01 Mai 2013
Inúmeros são os católicos que, em desacordo com a hierarquia, se afastaram brutal ou insensivelmente da Igreja. Mas há também aqueles que não estão de acordo e continuam sendo não apenas praticamente, mas também comprometidos com a vida da Igreja. Como conseguem?
A opinião é da jornalista e escritora francesa Monique Hébrard, autora de Jésus ou le désir amoureux. Trente-sept méditations (Ed. Desclée de Brouwer). O artigo foi publicado no sítio da revista Témoignage Chrétien, 28-04-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
Os desacordos de inúmeros católicos com a hierarquia não faltam! E a comemoração dos 50 anos do Concílio reaviva a nostalgia pelo que não aconteceu.
O que aconteceu com a Igreja em que todos os batizados são iguais em dignidade e providos de sensus fidei? O que aconteceu com a colegialidade de governo da Igreja? O que aconteceu com aquele "diálogo" com o mundo, ardentemente desejado por João XXIII? O que aconteceu com o reconhecimento do primado da consciência? A lista poderia continuar...
No que diz respeito a abandonar a Igreja ou a ficar nela, o problema é complicado e demanda nuances. É por meio do batismo que entramos na Igreja. E se cerca de mil pessoas saem todos os anos pedindo para serem "desbatizadas", para a maioria o batismo é indelével.
Muito mais numerosos são aqueles que, sem se separar oficialmente pela Igreja, já se afastaram brutal ou insensivelmente.
Brutalmente no dia em que se sentiram julgados, rejeitados, excluídos, porque não viviam de acordo com as prescrições do magistério em matéria de moral familiar e sexual. O grande êxodo começou com a saída em massa das mulheres depois da encíclica Humanae Vitae, em 1968. São incontáveis os divorciados que se afastaram no mesmo dia em que se casaram novamente, as mulheres que abortaram ou os casais que se lançaram na aventura da reprodução medicamente assistida. Abandonaram a Igreja ou foi a Igreja que os rejeitou?
Os últimos em ordem de tempo a se afastarem são casais de homossexuais cristãos, ofendidos. Em vez de consultar e de escutar as suas associações antes de falar, os bispos em grande parte promoveram a "Manifestação para todos" e os ignoraram. E aqueles que escreveram ao cardeal Vingt-Trois para contar-lhe a sua experiência e o seu sofrimento não receberam nenhuma resposta. Alguns, já feridos pela oração do dia 15 de agosto, e não suportando mais ouvir os repetidos convites para participar da Manifestação, deixaram de ir à missa.
Decisivamente rejeitados são todos aqueles leigos comprometidos a serviço de uma paróquia, ignorados por um novo padre que impõe os "seus" fiéis e os seus métodos. Insensivelmente, outros se afastaram... por fidelidade ao Evangelho, que não reconheciam mais naquele modo de agir e nas palavras da hierarquia.
Permaneceram católicos todos aqueles brutalmente excluídos ou insensivelmente afastados? Só a sua consciência interna pode dizer. Não praticam mais, não se reconhecem mais nas posições do Magistério, mas continuam às vezes utilizando instrumentos e lugares da tradição e da estrutura católica: grupos de reflexão ou de leitura do Evangelho, compromisso com um movimento de caridade ou outro, frequentação em mosteiros, rotas de peregrinação. Uma minoria chega a mudar de Igreja, passando para os protestantes ou para os ortodoxos. Os tempos mudaram! Os critérios para "permanecer católico" se conjugam infinitamente.
Mas há também aqueles que não estão de acordo e continuam sendo não só praticantes, mas também comprometidos na vida da Igreja. Como conseguem? Ou trabalham com um padre ou com alguns padres que acompanham o seu mal-estar, ou estão em um grupo em que se ajudam mutuamente, encontram recursos e militam em outros lugares; ou mantêm um perfil baixo, exercitando-se na santa paciência e instalando uma barreira de proteção entre a sua consciência e as injunções do Magistério. No estilo dos tempos, aceitam algumas, ignoram outras.
E, secretamente, sonham com um novo papa que não promulgue mais as suas leis e que dê à Igreja um rosto de misericórdia.
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Permanecer católicos. Artigo de Monique Hébrard - Instituto Humanitas Unisinos - IHU