08 Abril 2013
Matteo Ricci em Mountain View. O jesuíta que foi apóstolo da China e, ao mesmo tempo, mestre na arte da memória se transfere para a cidade californiana, onde fica a sede do Google, a empresa que ambiciona a dar estrutura eletrônica ao desejo de um saber ordenado e coerente. Tudo bem, chega de metáforas, mesmo se, com efeito, a ocasião se presta a isso. La Civiltà Cattolica, histórica revista da Companhia de Jesus, se renova. E o faz também graças a um acordo com o Google, que está iniciando o processo de digitalização de todo o arquivo da revista quinzenal. Desde o primeiro fascículo, lançado no dia 6 de abril de 1850.
A reportagem é de Alessandro Zaccuri, publicada no jornal Avvenire, dos bispos italianos, 05-04-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
"Queríamos que o novo percurso da revista iniciasse na mesma data, mesmo que a uma distância de 163 anos", destaca o diretor, padre Antonio Spadaro, crítico literário e teórico da ciberteologia, disciplina que parte de uma pergunta de enganosa simplicidade: de que modo é possível pensar Deus na era da informática?
Eis a entrevista.
O acordo com o Google deve lhe agradar muito, eu imagino.
Não poderia ser de outra forma. Desse modo, de fato, será possível pôr à disposição de todos, e gratuitamente, um patrimônio extraordinário. Não esqueçamos que a nossa revista é a mais antiga entre as revistas italianas que nunca interromperam sua publicação. E é – quero enfatizar – uma publicação que, desde o início, tem na inovação o seu traço característico.
A que se refere?
Em meados do século XIX, de fato, não era normal que uma revista eclesiástica adotasse uma língua nacional em lugar do latim. Neste caso, tratava-se da língua de uma nação que, na verdade, ainda não existia. O nascimento da Civiltà Cattolica, desde cedo muito atenta às vicissitudes italianas, de fato, precede ao do Estado unitário. Desde o início, há uma novidade de olhar e de linguagem, que anda de mãos dadas com o interesse pela tecnologia.
O senhor não está exagerando?
Nem um pouco. Poucos anos depois do nascimento da revista, os padre da Civiltà Cattolica adquiriram da Inglaterra uma máquina tipográfica de última geração, que permitia manter-se no ritmo da crescente demanda de cópias.
Hoje, ao invés, a revista se desloca para o ambiente digital.
Sim, mas sem esquecer que nos encontramos em uma fase de transição e, consequentemente, o entusiasmo absoluto pela tecnologia seria igualmente parcial, assim como a rejeição apriorística em benefício do papel. A partir de amanhã, em suma, a Civiltà Cattolica estará disponível como "aplicativo" para os tablets de todas as plataformas. Essa, para nós, já é uma escolha significativa: é o sinal de que nos dirigimos a todos, com a maior abertura possível. Ao mesmo tempo, contudo, queríamos que o preço da assinatura digital fosse o mesmo da edição impressa (a qual, aliás, permite o acesso aos apps recém descritos). É um convite a não enfatizar a passagem, que continua sendo importante. Do nosso ponto de vista, não se trata simplesmente de adotar a instrumentalização tecnológica mais atualizada, mas sim de nos interrogarmos sobre qual pode ser o papel de uma revista cultural neste momento histórico particular.
O que muda na nova Civiltà Cattolica?
Há uma reforma gráfica, que vem depois de mais de 40 anos da anterior, datada de 1971. O objetivo, no qual trabalhamos com o gráfico Turi Di Stefano, era de não subverter a imagem da revista e de fortalecer, ao contrário, a referência à tradição. Escolhemos uma fonte tipográfica muito fina, realizada em open source, muito utilizada nas publicações científicas e, além disso, dotada de um nome sugestivo: Cardo. Caro salutis est cardo, escrevia Tertuliano. A carne é o eixo da salvação. E, depois, pela primeira vez, na capa, aparece o brasão da nossa casa romana: os dois Cs de Civiltà Cattolica entrelaçados com a típica Cruz inaciana. Um elemento tradicional, mais uma vez, que também é um logotipo de extrema modernidade.
Novidades apenas formais?
Nem um pouco. Os conteúdos foram remodulados para tornar a revista mais apta às exigências atuais e para favorecer ainda mais o debate com o mundo secular. Sabemos que, já agora, entre os nossos leitores, há muitos não crentes e pensamos que esse fenômeno pode ser ainda mais favorecido pela temporada que a Igreja está vivendo.
Também graças ao papa jesuíta...
Circunstância providencial, com a qual nos alegramos. Mas o repensar da revista havia iniciado muito antes. De fato, em 2006, foi justamente Bento XVI, durante uma audiência privada com a redação, que reiterou que, "para ser fiel à sua natureza e à sua tarefa", a revista era chamada "renovar-se continuamente".
Os conteúdos, dizíamos.
As "Crônicas", que até agora constituíam um encontro habitual, desaparecem e são substituídas pelos "Focos". No lugar de um resumo dos eventos ligados à vida da Igreja, da política italiana e da internacional, os leitores encontrarão aprofundamentos mais amplos, que tocarão os mesmos temas e incluirão novos, entre os quais a análise da economia e dos fenômenos sociais. Uma coluna fixa também será dedicada à "Vida da Igreja", a qual, nas últimas semanas, os meios de comunicação de todo o mundo começaram a olhar em uma perspectiva interessante, caracterizada por uma maior atenção ao anúncio do Evangelho. Mais frequentes também serão os espaços dedicados ao "Perfil" de figuras relevantes ou à entrevista: é uma forma, dentre outras, de enriquecer os pontos de vista presentes na Civiltà Cattolica, cujos artigos continuam sendo obra dos "escritores", todos jesuítas.
Um convite ao diálogo?
Não é o único. Apontamos muitos também à oportunidade de interação oferecida pelas redes sociais. A página no Facebook e o perfil no Twitter da Civiltà Cattolica estão destinados a assumir uma importância cada vez maior, assim como a valorização do arquivo também sob a forma de livros instantâneos digitais. Em todo caso, repito, o que é posto em causa não são os instrumentos ou os suportes, mas sim a ideia de revista, a visão de mundo que uma obra como essa expressa.
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A revista dos jesuítas conquista o Google. Entrevista com Antonio Spadaro - Instituto Humanitas Unisinos - IHU