18 Mai 2013
Em uma temporada em que o diálogo ecumênico parecia irremediavelmente arrefecido por múltiplos sinais que contradiziam o caminho para a comunhão, o encontro do Papa Francisco e do Patriarca Bartolomeu I desperta novamente a esperança de uma nova primavera.
A opinião é do monge e teólogo italiano Enzo Bianchi, prior e fundador da Comunidade de Bose, em artigo publicado no jornal La Stampa, 15-05-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
Quando ele ouviu que o Papa Francisco, recém-eleito, enfatizava o fato de ser "bispo de Roma, a Igreja que preside na caridade", o Patriarca Ecumênico Bartolomeu I não hesitou e decidiu que iria a Roma – primeiro arcebispo de Constantinopla a fazê-lo depois da separação em 1054 – para a liturgia do início do pontificado.
E assim foi, oferecendo aos cristãos e ao mundo um sinal tangível de como a caridade fraterna pode superar desconfianças, cálculos de oportunidade, antigos motivos de atrito.
Eu tive o dom de poder falar durante muito tempo pessoalmente com o patriarca Bartolomeu em Roma, antes de participar da missa na Praça de São Pedro e, depois, de ser recebido pelo Papa Francisco: o sentir comum, o sofrimento compartilhado pelo atraso em restabelecer a unidade visível dos cristãos, a esperança de uma temporada renovada de diálogo e de fraternidade marcaram aqueles momentos, assim como animaram as horas passadas pelo patriarca em Bose em uma tarde de graça para a minha comunidade e para aqueles que quiseram compartilhar a alegria e a oração daquele momento.
No seu encontro com o Papa Francisco, Bartolomeu I usou palavras que expressam uma síntese de todo o ministério patriarcal exercido por 22 anos e que vê a unidade das Igrejas cristãs como "a primeira e mais importante das nossas preocupações" e "seguramente um dos pressupostos fundamentais para que o nosso testemunho cristão possa ser crível aos olhos dos perto e dos de longe".
Por outro lado, até mesmo a acolhida reservada a ele pelo Papa Francisco foi além da forma protocolar – como já percebemos que é uma prática constante do novo papa – para dirigir-se ao patriarca com toda a espontaneidade com o nome de "meu caro irmão André", reconhecendo assim publicamente o vínculo fraterno que, na única fé apostólica, une a sede da antiga Roma à de Constantinopla, "Nova Roma".
Em uma temporada em que, apesar de todos os sinceros esforços por parte de muitos cristãos de boa vontade pertencentes a diversas confissões, o diálogo ecumênico parecia irremediavelmente arrefecido por múltiplos sinais que contradiziam o caminho para a comunhão, esses eventos muito recentes despertam novamente a esperança de uma nova primavera.
A simplicidade evangélica do novo papa, que o patriarca já teve a oportunidade de apreciar, poderá contribuir muito para a melhoria das relações fraternas entre as Igrejas, começando por uma reflexão sobre o ministério do bispo de Roma e sobre a modalidade do seu exercício no rastro da tradição dos primeiros séculos da Igreja: redescobrir o significado autêntico e as implicações atuais do "presidir na caridade" – segundo as palavras de Santo Inácio de Antioquia retomadas pelo Papa Francisco – poderia transformar o ministério petrino de causa de divisão a elemento de comunhão que favorece a unidade.
Analisando o momento histórico atual, também deve ser lembrado que o patriarcado de Constantinopla está vivendo em um contexto social e político em que não são poupadas provações e humilhações, e muito recentemente também ameaças e perigos para a própria incolumidade física do patriarca. Porém, o esforço cotidiano de Bartolomeu I é o de fazer da cruz uma ocasião de comunhão e da fraqueza material a verdadeira e única força capaz de transmitir ao mundo a verdade da mensagem cristã: uma obra humilde e tenaz que o patriarca persegue desde o início do seu ministério primacial, quando quis reiterar que o Patriarcado Ecumênico era "uma instituição puramente espiritual, um símbolo de reconciliação e uma força desarmada".
E, na consciência da sua própria fragilidade, de um lado, e, por outro, na assunção resoluta de responsabilidades de grande fôlego, há, finalmente, um outro elemento que aproxima as sensibilidades e as intenções do Papa Francisco e do Patriarca Bartolomeu: a solicitude pela criação, a custódia do mundo em que vivemos, a solidariedade com as outras cocriaturas com as quais compartilhamos o espaço vital, esta nossa terra tão ferida e ameaçada.
Busca da unidade visível dos cristãos, testemunho da "graça preciosa", que é o tesouro de quem "segue pobre o Cristo pobre", responsabilidade pela humanidade e pela criação inteira são os eixos do ministério pastoral do Patriarca Bartolomeu e são âmbitos que o papa que veio "do fim do mundo" para assumir o sugestivo nome de Francisco também considera como essenciais para o anúncio evangélico da misericórdia, para a abertura de horizontes de esperança e de luz para os homens e as mulheres do nosso tempo e para as gerações futuras.
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Francisco e Bartolomeu: a primavera ecumênica. Artigo de Enzo Bianchi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU