Por: Cesar Sanson | 16 Abril 2013
Os panelaços e protestos oposicionistas ecoaram na noite desta segunda feira nos bairros de maior poder aquisitivo da capital. Uma manifestação na elegante praça Altamira reuniu cerca de duas mil pessoas. Dependendo do comportamento governamental, tais ações podem crescer ou não. O que pode impulsionar os protestos? Várias coisas, em especial a situação econômica. Esse é um dos principais desafios de Nicolas Maduro. O comentário é de Gilberto Maringoni em artigo publicado na Carta Maior, 16-04-2013.
Eis o artigo.
Henrique Capriles denuncia fraude na eleição venezuelana e pede recontagem de votos.
Qual a base real das suspeitas?
Não se registraram ocorrências sérias de sessões com mais votos que o número de eleitores ou alterações significativas nos resultados de regiões nas quais teoricamente a oposição teria mais força. Aliás, a grande surpresa do pleito reside no fato de Capriles ter vencido em sete Estados de um total de 23. São quatro vitórias além daqueles obtidas pelo antichavismo nas eleições para governadores, em dezembro. Um bom panorama da distribuição regional dos votos está neste infográfico.
Capriles venceu em regiões onde não era favorito. É difícil dizer que houve mão grande nesses lugares.
Diferença mínima
O problema central está na diferença entre as votações dos dois candidatos, 1,73%. Se a distância fosse de algo em torno de 10%, difícilmente se falaria em fraude. Ela se dá não pela suspeita, mas pelos números finais. E pode prosperar se o governo não sair da defensiva.
Maduro, em coletiva de imprensa nesta segunda, tratou a oposição como se fosse facção inexpressiva na sociedade. Acusa-a de golpista. Muitos de seus membros realmente o são. Capriles apoiou o golpe de 2002. Mas a situação agora é outra.
Mudança de tática
Tendo se isolado interna e externamente após a desastrosa investida de 11 anos atrás, a direita venezuelana, a partir de 2006 resolveu aceitar as regras do jogo e apostou na dinâmica das urnas. Ganhou em 2007 e obteve sua melhor marca agora.
Perder numa disputa acirrada por margem mínima mexe com os brios de qualquer um. Ninguém merece, ainda mais, levando-se em conta – como até alguns chavistas admitem – que se as eleições fossem realizadas três ou quatro dias depois, possivelmente Capriles levaria.
Espernear, denunciar e investir no desgaste do governo e do Conselho Nacional Eleitoral faz parte do jogo. O oposicionista sabe que se endurecer, consolida a liderança entre seus apoiadores. E ganha musculatura para pedir a convocação de um referendo revogatório daqui a três anos. O mecanismo constitucional pode ser convocado por quem conseguir recolher assinaturas de 20% dos eleitores registrados após o transcurso da primeira metade da gestão do administrador em questão.
Mas tem pouca autoridade para fazê-lo. Nas eleições para gobernador, em dezembro, Capriles elegeu-se no estado de Miranda. Obteve 50,35% do total, com apenas 28 mil votos a mais do que o chavista Elias Jaua. Não achou que ali houve fraude, num sistema eleitoral em que Chávez já saiu derrotado em um referendo realizado em 2007.
Os panelaços e protestos oposicionistas ecoaram na noite desta segunda feira nos bairros de maior poder aquisitivo da capital. Uma manifestação na elegante praça Altamira reuniu cerca de duas mil pessoas. Dependendo do comportamento governamental, tais ações podem crescer ou não.
Impulsionando protestos
O que pode impulsionar os protestos? Várias coisas, em especial a situação econômica.
As contas da Venezuela não vão mal, ao contrário do que a mídia propaga. O total das exportações do país alcancou US$ 97 bilhões, em 2012. As importações somaram US$ 59 bilhões. O saldo foi de US$ 38 bilhões, segundo dados do Banco Central. O Brasil, no mesmo período, teve um saldo de apenas US$ 19 bilhões. Ou seja, trata-se de uma economia superavitária. Não faltam dólares.
Mas há um surto inflacionário que alcança 30% ao ano, decorrente de uma série de fatores. Um deles é uma forte especulação cambial (a taxa oficial está em 6,5 bolívares por dólar, quadruplicando no mercado paralelo). Outro resulta por uma pressão de demanda, propiciada pela elevação geral de salários e queda do desemprego. Uma extemporánea desvalorização cambial em fevereiro, para compensar os efeitos da inflação, gerou descontentamentos generalizados.
Ineficiência
Some-se a isso uma série de ineficiências no funcionamento dos serviços públicos e a realização de três processos eleitorais em seis meses. Tudo isso junto ajuda a explicar o desgaste enfrentado pelo chavismo, mesmo com o clima de comoção nacional advindo da morte de seu líder maior.
Maduro sabe desses problemas e afirma priorizar sua resolucao. Capriles bateu nessa tecla ao longo da campanha.
Esse caldo de cultura – o descontentamento popular – pode servir de combustível para a campanha incentivada por Capriles nas ruas. Se prosperará ou não é algo que depende muito da habilidade do governo para se renovar, reestruturar métodos administrativos e se colocar como uma gestão de todos os venezuelanos e não apenas dos eleitores de Nicolás Maduro.
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Os difíceis "days after" venezuelanos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU