura de São Paulo, e os atos de violência, vandalismo e intolerância foram aumentando em escala exponencial. Para a mídia, focos isolados de radicalismo: pau neles! Mas a visão geral do movimento continua positiva, emissoras de rádio divulgando as manifestações, redes de TV transmitindo-as ao vivo, editorialistas sempre hostis dando conselhos ao movimento, paternalmente.
Como todo movimento social, era de se esperar que a conquista da sua principal exigência - revogação dos aumentos de tarifas e continuidade do debate sobre financiamento e qualidade do transporte público - fosse comemorada intensamente e desse fôlego para novos embates. Não foi, no entanto, o que se verificou. A comemoração convocada pelo MPL nesta 5a feira foi turvada por uma violência inaudita contra tradicionais parceiros do MPL, propaganda de chavões típicos da direita - onde até a redução da maioridade penal ganhou destaque - e atos de vandalismo.
Uma direção oportunista poderia comportar tão grandes contradições. A primeira reação do MPL foi prova de sua seriedade: ressaltou clara e abertamente que “militantes de extrema direita querem dar ares fascistas a este movimento”, conforme declaração de um de seus dirigentes ao final do ato de comemoração na Paulista. Será necessária uma avaliação do que será o movimento a partir da conquista que tiveram.
O fato é que centenas de manifestantes foram constrangidos, xingados, agredidos fisicamente, por irem com suas cores partidárias às passeatas de várias cidades do país. Lideranças políticas de várias matizes da esquerda, presentes em movimentos sociais desde tempos imemoriais, foram constrangidos a se retirar de manifestações que foram apoiar. O ódio anti-petista é uma derivação de uma aversão à política e aos partidos, mas é uma demonstração direta de que parte dos manifestantes pouco se importam com as reivindicações sociais que as movem: querem transformá-las em palco para desgastar o governo federal e a Presidenta Dilma.
Alguns especulam que tramam um golpe. Outros situam o seu objetivo na tentativa de viabilizar um segundo turno das eleições de 2014, frente à fragilidade da oposição ao PT. Mas o fato é que hoje não se pode mais deixar de constatar que, de isolados e fortuitos, os atos de violência e vandalismo têm muito pouco.
Para milhares de jovens, trata-se da primeira experiência de participação política para além das redes sociais, em que muitos encontraram até então sua forma de expressão cidadã. Haverá é claro um natural momento de reflexão sobre essa nova prática social, inédita para a maioria, e com certeza o fortalecimento da consciência social e das opções políticas dessa nova militância. Esse processo é o mesmo pelo qual passaram gerações anteriores em processos de explosão de movimentos de massa, como as que criaram o próprio PT e o fortaleceram ao longo de suas três décadas de vida.
A seleção natural das opções políticas e político-partidárias para a juventude que se expressa neste momento será feita sem dúvida, consolidando valores na cabeça em amadurecimento de grandes parcelas de manifestantes. Essa juventude novata nas manifestações de hoje será dirigente dos rumos da Nação no futuro, já fazendo história no presente.
Por isso, foi correta a atitude do PT, bem como sua leitura positiva, deste processo. Correta também nossa decisão de participar e disputar os rumos destes movimentos. Corajosa a decisão de quem manteve altas suas bandeiras e moral mesmo quando vítimas da agressão truculenta dos provocadores de direita nas manifestações. Digna a atitude do MPL de diferenciar-se do obscurantismo político de parte dos manifestantes. E positiva e esperançosa a atitude de nossos governos de abrir-se à negociação e ao entendimento democrático desse processo.
Temos autoridade política e moral para participar de forma protagonista neste momento. Separar o joio do trigo é o que a sociedade brasileira, em maior ebulição que antes, começará a fazer a partir do juízo que constrói sobre todos esses acontecimentos.
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"Hora de separar o joio do trigo" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU