09 Mai 2013
O Átrio dos Gentios volta com energia depois da eleição do Papa Francisco. São inúmeros os encontros previstos e que veem o cardeal Ravasi dirigir-se para o México e o cardeal Poupard (emérito do dicastério vaticano para a Cultura) abrir na última terça-feira em Bolonha o primeiro Átrio dedicado a um personagem. Nesse caso, Jean-Jacques Rousseau está no centro das atenções. Mas vejamos as coisas de perto, começando justamente pela cidade da Emilia-Romagna.
A reportagem é de Armando Torno, publicada no jornal Corriere della Sera, 06-05-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O célebre filósofo genebrino, que gostava de lutar contra todos os seus contemporâneos e era odiado por Voltaire, acabará sob as lentes dos oradores que irão examinar "A visão de Deus em Rousseau". Se, de um lado, haverá considerações sobre as raízes cristãs desse pensador iluminista que já antecipava os temas românticos, de outro se falará do corpus dos seus escritos.
Além disso, novos aspectos surgiram com a recente edição completa das obras, cheia de inéditos e de surpresas (há um artigo de Raymond Trousson que dirigiu o empreendimento para a editora Honoré Champion). O Átrio coloca em confronto as interpretações de um filósofo que influenciou como poucos outros a modernidade e ao qual estamos continuamente ligados por questões pedagógicas e religiosas. A atriz Anna Bonaiuto lerá trechos do Emílio, além de escritos políticos.
O cardeal Poupard fará uma palestra que retoma, dentre outras coisas, julgamentos de Maritain ("l'indolent Jean-Jacques..."), que põe em relação o pensador com João Paulo II (e marca as notáveis diferenças que os separavam). Ele destaca que "Rousseau vivia, de fato, uma religião a seu modo", mas o agradece porque, a três séculos de distância, ele ainda nos convida a fazer perguntas de alma e consciência.
O cardeal Ravasi nos confidenciou a propósito: "Esse encontro de Bolonha é o primeiro de uma série em que proporemos, em um Átrio dos Gentios ideal, o envolvimento de grandes figuras do pensamento das quais há profundas marcas no presente. O Rousseau de Bolonha será seguido em junho, em Marselha, por outro encontro em que dialogarão, em terceira pessoa, Camus e Ricoeur no centenário comum do seu nascimento". Em suma, depois de três séculos, o autor de O contrato social repropõe questões que dizem respeito à fé, além da democracia, da educação, dos direitos.
É significativo que esse primeiro Átrio sobre um filósofo tenha nascido em colaboração com a Genus Bononiae [percurso cultural], realidade de Bolonha que, nestes anos, tornou-se uma referência de cultura internacional. Os momentos dedicados a Rousseau serão transmitidos no site Cortiledeigentili.com e poderão ser revistos em Genusbononiae.it.
E, enquanto em Bolonha interroga-se sobre Rousseau, Ravasi leva o debate do Átrio para o outro lado do oceano. Pela primeira vez, também neste caso. "A Cidade do México – nos lembra o purpurado – terá dois eventos de relevo. O primeiro diz respeito à Conferência Episcopal Mexicana, que irá se reunir comigo no Museu Soumaya, inaugurado recentemente. E, nesse âmbito, eu irei abordar o tema da educação, de particular importância neste período. Não apenas para a instrução ou a presença de universidades católicas, mas também para a formação de uma nova geração diante do grande drama do crime organizado, verdadeira doença da sociedade. O segundo está ligado à figura de um pensador importante da América Latina, o filósofo Guillermo Hurtado. Vou debater com inúmeros pesquisadores da Universidade da Cidade do México, aos quais oferecerei uma reflexão sobre o tema da sabedoria, sobretudo nas suas grandes matrizes originárias das culturas antigas, buscando evidenciar as suas tantas iridescências. Depois, não faltará um encontro restrito – o programa fala da Universidade Unam – com intelectuais de alto perfil sobre o delicado tema da relação laicidade e religião".
Ravasi, depois, prossegue para Puebla, emblema da cultura crioula, isto é, da fusão entre a arte espanhola e as formas expressivas indígenas. "Na sua universidade – acrescenta – vou receber o doutorado honoris causa e realizarei uma lectio sobre a relação entre universidades, cultura e religião. Aqui está a biblioteca Palafox, a mais rica em textos antigos do mundo latino-americano".
Por fim, será a vez de Monterrey, cidade industrial por excelência do México. E ainda Ravasi: "Em uma universidade tecnológica, realizarei uma conferência-conversa com estudantes e professores sobre o diálogo entre crentes e não crentes".
O debate do Átrio continua. Em Bolonha, com o "novo" Rousseau, no México sobre os milhares de temas que a fé traz à tona. Na segunda metade do ano, será a vez de Varsóvia, Praga, Berlim.
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Átrio dos Gentios: a Igreja se encontra com Rousseau - Instituto Humanitas Unisinos - IHU